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Unicamp diz que apoio ao uso da cloroquina contra coronavírus se baseia em ‘evidências frágeis’

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2020-04-13 15:42:26

 

Universidade diz, por meio da reitoria, que deve recomendar ‘indicações e propostas que valorizem a razão científica em lugar de soluções intuitivas e crenças’.

 

A reitoria da Unicamp publicou uma nota na quinta-feira (9) em que diz que as manifestações de apoio ao uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina contra a Covid-19 – a doença causada pelo novo coronavírus – “se baseiam em evidências frágeis”, e não em investigações sólidas e fundamentadas em ensaios clínicos controlados.

Até quinta-feira, a Secretaria de Saúde em Campinas (SP) registrou 99 casos confirmados da doença, incluindo cinco mortes, e contabiliza outros 984 registros suspeitos.

“A universidade, como centro do conhecimento, deve sempre recomendar indicações e propostas que valorizem a razão científica em lugar de soluções intuitivas e crenças, que apesar de geralmente bem intencionadas podem estar eventualmente equivocadas”, diz trecho. [Leia nota na íntegra no fim da reportagem]

O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel destacou nesta sexta-feira (10) a importância da universidade se posicionar em relação à questão da cloroquina, e ressaltou que não é uma nota de cunho político.

“Quero evitar qualquer conotação política, é uma nota de caráter científico. Muito ponderada no que se refere a cuidado e preocupação dos pacientes, o uso indiscriminado, pessoas que estão usando preventivamente sem ter a necessidade, e pode efeitos colaterais sérios”.

Segundo ele, há pesquisas na universidade em estágio inicial sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina no contexto da Covid-19.

“É uma nota da reitoria e relata simplesmente uma questão cientifica de que não há comprovação cientifica com relação a isso. Se os pesquisadores quiserem se manifestar, têm toda a liberdade acadêmica para faze-lo. Temos que seguir o que a comunidade médica e científica no mundo inteiro está relatando”, afirma Knobel.

A nota da Unicamp não cita o presidente da república Jair Bolsonaro, que em pronunciamento realizado nesta semana defendeu o uso da cloroquina no tratamento, apesar da falta de consenso na comunidade cientifica.

Além disso, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciou que os hospitais municipais da capital paulista vão passar a utilizar a cloroquina no tratamento de pacientes infectados pela Covid-19.

Referência a publicação científica internacional

Em outro trecho, a Unicamp faz referência a editorial da publicação científica British Medical Journal, onde é mencionado que o uso da cloroquina e derivados nos tratamento de casos do novo coronavírus é “prematuro e potencialmente prejudicial devido a efeitos colaterais” conhecidos pelos médicos.

“Medicamentos como a HCQ [hidroxicloroquina] têm efetivamente sido usados para pacientes portadores de malária ou doenças autoimunes. No momento, a cloroquina e seus derivados podem ser empregados em situações controladas para essas enfermidades, em pacientes internados sob supervisão médica restrita e intensiva. Não há, portanto, indicação formal dos mais respeitados órgãos de saúde pública do Brasil e do exterior para o uso profilático ou doméstico desses fármacos sem a estrita supervisão, responsabilidade médica e concordância explícita dos pacientes”, destaca.

Compromisso com ética e ciência

A universidade estadual, ao salientar que ouviu especialistas na área, de dentro e de fora da instituição, destaca que reforça as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial de que não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos.

Além disso, a reitoria afiram que reitera compromisso com a ética e a ciência na busca por soluções para adequado acolhimento do paciente, diagnóstico preciso e terapêutico para minimizar efeitos da pandemia.

“Há em todo o mundo, inclusive no Brasil, uma busca incansável por medicamentos eficazes para o tratamento dos doentes. Essa busca deve ser pautada exclusivamente pela pesquisa conduzida seguindo métodos científicos bem estabelecidos, com protocolos claros e subordinados a valores éticos”.

Leia a nota da Unicamp na íntegra

“A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) reitera o seu compromisso com a ética e com a ciência na busca por soluções que atendam o adequado acolhimento do paciente, o diagnóstico preciso e a melhor terapêutica, visando minimizar os efeitos da pandemia COVID-19. Há em todo o mundo, inclusive no Brasil, uma busca incansável por medicamentos eficazes para o tratamento dos doentes. Essa busca deve ser pautada exclusivamente pela pesquisa conduzida seguindo métodos científicos bem estabelecidos, com protocolos claros e subordinados a valores éticos. Assim, no que diz respeito a declarações sobre o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina (HCQ) para o tratamento da COVID-19, isoladamente ou em associação com azitromicina (HCQ + AZT), a Unicamp, ouvindo especialistas na área, de dentro e de fora da instituição, e amplamente amparada por estudos científicos sobre o tema, corrobora as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial de que não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus.

Como reiterado em editorial de 08 de abril de 2020 da British Medical Journal, uma das publicações científicas da área médica mais respeitadas do mundo, o uso da cloroquina e seus derivados na COVID-19 é prematuro e potencialmente prejudicial devido a efeitos colaterais amplamente conhecidos pela comunidade médica.

Medicamentos como a HCQ têm efetivamente sido usados para pacientes portadores de malária ou doenças autoimunes. No momento, a administração de cloroquina e seus derivados para a COVID-19 deveria ocorrer apenas em ensaios clínicos controlados para pacientes internados sob supervisão médica restrita e intensiva. Não há, portanto, indicação formal dos mais respeitados órgãos de saúde pública do Brasil e do exterior para o uso profilático ou doméstico desses fármacos sem a estrita supervisão, responsabilidade médica e concordância explícita dos pacientes.

As manifestações de apoio ao uso da HCQ para COVID-19 se baseiam em evidências frágeis, não apoiadas por investigações sólidas que devem ser fundamentadas em ensaios clínicos controlados. A universidade, como centro do conhecimento, deve sempre recomendar indicações e propostas que valorizem a razão científica em lugar de soluções intuitivas e crenças, que apesar de geralmente bem intencionadas podem estar eventualmente equivocadas.”