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Fitoterápicos: muito além do chazinho

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O trabalho com plantas na área de saúde hoje tem altas doses de ciência e tecnologia – em um processo que começa bem antes da colheita.

A busca por um estilo de vida saudável chegou para ficar: é cada vez maior o número de pessoas
que repensam suas escolhas e optam por alternativas mais naturais. E isso inclui os medicamentos. De acordo com a consultoria IQVIA, que acompanha o setor farmacêutico, entre 2020 e 2021 houve um crescimento de aproximadamente 20% no consumo de fitoterápicos – os remédios feitos à base de plantas.

O que muita gente não faz ideia é que a fitoterapia vai muito além dos tradicionais chás de plantas medicinais.

O conhecimento sobre o assunto evoluiu, técnicas de cultivo e de manejo foram aperfeiçoadas, e o trabalho com plantas na área de saúde hoje tem altas doses de ciência e tecnologia – em um processo que começa bem antes da colheita.

O conhecimento popular sobre as ervas, passado de geração para geração, é a origem de toda a fitoterapia – e até motivou a criação de uma área de estudos específica: a etnofarmacologia.

Alguns cientistas brasileiros dedicaram sua vida à pesquisa de plantas e se tornaram referência, como Francisco José de Abreu Matos, Elaine Elisabetsky, Elisaldo Carlini, Harri Lorenzi e Otto Gottlieb.

Ou seja: já é comprovado que diversas plantas medicinais realmente funcionam. Mas sem um método científico envolvido, é difícil assegurar-se de que o preparo vai resolver o problema do paciente.

O principal motivo é que, em plantas, é muito comum que as substâncias ativas tenham diferentes concentrações ao longo dos dias – às vezes, a mudança ocorre em questão de horas.

Isso tem a ver com diversos fatores, como as condições em que a muda foi plantada, o clima, a composição do solo, o método e horário da colheita.

 

Manejo das plantas

Nesse sentido, a engenharia genética e as ciências agronômicas são grandes aliadas: por meio de testes e cruzamentos e por meio de intervenções de manejo das plantas, é possível potencializar a presença das substâncias desejadas em uma planta e garantir a consistência da concentração.

No laboratório, além disso, as técnicas de mensuração se tornaram mais sofisticadas, o que proporciona mais precisão e qualidade a todo o processo, sendo que hoje existem métodos que podem medir ou estimar o teor de princípio ativo da planta ainda no campo.

Outro motivo é que diferentes espécies podem ter características muito semelhantes.

Por exemplo: quem é que nunca confundiu coentro e salsa no supermercado? Entre as plantas medicinais, que costumam ser menos conhecidas, isso ocorre com muito mais frequência – com o agravante de a pessoa confiar nelas para tratar um problema de saúde.

Isso significa que consumir uma cápsula de espinheira-santa, por exemplo, em vez de preparar um chá caseiro oferece muito mais garantia de que a pessoa terá a quantidade indicada da substância que trata seu problema no estômago, além da segurança de que aquela é a planta correta.

Mas com todo esse processo industrial, ainda é possível dizer que os medicamentos fitoterápicos são naturais? A resposta é sim.

Os itens adicionados no laboratório visam proporcionar condições para que o medicamento seja encapsulado, conservado e, uma vez ingerido, absorvido pelo organismo para desempenho de suas funções terapêuticas – ou seja: nenhum deles tem ação direta no tratamento.

O princípio ativo segue sendo o preparado de origem vegetal, da maneira seus princípios ativos como é encontrado na natureza, porém com a garantia de estar na concentração correta e com testes que asseguram sua segurança.

Além disso, por ser uma molécula natural, e não sintética, existe maior probabilidade de ela ser assimilada pelo organismo sem causar rejeição, diferentemente de muitas substâncias criadas em laboratório.

 

Mais opções terapêuticas

O conhecimento popular sobre as plantas medicinais e o desenvolvimento dos laboratórios dedicados à fitoterapia motivaram a inclusão desse tipo de produto na Rename, a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais do Sistema Único de Saúde.

A iniciativa visa ampliar as opções terapêuticas, promover a biodiversidade e desenvolver a cadeia produtiva.

O Ministério da Saúde (MS) também tem o programa Farmácias Vivas, que estabelece uma metodologia para todas as etapas da produção de fitoterápicos em pequena escala, a fim de apoiar a atenção básica.

Além disso, a produção de plantas para a indústria farmacêutica tem tudo a ver com sustentabilidade – no sentido mais amplo da palavra.

Alguns fornecedores investem em economia circular a fim de fortalecer todas as etapas do processo, em parceria com produtores locais e com iniciativas de comércio justo e preservação de áreas naturais.

A fitoterapia moderna, afinal, é uma forma mais natural de cuidar da saúde do corpo e dos nossos arredores. Que toda a biodiversidade e potencial agrícola do nosso País se transforme em cada vez mais qualidade de vida e sustentabilidade.

 

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Foto: Shutterstock

Fonte: Guia da Farmácia