2017-12-18 10:00:08
O mercado farmacêutico segue em ascensão, apesar da perda de ritmo provocada pela crise econômica no país, e as perspectivas para o futuro são promissoras. Mas, para que os laboratórios de capital nacional sigam colhendo resultados como no passado, é preciso buscar novas rotas de crescimento, à medida que a velha fórmula de desenvolver genéricos e similares de medicamentos campeões de venda, os “blockbusters”, começa a dar sinais de esgotamento.
Essa é a conclusão do novo estudo do Boston Consulting Group (BCG), produzido a partir da observação das movimentações e discussões na indústria farmacêutica nacional. “O cenário está longe de ser de crise. Mas, de fato, a fórmula do sucesso de muitos anos não deve mais trazer resultados na mesma intensidade”, diz o sócio do BCG e autor do estudo “Futuro dos Laboratórios Farmacêuticos Brasileiros”, Douglas Woods. Conforme Woods, as farmacêuticas brasileiras, tipicamente de controle familiar, já começaram a buscar fontes alternativas de crescimento diante da desaceleração dos lançamentos de medicamentos líderes pelas multinacionais, que voltaram as atenções e seus recursos ao desenvolvimento sobretudo de medicamentos biológicos. Essas terapias podem ser replicadas, mas a custos e prazo maiores e tecnologias mais complexas.
Para o BCG, há pelo menos sete possíveis vias para garantir expansão futura, entre as quais o desenvolvimento de biossimilares – similar do medicamento biológico. De certa forma, essas possibilidades já começaram a ser mapeadas pelos laboratórios, quando não colocadas em prática. É o caso dos biossimilares, que atraíram nomes de peso como Eurofarma, Biolab, União Química, Aché, EMS e Hypera Pharma, novo nome da Hypermarcas, entre outros. Outra via já explorada é a da inovação incremental, que consiste em identificar novas aplicações para moléculas existentes ou desenvolver uma novidade para produto já lançado (facilitar sua absorção pelo organismo, por exemplo). Com receitas como essas, a Hypera quer que, em cinco anos, seu índice de inovação – medido pelo percentual da receita líquida proveniente de produtos lançados nos últimos cinco anos – chegue a 35%, contra 31,4% atualmente.
Inovação radical, ou em ruptura, também aparece no cardápio de possibilidades elencadas pela consultoria e já testada pela indústria local. Essa rota, menos tradicional no país, pode ganhar novos contornos a partir da exploração da biodiversidade brasileira, conforme indicaram alguns laboratórios, mas esse é um campo menos explorado, explica Woods. Encabeçar um movimento de consolidação da indústria, com a provável união de forças entre fabricantes de genéricos, é apontada pelo BCG como outra estratégia a ser avaliada. “Parece haver condições de consolidação, mas não disposição dos donos de vender”, pondera o autor do estudo. No longo prazo, porém, a tendência é a de que permaneçam duas ou três grandes fabricantes de genéricos, num segmento que exige grandes economias de escala.
Dentre as grandes farmacêuticas brasileiras, a internacionalização das operações é uma realidade e importante aposta para longevidade dos negócios. Recentemente, a EMS comprou uma farmacêutica na Sérvia. A Biolab, por sua vez, abriu um centro de pesquisa e desenvolvimento em Ontário, no Canadá, e tem planos de ali ter também uma fábrica. A Eurofarma já se apresenta como multinacional de origem brasileira, com 12 unidades fabris na América Latina. Diversificar o portfólio, literalmente, pode ser outra avenida para o futuro, mostra o estudo. Vale tanto explorar negócios adjacentes, como os segmentos de bem-estar, cuidados pessoais ou beleza, como investir em áreas não relacionadas à saúde.
No primeiro caso, o risco está associado à necessidade de competências específicas para mercados que, em muitos casos, são disputados pelos gigantes globais de bens de consumo. No segundo, diz o estudo, “o desafio mais duro é a realidade de que existem poucos setores no mundo com a mesma atratividade intrínseca que o farmacêutico“. Conforme Woods, os laboratórios seguem exibindo sólidos resultados financeiros e crescimento – em 2016, o varejo farmacêutico movimentou quase R$ 51 bilhões, considerados os descontos concedidos ao longo da cadeia. E, em linhas gerais, a indústria já se movimenta para pavimentar o futuro. “As iniciativas ainda são incipientes e é preciso adotar postura de longo prazo, para colher resultados que não virão antes de três ou cinco anos”, observa.