2019-01-29 11:40:08
Cientistas modificaram os animais geneticamente para produzir proteínas usadas no combate a diversas doenças.
Pesquisadores desenvolveram galinhas geneticamente modificadas capazes de botar ovos que contêm proteínas usadas no combate à artrite e a alguns tipos de câncer.
Eles esperam que a descoberta leve, um dia, à produção de medicamentos que salvam vidas com um custo muito mais baixo.
Inicialmente, as proteínas serão usadas em pesquisas, mas os testes de laboratório já mostraram que elas funcionam, pelo menos, tão bem quanto os medicamentos equivalentes.
A nova pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto Roslin, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, em parceria com a empresa Roslin Technologies.
Galinhas ‘paparicadas’
Segundo a pesquisadora Lissa Herron, da Roslin Technologies, as galinhas não sofrem e são mais “paparicadas” que animais criados em fazenda.
“Elas vivem em cercados bem grandes. São alimentadas, hidratadas e cuidadas diariamente por técnicos altamente treinados, elas têm uma vida bastante confortável.”
“Para a galinha, é como botar um ovo normal. Isso não afeta a saúde dela de forma alguma, é só continuar o que elas já fazem, botar ovos normalmente.”
Os cientistas já haviam mostrado que animais como cabras, coelhos e galinhas geneticamente modificados podem ser usados para produzir proteínas com propriedade terapêutica em seu leite ou ovos.
Mas os pesquisadores dizem que a nova abordagem é mais eficiente, produz resultados melhores e é mais rentável que as tentativas anteriores.
Economia
“A produção a partir dos ovos de galinha pode custar de 10 a 100 vezes menos do que das fábricas. Por isso, creio que chegaremos a um valor pelo menos 10 vezes menor que o custo total da fabricação industrial”, afirma Herron.
A maior economia vem do fato de que galpões de galinha são muito mais baratos de construir e operar do que laboratórios altamente limpos e esterilizados para produção industrial.
Muitas doenças são causadas porque nosso corpo não produz naturalmente quantidade suficiente de determinada substância química ou proteína. Problemas de saúde deste tipo podem ser controlados com medicamentos que contenham a proteína que está em falta.
Essas drogas são produzidas sinteticamente por empresas farmacêuticas e podem ser muito caras de fabricar.
Herron e seus colegas conseguiram reduzir estes custos ao inserir um gene humano na parte do DNA das galinhas responsável pela clara do ovo.
Dois tipos de proteínas
Depois de quebrar os ovos, os cientistas deixam a gema de lado. É na clara que se encontra o tesouro: grandes quantidades de proteínas clinicamente importantes.
“Essas proteínas são muito caras para produzir”, diz Herron, “porque você não pode simplesmente sintetizá-las em um laboratório de química.”
“Você precisa de um sistema vivo para fabricá-las porque as proteínas são moléculas muito grandes, muito complexas e precisam de todo o maquinário de uma célula para produzi-las adequadamente.”
Até agora, as galinhas foram geneticamente modificadas para produzir dois tipos de proteína que são essenciais para o sistema imunológico.
Uma delas é o interferon alfa 2a, que tem efeitos antivirais e anticâncer poderosos; e a outra é o macrófago CSF, que está sendo desenvolvido como uma terapia que estimula os tecidos danificados a se regenerar.
Três ovos são suficientes para produzir uma dose da droga, e as galinhas podem botar até 300 ovos por ano. Com galinhas suficientes, os pesquisadores acreditam que vão ser capazes de produzir o remédio em escala comercial.
O desenvolvimento de drogas para a saúde humana, com todos os trâmites regulatórios necessários, vai levar entre 10 e 20 anos.
Os pesquisadores estão esperançosos de usar as galinhas para desenvolver medicamentos para animais.
Isso inclui drogas que estimulam o sistema imunológico de animais de fazenda, como uma alternativa aos antibióticos, o que reduziria o risco do desenvolvimento de novas cepas de superbactérias resistentes a tratamentos. E há o potencial para usar as propriedades curativas do macrófago CSF para tratar animais de estimação, de acordo com Herron.
“Por exemplo, podemos usá-lo para regenerar o fígado ou os rins de um animal de estimação que tenha sofrido danos a esses órgãos. As drogas atualmente disponíveis são um pouco caras demais, então esperamos que possamos avançar mais nisso,” explicou.
“Ainda não estamos produzindo medicamentos para as pessoas, mas este estudo mostra que as galinhas são comercialmente viáveis para produzir proteínas adequadas para estudos de novas drogas e outras aplicações em biotecnologia”, disse a professora Helen Sang, do Instituto Roslin, da Universidade de Edimburgo.