2017-03-31 12:37:09
Tratamento é mais eficaz e traz menos efeitos colaterais.
A dermatite atópica costuma aparecer na infância, em geral no primeiro ano de vida, e se manifesta nas dobras dos braços, do pescoço e da parte de trás dos joelhos.
Uma nova opção de tratamento para pacientes com dermatite atópica deve chegar ao mercado no próximo ano. O Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora de remédios dos Estados Unidos, aprovou nesta terça-feira, 28, a liberação de uma injeção que promete combater a inflamação e a coceira na pele – em quatro meses, 39% dos pacientes já não tinham lesões. A aprovação pelo FDA é o primeiro passo para que o tratamento chegue ao Brasil.
Dermatite atópica é o nome dado à doença crônica de pele marcada por coceira incontrolável, inflamação na forma de manchas avermelhadas, ressecamento e surgimento de crostas espalhadas pelo corpo. Após arranhá-las, o paciente abre lesões que soltam prurido e sangue, o que torna o local uma porta aberta para infecções oportunistas. Tudo por conta de uma resposta exagerada do corpo a qualquer coisa que entre em contato com a pele.
“Em níveis graves, a pele coça 24 horas por dia, o que prejudica estudos, trabalho e relacionamentos”, diz Márcio Cezar Pires, dermatologista chefe do departamento de Diagnóstico e Terapia de Dermatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.
As feridas costumam aparecer na infância, em geral no primeiro ano de vida, e podem persistir na vida adulta – apesar de, em 60% dos casos, as lesões desaparecem após a adolescência. A manifestação das lesões, em geral nas dobras dos braços, do pescoço e da parte de trás dos joelhos, pode ser esporádica, causada por uma série de gatilhos (confira abaixo) ou acompanhar a pessoa diariamente.
Há casos em que as feridas são tão grandes que prejudicam a aparência do paciente. “Muitas pessoas não sabem que a dermatite atópica não é contagiosa, o que pode afetar a autoestima de quem tem a doença”, diz Ricardo Shiratsu, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia de São Paulo (SBD-SP). Em outros, a coceira incapacita para atividades do dia a dia, visto que não é possível focar a atenção em qualquer atividade.
Gatilhos para a manifestação de uma crise
- – Excesso de calor, já que a transpiração facilita o ressecamento da pele
- – Excesso de frio, visto que a baixa temperatura promove constrição dos vasos sanguíneos, o que leva menos nutrientes à pele e deixa-a ressecada
- – Banho quente
- – Ingestão de ovos, derivados do leite, castanhas, amendoim, morango e kiwi
- – Contato com etiquetas, pó, perfumes, sabonetes, loções, lã, animais e materiais ásperos
O novo medicamento é uma injeção do princípio ativo dupilumabe, que inibe a resposta inflamatória exagerada do organismo ao estímulo externo e impede que o indivíduo desenvolva coceira e as conhecidas lesões na pele. A diferença dele em relação a outras drogas usadas é não enfraquecer o sistema imunológico deter ação mais efetiva.
Na descrição dos efeitos colaterais mais comuns, estão feridas na boca e nos lábios, inchaço na zona da injeção e inflamação nos olhos e na pálpebra.
Os estudos que fundamentaram a decisão da agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos analisaram os efeitos da medicação em 2.119 voluntários com dermatite atópica média a grave, ante os efeitos do placebo. A maioria teve melhora na pele e presenciou uma redução da coceira após quatro meses de tratamento.
Para ser comercializado no Brasil, o medicamento precisa ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas a empresa responsável pela droga, que terá o nome Dupixent, já tem previsão. “É provável que a chegada do medicamento aconteça em 2018”, diz Luciana Giangrande, diretora médica da Sanofi para a América Latina. O preço ainda não está fechado, uma vez que é definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), um órgão interministerial que fecha o valor com base em vários fatores – entre eles, o preço da droga no exterior.
Causas. “A ciência não sabe definitivamente qual é a causa da dermatite, mas se sabe que é uma mistura de predisposição genética com exposição a fatores ambientais”, diz Ricardo Shiratsu, presidente da SBD-SP.
A hipótese dos especialistas é de que os genes herdados enfraquecem a barreira de gordura que todos temos na pele. Com menor proteção, o paciente fica mais vulnerável à ação de agentes externos. O contato com pó, mofo, ácaros, animais, água quente, perfumes, sabonetes e loções desencadearia uma reação desproporcional no organismo, que os veria como ameaça.
Tratamento. Hoje, o tratamento envolve cuidados diários (veja a seguir), a aplicação de hidratantes e o uso de medicamentos. As drogas podem ser corticoides, anti-histamínicos (inibidores da histamina, um neurotransmissor) e inibidores da enzima calcineurina – usados para enfraquecer o sistema imunológico ou modular a ação de anticorpos, com o objetivo de controlar a resposta do organismo aos agentes que estimulam de forma exagerada as defesas do paciente.
O distúrbio está associado a uma pele seca, o que diminui a barreira de proteção contra agentes externos. Portanto, hidratá-la é o cuidado mais importante a ser adotado. A Associação de Familiares e Pacientes de Dermatite Atópica da Espanha tem um manual com cuidados para o dia a dia. Confira alguns:
Cuidados diários
- – Hidratar bem a pele, para fortalecer a barreira cutânea
- – Evitar banhos quentes, que agridem a pele
- – Evitar a exposição a pó e mofo, desde tapetes a bichos de pelúcia
- – Evitar o uso de tecidos como lã e preferir roupas de algodão
- – Não se coçar, para evitar o aumento das lesões na pele
- – Manter a temperatura amena em casa
- – Uso de sabonetes de origem vegetal, sem corantes e conservantes