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Pandemia pode aumentar o risco de resistência microbiana

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2020-11-23 13:44:50

 

Problema pode ser agravado e acelerado por conta do uso indevido de antibióticos.

 

Embora seja uma descoberta recente, a Covid-19 pode agravar o desenvolvimento de superbactérias resistentes aos atuais tratamentos de infecções. Entenda por que isso acontece nesta matéria da série de textos que a Anvisa está divulgando entre 18 e 24 de novembro, período da Semana Mundial de Conscientização Sobre o Uso de Antimicrobianos, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Pandemia

O novo coronavírus (Sars-CoV-2) provocou uma situação global conhecida como pandemia, caracterizada pela disseminação e ocorrência de uma doença em todos os continentes do planeta. Neste cenário, que levou ao adoecimento de uma boa parte da população e à internação hospitalar de milhares de pacientes em todo o Brasil, muitos deles com quadros graves de infecções pulmonares e outras complicações, existe uma grande preocupação com a automedicação e o uso indevido ou inadequado de medicamentos, especialmente os antimicrobianos.

De acordo com a OMS, o uso indevido de antibióticos durante a pandemia de Covid-19 pode levar à aceleração do surgimento e da disseminação da resistência microbiana. A doença é causada por um vírus (Sars-CoV-2) e não por uma bactéria. Por esse motivo, os antibióticos não devem ser usados para prevenir ou tratar a Covid-19, ou mesmo outras infecções virais, a menos que doenças bacterianas também sejam diagnosticadas.

Mas, segundo a OMS, evidências mostram que apenas uma pequena proporção de pacientes infectados com o novo coronavírus precisa de antibióticos para tratar infecções bacterianas que se desenvolveram no momento de baixa imunidade.

Portanto, assim como ocorre em outras infecções virais, notadamente as gripes e resfriados, prescrições incorretas de antibióticos para tratar os vírus ou até mesmo a automedicação podem favorecer o surgimento acelerado e a disseminação da resistência microbiana, criando superbactérias que não respondem aos tratamentos disponíveis atualmente.

Unidade de terapia intensiva (UTI)

Além disso, a pandemia de Covid-19 acarreta um aumento das internações hospitalares de pacientes graves, principalmente nas unidades de terapia intensiva (UTIs), onde o risco de infecções relacionadas à assistência à saúde (Iras) é ainda maior. Isso ocorre devido à necessidade de um maior número de procedimentos e à utilização de dispositivos invasivos como cateteres e ventilação mecânica, favorecendo a transmissão de microrganismos multirresistentes e o aumento do uso de antimicrobianos.

Medicamentos falsificados na pandemia

A falsificação também pode ser uma forte aliada do aumento da resistência microbiana, assim como os produtos de baixa qualidade, pois não cumprem as funções esperadas de um medicamento. Além de não tratar a doença, esses produtos podem agravar quadros de saúde, aumentar o tempo e o custo de internações, além de causar mortes. Dados da OMS indicam que entre 72 mil e 169 mil crianças morrem anualmente de pneumonia devido a antibióticos falsificados.

De acordo com um relatório organizado pelo Laboratório de Inovação do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (InovaHC/USP), a comercialização de medicamentos ilegais se acentuou durante a pandemia de Covid-19. E, neste contexto, os antibióticos ocupam o topo do ranking de apreensões de medicamentos falsificados em alfândegas, correspondendo a 37% do total.

Mobilização e conscientização

Por esses e outros motivos, todos os anos a OMS promove, entre os dias 18 e 24 de novembro, a Semana Mundial de Conscientização Sobre o Uso de Antimicrobianos. O objetivo da ação é aumentar a conscientização sobre a resistência microbiana e incentivar as melhores práticas entre o público em geral, trabalhadores da saúde e formuladores de políticas para prevenir o surgimento e a propagação de microrganismos resistentes aos antimicrobianos.

Neste ano, o foco da campanha foi ampliado para todos os antimicrobianos, como por exemplo os antiparasitários e antivirais, e não só os antibióticos – que devem ser usados para infecções causadas por bactérias –, como em campanhas anteriores. Para a OMS, essa mudança se faz necessária pelo aumento da resistência para uma gama mais ampla de medicamentos. Por isso, em 2020 o tema escolhido para o setor de saúde humana é “Unidos para preservar os antimicrobianos”.