2017-04-13 13:44:44
Em laboratórios, cientistas induziram a formação de células produtoras de dopamina
RIO — Inserir nos pacientes um tipo específico de vírus capaz de reprogramar as células cerebrais. Essa é a proposta de uma equipe internacional liderada por pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, para tratar o mal de Parkinson, que afeta cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo estimativas da Parkinson’s Disease Foundation. Nos testes preliminares em laboratório, os cientistas foram capazes de recapacitar os movimentos de cobaias, num feito pioneiro que aumenta as esperanças para a descoberta de um tratamento da doença.
— Elas (as cobaias) caminharam melhor e o andar mostrou menos assimetrias do que o grupo de controle — disse Ernest Arenas, coautor do estudo publicado nesta segunda-feira na Nature Biotechnology, em entrevista à “New Scientist”. — Este é o primeiro estudo a demonstrar que a reprogramação de células num cérebro vivo pode levar a tais melhorias.
Os pacientes com mal de Parkinson apresentam dificuldades para controlar os movimentos por causa da morte de neurônios que produzem a dopamina. Os tratamentos atuais são baseados em medicamentos que repõem os níveis de dopamina e potencializam o seu efeito, oferecendo controle dos sintomas e melhorando a qualidade de vida. A proposta dos pesquisadores do Karolinska é radical, de uma cura pela recuperação da produção do neurotransmissor.
— A substituição das células que são perdidas no Parkinson é um caminho possível para reverter os sintomas, e um dia pode levar a cura da doença — disse David Dexter, vice-diretor de pesquisas da ONG britânica Parkison’s UK, que não participou dos estudos. — É um estudo robusto onde os autores forneceram boas evidências de serem capazes de transformar astrócitos em células que se parecem com neurônios de dopamínicos.
MELHORA NO CONTROLE MOTOR DE COBAIAS
O tratamento não consegue evitar a morte dos neurônios dopamínicos, nem ressuscitá-los. O que os cientistas conseguiram, em células cultivadas in vitro e em camundongos in vivo, foi reprogramar os astrócitos, as células nervosas mais abundantes, para induzir a produção de dopamina. Eles usaram três proteínas e uma sequência de microRNA para criar um lentivírus inofensivo, batizado como NeAL218.
Nos primeiros testes em células cultivadas, os pesquisadores perceberam a formação de neurônios dopamínicos induzidos, que não são como as células originais, mas realizam a mesma função. Nos experimentos com camundongos, eles perceberam que, após cinco semanas, os animais apresentaram melhorias no controle motor.
— As células nervosas derivadas do astrócito parecem ser muito similares às células dopamínicas perdidas pela doença de Parkison e certamente parecem funcionar de maneira muito similar — opinou Christopher Morris, da Universidade Newcastle. — Dado o número razoável de camundongos usados no estudo, os dados sugerem que o tratamento funciona para esses animais, ao menos no curto prazo.
Os efeitos do vírus foram localizados especificamente nas áreas onde eles foram injetados. Os cientistas não detectaram a transformação de astrócitos em neurônios dopamínicos em qualquer outra região do cérebro, nem sinais de tumores e outros efeitos indesejados.
— Os autores demonstraram que podem usar essa técnica para corrigir alguns, mas não todos os sintomas vistos nesses modelos animais, então claramente existe um caminho a percorrer antes que essa abordagem possa ser usada para compensar completamente a perda de células dopamínicas — disse Patrick Lewis, professor de Neurosciência na Universidade de Reading, no Reino Unido. — Então é importante notar que mover desse estudo para um tratamento com humanos será um grande desafio. Mas essa pesquisa fornece a prova de conceito necessária para os próximos estudos.