2018-10-25 10:00:08
Em 2017, apenas 5 mil frascos de 1,5 ml foram adquiridos. Neste ano, segundo governo comprou 70 mil.
Após recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério da Saúde retomou o abastecimento dos testes tuberculínicos do tipo PPD RT 23, usados para detectar se uma pessoa tem a infecção pela bactéria causadora da tuberculose. Devido a uma escassez do produto, a compra em 2017 foi prejudicada e apenas 5 mil frascos – 75 mil doses – foram adquiridos. Já em 2018, foi realizada compra de 70 mil frascos de 1,5 ml, quantidade que equivale a mais de 1 milhão de doses. Os dados foram adquiridos pelo G1 via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Em janeiro de 2017, o TCU iniciou a apuração de uma denúncia de desabastecimento dos testes. De acordo com notícia publicada no site da Câmara dos Deputados, a fiscalização foi solicitada por uma Comissão da casa. A deputada Laura Carneiro argumentou que o governo federal foi informado que o laboratório produtor, localizado na Dinamarca, tinha interrompido a produção.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que a distribuição está regularizada desde julho e que a quantidade é suficiente para atender a demanda de todos os estados e do Distrito Federal por pelo menos um ano.
Os testes
Os testes do tipo PPD RT 23 não são diagnósticos – não confirmam o desenvolvimento da tuberculose. Eles detectam a presença do Bacilo de Koch no corpo, mas não necessariamente que o paciente está doente.
“Não detecta a doença, ele detecta a infecção tuberculose”, explica Helio Bacha, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Mas para que ele serve?
Quando uma pessoa entra em contato com a bactéria da tuberculose, podem acontecer três coisas, de acordo com o médico infectologista Rafael Sacramento: ela é eliminada, ela causa a doença e é eliminada, ou ela fica no corpo. A Organização Mundial da Saúde estima que um terço da população do mundo tem contato com a bactéria causadora da doença, que é transmitida através da inalação.
O teste PPD serve para detectar se o paciente já teve esse contato com o bacilo, com a detecção dos anticorpos. Em populações com maior risco de queda de imunidade, como a carcerária, os indígenas, os portadores do vírus HIV, os moradores de rua, entre outros, conhecer o tamanho do problema pode ser um caminho para prevenir versões mais resistentes do micro-organismo e fazer um controle de ambientes propícios à doença.
“Os presídios brasileiros, em especial os do nordeste e do Amazonas, são verdadeiras fábricas de casos de tuberculose. Você junta todo mundo em um ambiente com pouca circulação de ar e esquece”, disse Sacramento, que atua no tratamento de detentos em Pernambuco.
Desde 2006, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária recomenda que todo preso ingresso no sistema prisional realize exames admissionais para a tuberculose. Em 2017, foram 79.222 casos novos ou reincidentes da doença no Brasil – 78% deles tinham infecção por HIV conhecida.
Helio Bacha, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, conta que o teste é usado também para a comparação em profissionais de saúde:
“Nós utilizamos muito para fazer, por exemplo, a análise numa população de um hospital e ver qual a porcentagem de viragem tuberculínica naqueles trabalhadores da saúde. Na população normal, nós tínhamos um aumento de 2% a 3%. Se no hospital, é uma alta de 10%, nós não estamos cuidando bem daqueles profissionais de saúde”.
Segundo Bacha, existem outros exames para detectar a infecção por tuberculose – moleculares, cultura. Eles são mais precisos, mas também mais caros. No caso desse lote comprado pelo governo, de 70 mil frascos, cada unidade custou R$ 27,43.