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Vendas de medicamentos para depressão aumentaram 13% este ano

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2021-08-04 11:28:55

 

A pandemia continua impactando a saúde mental dos brasileiros, apesar do advento das vacinas e da esperança que elas trouxeram de uma retomada gradual das nossas atividades, reduzindo a sensação de isolamento e todas as suas mazelas.

 

Pelo menos é o que indica um levantamento das vendas de medicamentos antidepressivos e estabilizadores de humor feito pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), a partir de dados da consultoria IQVIA. Nos primeiros 5 meses desse ano, a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor aumentou 13% em relação ao mesmo período do ano passado. Os números se referem a unidades de medicamentos (capsulas ou comprimidos) comercializados no varejo, ou seja, farmácias e drogarias.

Embora o aumento seja um pouco menor do que o registrado quando comparamos os primeiros cinco meses de 2020 e de 2019 (16%), o índice é importante, até porque representa um aumento significativo sobre o recorde de vendas registrado no ano em que se iniciou a pandemia. Até então, os aumentos verificados eram bem menos representativos. Ficaram em 11% na comparação dos períodos de 2019 e 2018, e em 10% quando tomamos por base os anos de 2018 e 2017. Na prática, os brasileiros adquiriram 4.781.531 a mais de unidades desses medicamentos este ano do que no ano passado.

O CFF levantou também o aumento nas vendas de anticonvulsivantes e antiepiléticos, que está registrando uma tendência de queda. O porcentual de crescimento nos primeiros cinco meses do ano de 2021 em comparação com igual período do ano passado (3%), quase chegou ao patamar de crescimento verificado no mesmo período antes da pandemia, ou seja 2018 em comparação com 2017 (2%). Nos primeiros cinco meses do ano passado, ano em que o coronavírus chegou ao Brasil, esses medicamentos registraram aumento de 10% nas vendas, em comparação com o mesmo período de 2019 (ver quadro 01).

Também foi avaliada a venda dos mesmos medicamentos por estado. E em 18 unidades da federação, o aumento na comercialização de antidepressivos e estabilizadores de humor neste ano, em comparação com os primeiros cinco meses do ano passado, foi maior do que o verificado em âmbito nacional. O Acre foi recordista, com aumento de 40%. Ao que parece, a saúde mental da população do estado piorou consideravelmente no segundo ano da pandemia. Nos cinco primeiros meses do ano passado, o aumento nas vendas desses medicamentos foi de 12% em comparação com o mesmo período de 2019. Alagoas e Amazonas ultrapassaram 30% de aumento. No ano passado, em comparação com o anterior, esses dois estados registraram 20% e 17% de aumento nas unidades vendidas, respectivamente.

No caso dos anticonvulsivantes e antiepiléticos, também tomando como base os cinco primeiros meses desse ano em comparação com igual período do ano passado, 19 estados superaram o índice nacional. Roraima registrou aumento de 22%, 19 pontos porcentuais acima do índice nacional e 17 do seu próprio no ano passado, quando as vendas desses medicamentos aumentaram 5% no estado. Mato Grosso do Sul registrou aumento de 18%, contra 8% no ano passado. E Alagoas manteve o crescimento de 11% verificado em 2020. Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Amapá registraram índices negativos nas vendas em relação ao ano passado, sendo o caso mais surpreendente o do Amapá. O estado vinha de uma alta de 58% no comparativo de 2020/2019, e este ano fechou os primeiros cinco meses com decréscimo de 4% nas vendas, em relação a igual período do ano passado (ver quadro 02).

“Os medicamentos em questão são disponibilizados no mercado sob um rígido controle da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A venda é feita com apresentação de prescrição médica, retenção da primeira via da receita e mediante lançamento no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, o SNGPC”, explica o conselheiro federal de Farmácia pelo estado de Rondônia, Jardel Teixeira de Moura. Ele atua no varejo e tem observado, na ponta, o aumento das vendas. “De fato, há uma maior procura por esses medicamentos, principalmente entre jovens e idosos”, comenta o conselheiro, que é proprietário de farmácia em seu estado. Curiosamente, Rondônia registrou aumentos inferiores ao nacional para os antidepressivos e estabilizadores de humor, e iguais no caso dos anticonvulsivantes e antiepiléticos.

