2017-09-23 13:00:08
As compras de produtos de cuidados pessoais pelos homens não se restringem mais a lâminas de barbear e desodorantes. Ganham espaço na cesta de compras itens mais sofisticados como cremes faciais multifuncionais, hidratantes e produtos para cabelo. Atenta a esse comportamento, a indústria de cosméticos amplia o portfólio, de olho em um público que deverá gastar R$ 20,8 bilhões neste ano, valor 6,6% maior do que o do ano passado. A expansão do mercado de produtos de beleza para homens nos últimos cinco anos impressiona – de R$ 10,1 bilhões, em 2011, para R$ 19,6 bilhões, no ano passado, segundo a consultoria Euromonitor. Natura e o Grupo Boticário, as maiores fabricantes de produtos de beleza do país, de capital nacional, apostam nesse consumidor mais sofisticado, que foge de rituais complicados e busca conveniência. O brasileiro prefere, por exemplo, um creme para o rosto, a ser aplicado depois da barba feita, que reúna diversas funções: combata rugas, hidrate por mais tempo, proteja do sol, tenha vitaminas e tire o brilho da pele. Ele quer produtos mais práticos pois gasta menos tempo em rituais de beleza do que a mulher: 28 minutos por dia. A mulher, 42 minutos. Segundo Elton Morimitsu, analista sênior da Euromonitor, a oferta desse tipo de produto cresce em ritmo acelerado. As vendas de produtos para a pele podem atingir R$ 9,7 bilhões em 2021, crescimento de 34,6% em relação aos R$ 7,2 bilhões do ano passado. “Os cosméticos ainda enfrentam uma barreira no mercado brasileiro, mas esse tabu está sendo quebrado aos poucos, principalmente pela geração dos ‘millennials’ “, diz o analista, referindo-se a jovens entre 18 e 34 anos. O homem, ao contrário do que se imagina, vem comprando produtos de higiene e beleza por impulso e seu tíquete médio não é baixo – no Boticário, ele gasta, a cada compra, entre R$ 90 e R$ 100. No Boticário, a aposta é que o uso de cremes para a pele, como o multifuncional, seja o primeiro passo para que o consumidor venha a comprar itens de maquiagem. “Nos próximos anos, os homens deverão usar maquiagens para lábios e pele”, diz Paulo Roseiro, diretor de pesquisa e desenvolvimento da companhia. “Temos o desafio de buscar inovação e novas fórmulas para atendê-los”. A Natura também lançou neste ano um creme multifuncional para homens, com toque ultra seco, uma característica bastante apreciada pelos consumidores. Denise Coutinho, diretora da unidade global de perfumaria e presentes, diz que houve um reposicionamento do portfólio pois o público está exigindo mais produtos. Na Natura, diz ela, a fatia de perfumes, desodorantes e produtos para a barba ainda é a maior no segmento de artigos masculinos, mas as vendas de cosméticos para rosto e corpo estão crescendo. A Dow Chemical, fornecedora de insumos para cosméticos, informa que 27% dos homens no Brasil já usam produtos para o rosto. “Está acontecendo uma evolução. Anteriormente, o foco das empresas era a mulher. As fabricantes agora dão mais atenção para as formulações desses itens, pois a textura da pele e a forma de aplicação são diferentes para eles, que estão querendo mais produtos para atender necessidades específicas. A duração da fragrância é um desafio para o setor”, diz Flavia Venturoli, diretora comercial para produtos de consumo da Dow. A preocupação dos homens com a aparência também fomenta o comércio eletrônico. Lojas como Shop4Men e Men’s Market vendem na internet somente produtos para homens. A Men’s Market, controlada pela Glambox, tem contratos exclusivos com L’Oréal, Keune, Paul Mitchell e chegou a criar uma marca própria, a Vito. Esta foi vendida a Pedro Prellwitz, que saiu da Men’s Market. Da web, a Vito migrou para o varejo físico. Tem cinco quiosques em shoppings paulistanos e há planos de expansão pelo país. Prellwitz prevê faturar R$ 3,6 milhões neste ano.