2020-01-09 11:00:08
Medicamentos são baratos, podem ser comprados sem receita, mas inibem substâncias que protegem o órgão.
Nas aulas de biologia, é fácil reconhecê-los: os rins vêm num par, num formato que lembra feijões. Zelam em silêncio pela nossa saúde, filtrando o sangue para eliminar substâncias nocivas ao organismo. Depois de passar por eles, o sangue segue, livre de toxinas, para as veias renais rumo ao coração e a urina leva as impurezas até a bexiga. É a “sujeira” eliminada que provoca o cheiro forte característico do xixi.
No entanto, essa eficiência discreta acaba fazendo com que as pessoas não se preocupem em monitorar a saúde do órgão. “A maioria sabe de cor suas taxas de colesterol e glicose, relacionadas ao risco de doença cardiovascular e diabetes, mas não presta atenção na creatinina, o principal marcado do rim”, alerta o nefrologista Eduardo Rocha, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Ela detecta o nível de ‘sujeira’ no sangue, indicando se ele está ou não está filtrando como deveria”, completa.
Quando funcionam bem, os rins descartam os resíduos e a creatinina é baixa. Na verdade, existe uma espécie de “repescagem” no órgão, como explica o médico: “os glomérulos filtram tudo, mas há muitas substâncias importantes que devem ser reaproveitadas, e aí entram em ação os túbulos, que reabsorvem boa parte delas”. Já nascemos com os cerca de um milhão de glomérulos, as unidades funcionais responsáveis por retirar as impurezas.
Conforme envelhecemos, é natural que ocorra uma perda da sua capacidade, acrescenta: “se temos uma eficiência de 100% na juventude, a partir dos 40 ou 50 anos essa curva vai caindo. No entanto, isso não quer dizer que a pessoa tenha doença renal. A medição da creatinina, através de exame de sangue, aliada a informações como idade, sexo e etnia, é a forma mais simples de prevenção”.
E é com o passar dos anos que o risco dos anti-inflamatórios aumenta, afirma o nefrologista: “são medicamentos baratos, que não precisam de receita e os idosos os usam para controlar a dor. O problema é que diminuem o calibre dos vasos sanguíneos e inibem substâncias endógenas, as prostaglandinas, que protegem os rins. Utilizar um remédio desse tipo por mais de cinco dias aumenta o risco de isquemia renal”. O paciente também pode desenvolver um quadro alérgico, que provoca uma lesão nos túbulos semelhante à que ocorreria na pele, chamada nefrite intersticial.
Não se hidratar é prejudicial, mas o médico lembra que não há necessidade de beber água em excesso, porque isso não ajuda o trabalho do órgão. Em média, um ser humano consome de 1 litro a 1.5 litro por dia, o que equivaleria a algo entre seis e oito copos de água. “A doença é silenciosa, porque, mesmo quando os rins perdem a capacidade de filtrar, não há mudança significativa no volume de urina. Da mesma forma, as pessoas se enganam achando que a urina clara é sinal de que os rins funcionam bem, mas a filtragem pode estar comprometida e o descarte ser basicamente de água, enquanto as impurezas permanecem no organismo”, enfatiza o doutor Eduardo Rocha.