2022-02-24 11:42:43
foto: Panorama Farmacêutico
Agora é oficial. O Grupo Pão de Açúcar (GPA) extinguiu na última sexta-feira, dia 18, a unidade de negócios de drogarias e encerrou sua mal sucedida incursão no varejo farmacêutico. Na última semana, o clima de despedida de vários colaboradores já era perceptível nas redes sociais. E fontes da própria varejista confirmaram a notícia à redação do Panorama Farmacêutico.
Com cerca de 120 unidades e faturamento de aproximadamente R$ 600 milhões, a divisão farmacêutica já era considerada descartável desde 2016. Na época, o GPA iniciou conversações para se desfazer de suas drogarias, por avaliar que não teria escala suficiente para garantir competitividade. A oficialização de apenas uma proposta de compra fez a negociação não avançar.
O assunto voltou à tona em janeiro de 2020, o que reforçava o objetivo da companhia de concentrar atuação no varejo alimentar, após a negociação de ações da Via Varejo para a família Klein. Em dezembro de 2019, a holding Rallye, que detém 52% das ações do Casino – controlador do GPA – apresentou um plano de reestruturação que previa a alienação de negócios considerados não prioritários. Mas novamente, houve interesse tímido do mercado.
Em outubro do ano passado, a companhia mencionou a provável descontinuação em teleconferência para o mercado, por apresentar uma “contribuição marginal” para o faturamento da companhia.
Candidatos a compradores?
Especialistas consultados pela reportagem avaliam que Raia Drogasil (RD) e Coop seriam potenciais candidatos a adquirir a unidade de farmácias, mas o negócio não deve decolar. A primeira rede já tem sinergia com o GPA desde 2019, quando juntas criaram a joint venture Stix Fidelidade – plataforma de produtos e serviços para os clientes fieis de ambas as marcas. Já a cooperativa de consumo dá sinais de que aposta nesse modelo depois de assumir 21 drogarias do Grupo BIG.
Fracasso anunciado
Importantes consultores de varejo foram unânimes ao avaliar que esse foi um cenário natural. “O foco do GPA é claro: fixar atenção no seu core business e deixar de lado operações que não representem o coração do negócio”, comenta Olegário Araújo, da Inteligência 360.
“Além de uma concorrência mais intensa, temos a perspectiva de crescimento do PIB abaixo de 0,5%, mas com inflação média em torno de 5%. As famílias terão menos recursos. Consumidores mais exigentes, com mais opções e menos dinheiro, acirram a disputa pelo bolso num momento em que as empresas estão precisando concentrar esforços”, contextualiza.
Já Sandro Benelli, conselheiro e fundador da b-Retail e especialista no varejo alimentar, é ainda mais taxativo ao declarar que o negócio nunca foi estratégico para a companhia, pois o grupo entendia essa operação apenas como um estímulo para alavancar fluxo de clientes nos hipermercados. “Isso já representa uma leitura equivocada pela crescente relevância e nível de atendimento das farmácias. A venda do Extra fez esse objetivo perder total sentido, e investidores como os do Casino têm sido cada vez mais pragmáticos nas suas decisões”, argumenta.