2017-04-05 13:25:53
Com a saturação dos mercados no Sul e Sudeste do País, as grandes do ramo voltam os olhos para o Norte e Nordeste, o que estimula união das empresas locais para sustentar o patamar de vendas
São Paulo – O cenário do varejo farmacêutico no Nordeste mudou radicalmente nos últimos anos, com a entrada de redes do Sudeste e a necessidade dos lojistas locais de se adaptarem ao aumento da concorrência. Daqui para frente, a tendência é que a competição se acirre ainda mais e que o movimento replique no Norte do País.
“No Nordeste, o crescimento das grandes redes – como Raia Drogasil e Drogaria São Paulo Pacheco – é consistente, mas o Norte ainda não está dominado. É um território onde o setor tem potencial para crescer bastante nos próximos dois anos”, afirma a consultora independente, Silvia Osso.
De acordo com a especialista, que trabalhou por 29 anos na Drogasil, as redes de grande porte estão, por enquanto, fazendo um experimento na região. “Primeiro elas vão ‘conquistar’ o Nordeste, para depois ir com mais força para o Norte.”
A visão é comprovada pelos dados do último balanço financeiro da Raia Drogasil, referente ao quarto trimestre de 2016. De acordo com o demonstrativo, a participação de mercado do grupo no Nordeste cresceu para 5,4% no período, ante uma fatia de 2,7% no quatro trimestre de 2015. Na região, a rede possui 98 lojas, enquanto no Norte não há nenhuma operação.
Dos grandes grupos do setor, o que possui maior participação no Norte é a Pague Menos. A rede, que surgiu em Fortaleza (CE), tem expandido cada vez mais para estados do Norte. Segundo dados do balanço do quatro trimestre de 2016, a participação da companhia na região subiu 1,9 ponto percentual entre o final de 2015 e o final do ano passado, para cerca de 11%.
De acordo com o CEO da rede, Mario Queiróz, o objetivo da companhia neste ano é seguir expandindo para todo o Brasil. A respeito da região Nordeste, o executivo comenta que de fato houve um acirramento grande da concorrência nos últimos anos, o que ele credita a “saturação do mercado de regiões com maior poder aquisitivo, como o Sudeste.”
O presidente da rede associativista Multmais, com forte atuação na Bahia, Cléber Magalhães, também aponta para um cenário de crescimento da competição na região. Ele sinaliza também que a tendência para os próximos anos é que o quadro se agrave ainda mais. “Temos que estar preparados, já que as redes maiores – que antes expandiam apenas para grandes centros -, têm buscado também cidades pequenas. O desafio será grande”, afirma.
No estado do Sergipe, a entrada de grandes players também tem modificado o varejo local e estimulado, por exemplo, o surgimento do associativismo. Lançada em março deste ano, a Sergifar é um exemplo disso. “O Nordeste virou uma rota de expansão para as grandes redes. Por isso estamos nos reunindo: para nos fortalecer, aumentar o poder de negociação e, com isso, tornar nossas lojas mais competitivas”, afirma o presidente da rede, Alex Cavalcanti Garcez. Segundo ele, essa é a única saída para as farmácias independentes sobreviverem na região.
O grupo, que possui hoje 21 lojas associadas, trabalha principalmente com o modelo de drugstore, mas, segundo Garcez, os preços são de farmácias populares. “Temos um perfil aqui que chamamos de ‘farmácia de trabalhador’, que só vende genéricos e equivalentes. Cresceu muito esse modelo no Nordeste, principalmente no Sergipe, e por isso precisamos dar bastante desconto”, diz.
Perfil do consumidor
A necessidade se dá, na visão de Garcez, pelo perfil do consumidor de medicamentos do Nordeste, que busca muito por preços. Ele afirma que “o cliente pesquisa muito e compra onde achar mais barato.”
A consultora especializada no setor, Silvia Osso, também afirma que as farmácias com um apelo popular e que trabalham muito com preço acabam se saindo bem na região.
De acordo com ela, no entanto, até pela forte presença da Pague Menos, ficou muito marcado na cabeça do consumidor a necessidade da conveniência. “Quando chegou o modelo de farmácia popular, a população foi pelo preço, mas se fizermos uma pesquisa o tipo de lojas de preferência ainda é a de conveniência”, diz.
A respeito das perspectivas para a região nos próximos anos, Silvia aponta que a expansão das grandes seguirá forte. “Ainda não está consolidada e a proporção de farmácias é menor que no Sudeste.”
Pedro Arbex