2018-08-18 15:00:08
A queda da temperatura favorece coceira e descamação no couro cabeludo. Mas atitudes simples ajudam a evitar a chamada dermatite seborreica (e outros males)
Tem coisa melhor do que um banho quentinho e demorado para espantar o frio do inverno? Pois acredite: enquanto o vapor invade o banheiro, trazendo sensação de conforto, há uma parte do corpo que não fica nada feliz com a situação. Falamos do couro cabeludo. Isso porque a água quente irrita e resseca a área, que, em resposta, passa a fabricar mais e mais sebo. A substância deveria hidratar e proteger a derme, mas, nessas condições, vira um transtorno. Afinal, eleva a oleosidade local, o que abre alas ao aparecimento da dermatite seborreica, a famosa caspa.
“Além disso, alguns xampus têm elementos detergentes mais agressivos. E a água quente aumenta a capacidade de eles removerem a oleosidade. Com isso, podem provocar irritação e ressecamento da fibra capilar”, observa a farmacêutica Maria Valéria Robles Velasco, professora da Universidade de São Paulo (USP).
Para compensar esse déficit, dose extra de sebo entra na jogada — uma ótima notícia para um fungo que já vive nos arredores e adora comer essa gordura. Ele se aproveita da abundância e cresce desenfreado, processo acompanhado da descamação de pele. O resultado é visto nas roupas (principalmente as escuras), que ficam cheias de bolinhas brancas, e no próprio couro, que sofre com inflamação, coceira e vermelhidão.
A relação sazonal é notada pelos indivíduos afetados por essa chatice e confirmada pela ciência. Em estudo veiculado no ano passado pelo British Journal of Dermatology, uma das publicações mais importantes do mundo dermatológico, pesquisadores holandeses avaliaram mais de 5 mil pessoas e concluíram que a dermatite seborreica era duas vezes mais incidente no inverno do que no verão.
E não só por causa da temperatura do chuveiro. “Nessa estação, lavamos menos vezes o cabelo, o que facilita o acúmulo de oleosidade”, aponta o dermatologista Caio Lamunier, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Mas reduzir a limpeza dos fios nem sempre está por trás da encrenca. “Quem lava o cabelo todo dia também pode ter o problema”, destaca a médica Fabiane Brenner, assessora do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Na verdade, o quadro é bastante comum e atinge não só a cuca mas as regiões que concentram mais gordura e pelos, já que são reservatórios de glândulas produtoras de sebo.
Outro fator que contribui para as placas dominarem a cabeça é ter pele ou cabelos naturalmente oleosos — como uma multidão de gente no Brasil. “Estima-se que até 80% das pessoas encarem um episódio de dermatite seborreica ao menos uma vez na vida”, expõe a dermatologista Leila Bloch, autora do livro Fio a Fio (Doc Editora).
Há mais um combo capaz de abrir brecha para a caspa grudar na cachola: tendência genética, períodos intensos de estresse e uma alimentação rica em gorduras fazem parte dele. Sem falar que alguns hormônios, como a testosterona, estimulam as glândulas sebáceas. Está aí por que a dermatite atinge também os recém-nascidos. “Os hormônios da mãe passam para o bebê pela amamentação. Com isso, ele pode apresentar a descamação na cabeça”, conta Fabiane.
Como limpar o cabelo para acabar com a caspa
Mas qual seria, então, a melhor maneira de higienizar o cabelo para acabar com o receio de usar roupas escuras? “Varia de pessoa para pessoa. Mas costumo recomendar que os homens lavem todos os dias e, as mulheres, dia sim, dia não, exceto se houver muita oleosidade”, orienta o tricologista Adriano Almeida, diretor da Sociedade Brasileira do Cabelo.
A ideia é alternar o xampu convencional com o específico para a caspa, que, aliás, tem jeito certo de ser usado. O correto é aplicá-lo com uma massagem suave, que permita a penetração na pele — sem machucar ou arrancar as placas existentes. Deixe o produto agir por mais ou menos cinco minutos antes de enfiar a cabeça embaixo d’água.
E qual xampu escolher especificamente? A ideia é que a compra siga uma ordem de tentativa e erro.
Quando o quadro está mais leve, a primeira opção pode ser o xampu anticaspa cosmético à venda nos supermercados. Ele possui uma concentração discreta (menos de 1%) de um antifúngico, geralmente o cetoconazol, e contém ainda zinco e outras substâncias que removem a oleosidade e acalmam o couro cabeludo.
Mas, como o teor do princípio ativo é pequeno, nem sempre dá certo. Nos casos persistentes, os médicos costumam recomendar xampus que são como remédios e estão nas farmácias.
E é preciso paciência, uma vez que o tratamento pode demorar para surtir efeito. Mais: às vezes, recorrer a esses produtos não resolve de vez o incômodo. “Normalmente esperamos o xampu agir por até 30 dias antes de buscar outros métodos”, estima Almeida.
Entram aí as loções capazes de atuar durante mais tempo no couro e até remédios que tentam controlar a oleosidade e os fungos ou simplesmente frear a descamação acelerada do couro.
Mesmo assim, quem tem tendência a acumular gordura deverá ficar sempre atento à chegada da frente fria. “Não há uma cura mágica ou definitiva para a caspa, mas atualmente há muitos tratamentos que a fazem demorar para voltar e tornam as crises mais leves, como peelings e medicamentos de uso tópico”, esclarece Leila.
O importante é procurar o dermatologista e investigar se o imbróglio maior é a superatividade das glândulas sebáceas, a proliferação acelerada das camadas da pele ou o desequilíbrio entre os micro-organismos presentes na cuca. Até porque, se não tratada, a caspa pode aumentar de tamanho e intensidade, afinar os fios e até favorecer a queda de cabelo — também comum no frio. “Estudos recentes mostram que o pico de uma queda normal ocorre no outono. Porém, na prática, vemos muitos pacientes se queixarem mais no inverno”, observa Almeida.