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Wegovy: medicamento pode revolucionar a luta contra a balança

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Fabricado pela Novo Nordisk e comercializado nos Estados Unidos desde 2021, o fármaco tem sido apontado por muitos especialistas como um importante aliado no combate ao excesso de peso corporal. 

Mas para além de sua toda fama, qual é a verdadeira eficácia dessa medicação? 

“A semaglutida mostrou nos estudos clínicos uma média de perda de peso em torno de 17%, e até um terço dos pacientes no programa conseguiu um resultado em torno de 20%. Outras drogas testadas ficam entre 5-10%. Até o momento, ele é o medicamento aprovado com maior percentual de perda de peso”, explica Flávia Coimbra Pontes Maia, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (SBEMMG). 

 

Leia também: Anvisa aprova medicamento injetável para tratamento da obesidade

 

Inicialmente, a semaglutida foi introduzida no mercado para tratar o diabetes tipo 2, mas acabou surpreendendo e se mostrando eficaz também para fins de emagrecimento. 

“Ela age como um hormônio produzido no intestino, chamado GLP1, que atua no aumento da produção de insulina pelo pâncreas e por isso é usado no tratamento do diabetes. Além disso, retarda o esvaziamento do estômago e opera no sistema nervoso central dando uma sensação de saciedade”, enfatiza Flávia. 

Os resultados têm sido tão otimistas que o medicamento pode se tornar uma opção viável para a cirurgia de redução de estômago no futuro, dizem estudiosos. 

“A bariátrica possui mais de uma técnica disponível e pode atingir de 25 a 30% de perda ponderal entre o primeiro e segundo ano de pós-operatório”, ressalta Ana Paula Borges Santos, médica endocrinologista com mestrado pela UFMG.

Ela cita, porém, que há um novo grupo de drogas já disponíveis como a semaglutida e a terzipatide – que ainda não é vendida por aqui –, que demonstram melhores resuldatos em estudos: uma perda de 25% de peso ou mais em cerca de 36% dos participantes testados.

“Sendo assim, esses remédios poderão algum dia ser uma alternativa para alguns pacientes em lugar da cirurgia”, defende.

 

Uso e efeitos colaterais 

É importante ressaltar, contudo, que o uso do Wegovy deve ser feito somente com prescrição e acompanhamento médico. 

“Ele deve ser tomado conforme orientação de um médico especializado. O uso indiscriminado pode gerar alteração do trânsito intestinal: náuseas intensas, diarreia, vômitos e risco de pancreatite, especialmente em pacientes que utilizam algumas classes medicamentosas e consomem álcool”, alerta a nutricionista esportiva e comportamental Ruth Egg. 

A semaglutida é indicada para indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 27 ou 30 e que sofram de doenças relacionadas ao excesso de peso, como cardiopatias e diabetes. 

“Seu principal benefício está na perda sustentada de peso. Vale frisar que uma diminuição na ordem de 10% já é muito importante para reduzir os danos causados pela obesidade”, realça Flávia Coimbra Pontes Maia. 

Entretanto, a médica adverte que se for usado de maneira indiscriminada, o remédio pode aumentar o risco de eventos adversos na saúde além de dar uma falsa sensação de que o tratamento contra a obesidade pode ser algo simples.

“É um medicamento indicado para o tratamento de uma doença crônica. Não é para ser usado para perder uns quilinhos a mais que ganhamos nas festas de final de ano”, admoesta.

 

Leve no corpo, pesado no bolso 

Queridinho das celebridades nos EUA – com fãs convictos como o bilionário Elon Musk –, o Wegovy ainda não teve seu preço definido pela Anvisa. A expectativa, porém, é que ele chegue às prateleiras brasileiras com um valor tão salgado quanto o da América do Norte, onde o tratamento não sai por menos de R$ 6.000 ao mês. 

Aqui no Brasil, o Saxenda (liraglutida), que é outro medicamento já aprovado na mesma categoria e tem ação semelhante, embora seja aplicado diariamente, custa cerca de R$ 600 por embalagem com três doses.

“Essas medicações costumam ser mais caras para segurar um pouco do uso indiscriminado”, observa Ruth Egg. 

Ana Paula Borges Santos concorda e adiciona. “O custo deve ser ponderado por nós médicos para a prescrição individual, mas a possibilidade do uso de drogas novas com boa resposta terapêutica, ainda que caras, melhora o tratamento de um grupo de pacientes de forma imediata”, informa a médica. 

 

 

Novo estilo de vida 

Ainda que os efeitos da semaglutida sejam considerados expressivos, é imperativo que se façam ajustes consideráveis no estilo de vida para se livrar de vez dos quilos a mais. 

“Esses fatores são estratégias primordiais. A medicação pode ajudar, mas o que fará a pessoa manter o peso perdido é a alimentação saudável e o exercício. Não tem jeito”, aconselha Ruth. 

E esses hábitos precisam ser feitos de forma adequada e mantidos por toda a vida. 

“O uso de drogas nunca substitui a modificação de estilo de vida que inclui boa alimentação, assim como atividade física regular, especialmente para que se mantenha a perda ponderal que for obtida com o auxílio de drogas efetivas e prescritas de forma adequada por médicos”, indica Ana Paula Borges Santos. 

 

Remédio não faz milagre 

Ainda que seja comum o surgimento de drogas que prometem efeitos positivos na luta contra a balança, todos os médicos entrevistados concordam que nenhum deles tem poder milagroso. 

“Não existe milagre nem mágica. Deve-se levar a sério o tratamento de uma doença crônica como a obesidade que pode ocasionar problemas gravíssimos para a saúde como a hipertensão, doenças do coração e até mesmo alguns tipos de câncer”, salienta Flávia Coimbra Pontes Maia. 

Ela lembra ainda que esse embate contra o peso envolve não apenas medicamentos, mas sim acompanhamento médico e muita disciplina. 

“Só assim vamos conseguir reduzir o estigma do tratamento da obesidade e ajudar pessoas que sofrem com essa enfermidade a procurem ajuda sem medo de sofrer preconceito da família, amigos e até mesmo da própria equipe de saúde. Precisamos também que os órgãos governamentais forneçam condições para maior acesso de toda a população a tratamentos eficazes. Quem sabe assim possamos um dia erradicar essa epidemia mortal?”, arremata.

 

Foto: Pixabay

Fonte: O tempo