Sincofarma SP

Como farmácias em Portugal lidaram com a crise da Covid-19

Compartilhe:

Facebook
LinkedIn
WhatsApp

2020-05-12 19:31:34

 

Um momento único para avaliarmos como outras farmácias, numa situação tão em comum, estão lidando com a crise de uma pandemia.

 

Dra. Isaura Almeida Gonçalves Martinho é farmacêutica e proprietária da farmácia Marvila, em Lisboa, Portugal. Este ano ainda tivemos a grande sorte de tê-la no Sincofarma/SP a falar da diferença entre Portugal e Brasil. Agora, a Presidente da Assembleia da Secção Regional de Lisboa da Ordem dos Farmacêuticos, fala da semelhança durante esta pandemia e crise vivida no mundo.

Em entrevista também para a Revista Farma, Isaura nos mostra que não estamos sozinhos neste problema. Veja o que ela responde:

De que forma as farmácias portuguesas estão atuando no combate à pandemia do novo coronavírus? Há algum papel ou função específica destinada à elas, como aplicar testes para diagnosticar a doença?

As farmácias mantêm a sua missão de saúde pública e de primeira linha no apoio na saúde à população, como até aqui. Encontraram estratégias para minimizar os riscos de exposição da população que servem, fazendo entregas em casa, divulgando informação sobre a doença, apoiando os mais vulneráveis.

Farmácias de Portugal podem vender e realizar testes para coronavírus? O que determina a Infarmed?

À data, as farmácias portuguesas não vendem nem realizam testes.

Como está o movimento das farmácias? Por serem estabelecimentos de saúde as pessoas estão indo às farmácias? Ou percebeu queda no movimento?

As farmácias, como unidades de saúde, mantêm-se abertas, fazendo uso das mais variadas estratégias que lhes permitam continuar a servir o público e a salvaguardar a saúde das suas equipas. Foi decretada a possibilidade de atendimento pelo postigo de atendimento noturno para as localizadas em zonas onde não haja outras farmácias e também para as que considerem essencial para preservar a continuidade do serviço. Foi decretado um número máximo de pessoas dentro dos estabelecimentos, colocados marcadores de margens de segurança entre as pessoas, os balcões foram revestidos com barreiras acrílicas, etc…

Registou-se, nos dias que antecederam e nos primeiros após a declaração de pandemia, uma corrida às farmácias para a compra de medicamentos e produtos de saúde relacionados com a prevenção da COVID. Depois disso, com a declaração do Estado de Emergência Nacional e o recolhimento recomendado (em dadas alturas obrigatório) em todo o país, e o consequente esvaziamento das ruas, nas cidades como no interior, as vendas têm vindo a baixar. Há categorias de produtos que deixaram praticamente de se vender, como os dermocosméticos, por exemplo, e preparamo-nos para sofrer um impacto maior nos próximos meses. De um modo geral, o movimento baixou, mas há farmácias onde caíu a pique, como é o exemplo das que estão localizadas em zonas mais turísticas ou centros comerciais.

O sistema de delivery (entregas em casa) aumentou?

Sim. Essa é inclusive uma das recomendações que fazemos aos nossos utentes, para que se mantenham em casa. Para tal, as farmácias criaram uma linha gratuita nacional para reserva de medicamentos (Linha 1400), estabeleceram protocolos com diversas entidades para a entrega em domicílio, como é o exemplo do feito com os CTT – Correios de Portugal. Todo o país se tem esforçado para conjugar esforços no sentido de, nesta fase, manter as pessoas o mais possível em casa e proteger aquelas de maior risco, afastando-as de eventuais focos de contágio. Os doentes crónicos e a fazer medicação hospitalar, por exemplo, deixaram de ter de se deslocar aos hospitais, por vezes a horas de distância do local onde vivem, para poder passar a receber a sua medicação hospitalar nas farmácias perto da sua casa.

Faltam produtos nas farmácias devido à pandemia? Quais produtos?

Sim, têm faltado produtos ligados à prevenção contra a doença, não só para venda, mas também equipamentos de protecção para os próprios profissionais, uma dificuldade que é transversal e mundial. Nestas alturas surgem sempre oportunismos, e as farmácias, como outros sectores, foram alvo de múltiplos movimentos de preços especulativos, tanto que, por pressão nossa, o Estado se viu obrigado a intervir, regulando os preços e margens nestes produtos.

A Associação Nacional de Farmácias está apoiando, orientando e informação às farmácias?

Sim. A ANF tem sido bastante activa nesta matéria. Ainda antes de ter sido decretada a pandemia foi constituído um gabinete de crise, que já havia preparado um guia para a realização de planos de contingência por cada farmácia, os quais têm vindo a ser actualizados sempre que a evolução da informação e do panorama nacional o justificam. Tem também sido emitida informação diariamente às farmácias nos mais variados quadrantes: científico, profissional, jurídico… Foram realizadas várias formações, presenciais antes, e à distância depois de decretada a pandemia, sobre o tema da COVID-19. Foi criado um programa de apoio às farmácias para enfrentar a crise provocada pela COVID-19, entre outros programas

Como farmacêutica e empresária, qual sua avaliação sobre a pandemia? Você acha que as farmácias poderiam fazer algo que não estão fazendo?

             A pandemia é uma tragédia mundial com a qual ninguém estava preparado nem a nível de saúde nem na economia. Resta-nos aprender e trabalhar para que este momento seja menos cruel para a população.  As farmácia e os seus profissionais estão, como sempre, na linha da frente a dar o seu melhor.

Quais as principais demandas para a sua farmácia? Você disse que tem tido muito trabalho, que tipo de trabalho?

A minha farmácia confronta-se com uma população idosa e que encontra aqui o seu porto de abrigo. Agora está tudo mais calmo mas havia dias que vinham vezes sem conta à farmácia para tirar dúvidas. Além disso tenho uma colega de baixa de parto desde Fevereiro. Pelo menos tive essa alegria de ser uma “avó” feliz.

Em relação a Portugal em geral, como está o clima entre a população? O isolamento social tem sido respeitado? Quais são as expectativas para as próximas semanas?

Portugal entrou em estado de Alerta no dia 13 de março e de Emergência no dia 18 do mesmo mês. Está-se agora, desde final de Abril, a equacionar um aligeiramento faseado e controlado nas medidas, entrando num eventual estado de Calamidade.

Já em estado de Alerta, muitos portugueses, voluntariamente, optaram pelo isolamento social, algo que se generalizou depois, excepção feita aos prestadores de serviços tidos por essenciais. Foi decretado que todos os trabalhadores que pudessem entrassem em regime de teletrabalho, as empresas obrigadas a parar foram apoiadas pelo Governo no regime de lay off temporário, entre outras medidas na área do emprego. As escolas fecharam, passou-se a um regime de ensino à distância, com recurso às plataformas digitais e à televisão. Estas foram só algumas das iniciativas tomadas para que as pessoas permanecessem em casa.

De um modo geral, essas medidas de isolamento e as regras de distanciamento foram bem acatadas pela população, que compreendeu os riscos colocados pela COVID-19. Isto, aliás, prova-se pelos bons resultados alcançados no controlo da disseminação da doença e que permitem um vislumbre, embora muito cauteloso, de aligeiramento das medidas, como disse antes.