Considerando que os medicamentos são controlados, o aumento estaria relacionado a um crescimento no número de pacientes com adoecimento mental. E o grande desafio seria garantir o melhor custo benefício dos tratamentos, com o diagnóstico correto pelo médico e o uso seguro e racional, acompanhado pelo farmacêutico. Porém, é preciso analisar outros aspectos. “Um deles é que vivemos em uma sociedade culturalmente marcada pela tendência à medicalização”, comenta o farmacêutico Wellington Barros, consultor ad hoc do CFF.

Ele explica que há um comportamento das pessoas no ocidente, de frequentemente recorrer ao uso medicamentos para tentar sanar todo tipo condição decorrente do convívio societal como se tudo se reduzisse a um problema de saúde. “Está claro que a quarentena expôs as pessoas a situações de estresse muito extremas, e também é evidente que essa condição pode, sim, ter efeitos sobre a saúde mental das pessoas, levando ao surgimento de quadros de depressão e ansiedade, por exemplo. Mas nem toda alteração no sono, nem todo sentimento de tristeza ou solidão, ou mesmo o estresse gerado pela exposição ao risco, no caso dos trabalhadores da saúde e das atividades essenciais, que não pararam durante a pandemia, constituem a priori um transtorno em saúde mental passível de ser tratado com um medicamento. E mesmo que haja uma indicação da ocorrência de sofrimento psíquico que caracterize um transtorno ou problema de saúde, isso não significa que será necessário, de imediato, o uso de algum medicamento. A abordagem mais segura e que implica em maior benefício, na maioria absoluta dos casos, terá que ser sempre ampliada, centrada nas pessoas e não nos medicamentos”.

Aumento anual – O CFF vem monitorando os números desde o início da pandemia e o crescimento observado tem sido surpreendente. Tomando como base o ano fechado, em 2020, o país registrou um crescimento de 17% nas vendas, em comparação com 2019. Como é possível observar no quadro 03, entre 2018/2019 as vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor aumentaram 12%, e entre 2017/2018, 9%. A curva não deixa dúvidas de que as vendas dispararam no país no último ano. Em 15 estados, o crescimento foi ainda maior, beirando os 30% em algumas unidades da federação. No Ceará, 2º classificado no ranking de estados com os maiores aumentos, havia uma tendência de queda até 2019, mas as vendas ganharam impulso no ano da pandemia. Enquanto entre 2018 e 2019 foi registrado um aumento de 7%, no período de 2019 a 2020 a variação foi de 29%, três vezes maior. Sergipe registrou o dobro de aumento, com 12% entre 2018/2019 e 24% entre 2019/2020. Apesar de ser o 11º estado no ranking, com 23% de aumento no período de 2019/2020, no Amapá as vendas estão em queda, em comparação com o período de 2018/2019, quando houve aumento de 29%.

Também foi levantado o aumento ano a ano das vendas de anticonvulsivantes e antiepiléticos. Esta foi ainda maior no país. Em 2020, houve um acréscimo de 12% nas vendas em comparação com 2019. O índice corresponde a 8 pontos porcentuais a mais do que o registrado no período de 2018 a 2019 (4%). O crescimento no período anterior, de 2017 a 2018, foi de apenas 2%. Nos estados do Amazonas e da Bahia (que registrava tendência de queda) a variação foi de 25% e 21% respectivamente, entre 2019 e 2020. Porém, nestes dois casos, o agravante é que, em relação ao período anterior, 2018 a 2019, o aumento foi de 20 pontos porcentuais. Embora tenha registrado índice de 23% de crescimento nas vendas entre 2019 e 2020, o Amapá apresentou tendência à estabilização.