2018-09-06 10:00:08
Pesquisadores brasileiros criaram droga que combina amilina humana e insulina.
No entanto, apesar dessa complementaridade, o tratamento para o controle do diabetes se vale apenas da reposição de insulina, deixando de lado a reposição da amilina. E por quê? Quem explica é o médico e pesquisador Paulo Lacativa, mestre e doutor em endocrinologia pela UFRJ. “A grande dificuldade sempre foi desenvolver um medicamento à base de amilina humana, que é bastante insolúvel. Em poucos segundos, ela começa a se aglomerar e vira algo parecido com uma bolota. Por isso, já houve uma tentativa de pôr um produto análogo no mercado, conhecido como pramlintide, nos EUA e na Europa. Entretanto, seu uso não era o que se poderia chamar de amigável para o paciente. A amilina tinha que ser administrada separadamente da insulina, o que significava até sete picadas por dia. Sem contar que usar as drogas de forma independente resultava num desbalanceamento difícil de equilibrar”, diz.
Ele afirma que o grande desafio é o que os médicos chamam de repor a fisiologia do paciente: “é o equivalente a restaurar um estado de saúde. Um exemplo simples é o indivíduo com hipotireoidismo, que deixa de produzir o hormônio necessário. No entanto, basta que seja feita a reposição com a dose correta para ele se comportar como alguém saudável. O mesmo não acontece com o paciente diabético, porque ele se desestabiliza facilmente. O simples uso de insulina não permite que se comporte como as pessoas sem a doença, e sua reposição intensiva causa aumento do peso e risco de hipoglicemia. Portanto, tratar os pacientes com insulina e amilina seria o caminho para uma maior estabilidade fisiológica”.
A ótima notícia é que essa situação está em vias de mudar, graças ao trabalho da equipe do pesquisador. Os estudos começaram no laboratório da UFRJ, sob o comando do professor Luís Maurício Lima, e se tornaram tão promissores que foi criada uma startup que conta com o financiamento de um fundo de investimentos para ciência de ponta, do qual participam BNDES e Finep, entre outros. “Foram duas grandes descobertas”, afirma o doutor Lacativa. “A primeira é poder usar a amilina humana. A segunda é conseguir colocar a amilina e a insulina juntas, de forma que a aplicação seja única. Existem vários tipos de insulina sintética, que imitam a ação do hormônio natural do corpo, e não haverá incompatibilidade com nenhuma delas”, completa.
O futuro medicamento foi batizado como BZ043 e será mais uma boa nova na XXXIII Reunião Anual da FeSBE (Federação de Sociedades de Biologia Experimental), que se encerra hoje em Campos de Jordão. A próxima fase será a de realização de estudos com função regulatória. Segundo o doutor Lacativa, os testes com humanos serão feitos em cerca de seis meses e a expectativa é de a medicação estar disponível no mercado em três ou quatro anos. De acordo com o portal da Fiocruz, os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 16 milhões de brasileiros sofrem de diabetes, e a taxa de incidência da doença cresceu 61,8% nos últimos dez anos. O Rio de Janeiro aparece como a capital brasileira com maior prevalência de diagnóstico médico da doença, com 10.4 casos a cada 100 mil habitantes. O diabetes é uma epidemia global e o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking dos países com o maior número de casos, atrás de China, Índia e Estados Unidos.