2019-02-25 12:00:08
O colunista explora a conexão entre diabetes, queda na imunidade e uma doença infecciosa a que muitos não dão bola.
Muitos brasileiros acham que a tuberculose — uma doença infecciosa que, entre outras áreas do corpo, ataca os pulmões — é um problema exclusivo de pessoas miseráveis, em situação de rua ou mesmo presidiários. Mas aí é que se enganam. Há cerca de quatro anos, atendendo um paciente com diabetes, eu levei um susto.
O paciente era saudável, tinha um quadro controlado e não apresentava nenhuma sequela ou complicação do problema. Só que estava com uma tosse seca que demorava para melhorar. Não estava emagrecendo, nem tinha febre, tampouco havia perdido o apetite. Ainda fazia musculação e corria. Enfim, um sujeito em ótimo estado.
Mas havia essa tosse persistente. E, em função dela e da insistência do paciente, solicitei uma radiografia do tórax. E aí veio o resultado. Bingo! Tuberculose.
Intrigado, corri à procura de artigos científicos e novos dados sobre a prevalência da doença e constatei, então, que vivenciamos uma epidemia dupla, marcada pela conexão entre diabetes e tuberculose.
Ora, temos 12,5 milhões de diabéticos no Brasil, o que nos coloca como a quarta nação no mundo em número de portadores da doença . E, em 2017, nosso país registrou mais de 80 mil casos de tuberculose. Nesse mesmo ano, tivemos 5,1 mil mortes em decorrência da enfermidade.
Estamos, assim, entre os 20 países que mais sofrem com ela no planeta. É bom que se diga: hoje a tuberculose é considerada a doença infecciosa que mais mata no mundo.
Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Por que diabetes e tuberculose podem andar juntas? A explicação reside no fato de que a pessoa com diabetes não deixa de ser alguém com uma imunossupressão. O que é isso? Significa que sua imunidade tem menor poder de fogo para combater vírus, bactérias, fungos etc. Dessa forma, o diabético, ainda mais com a glicose fora de controle, tem uma tendência maior de encarar infecções, especialmente a tuberculose.
A tuberculose é um mal sorrateiro provocado por uma bactéria. É adquirida pela inalação dos bacilos. Diante de um sistema imune menos competente, o micro-organismo se prolifera e gera a doença, que pode ser letal em alguns casos. O risco de um indivíduo com diabetes pegar essa infecção existe mesmo ele tendo recebido a vacina BCG, aquela aplicada em recém-nascidos e que gera uma cicatriz para a vida toda, lá na infância.
Por isso, o diagnóstico precoce e o tratamento correto são peças-chave na história. Pessoas com diabetes que apresentam tosse por mais de três semanas sem causa definida devem ser investigadas quanto ao bacilo. Outros sintomas para ficar de olho: febre leve recorrente na parte da tarde, emagrecimento, fraqueza e desânimo.
O tratamento é totalmente custeado pelo SUS e os antibióticos receitados precisam ser usados religiosamente, sem falhas, dentro do tempo estipulado. Só assim se chega à cura da doença.
Por fim, não custa lembrar: alimentação saudável, exercícios regulares e controle glicêmico adequado continuam fundamentais para manter as rédeas sobre o diabetes. E isso, por sua vez, se reflete em mais saúde e proteção contra doenças, inclusive aquelas causadas por micro-organismos.