2019-01-11 12:00:08
O número de doses de antibióticos consumidas no Brasil está entre os maiores do mundo, superando a média da Europa, Canadá e Japão. De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde, o nosso país ocupa a 17ª posição entre as 65 nações pesquisadas. O alto consumo desses produtos preocupa a agência pelo fato de favorecer o surgimento de bactérias multirresistentes causadoras de infecções difíceis de curar. Na avaliação do médico e pesquisador José Rúben Bonfim – que atua na área de assistência farmacêutica no estado de São Paulo – um dos grandes fatores para essa realidade é a prescrição inadequada.
Ele explica que muitos médicos e cirurgiões dentistas ainda tendem a receitar novos antibióticos e em situações desnecessárias, como no caso de problemas respiratórios causados por vírus. “Os antibióticos não tem ação nos vírus. Então o uso continuado do tratamento de faringite, que são virais, com antibióticos leva com o tempo à seleção de bactérias que existem na garganta, na pele e no ouvido que são resistentes a esses antibióticos”.
Ao contrário do que é geralmente noticiado, o médico lembra que o maior número de ocorrências de resistência microbiana não é verificado nos hospitais. “Acontece que os grandes especialistas em todo mundo afirmam, com prova, que o maior problema da resistência antimicrobiana não está relacionada ao hospital, que aliás responde por uma parcela mínima, 10%. Enquanto 90% é gerada na atenção básica, nos cuidados primários de saúde, ou seja, as prescrições que se fazem em ambulatórios.”
José Rúben atua no Instituo de Saúde, órgão de pesquisa ligado à Secretaria de Saúde de São Paulo, onde avalia tecnologia de saúde. Ele também trabalha na orientação de equipes de médicos, farmacêuticos e enfermeiros no sistema público do município. O médico é também revisor dos Guias de Prática Clínica do CFF.