Esse hábito favorece o controle glicêmico entre pacientes com diabetes. Entenda por que isso acontece
AGÊNCIA EINSTEIN – “Vá caminhar com seu pet após fazer uma refeição, mesmo que você não tenha um”. Com essa brincadeira, o endocrinologista Clayton Macedo, que coordena o Núcleo de Endocrinologia do Exercício e do Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein e o ambulatório de Endocrinologia do Esporte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), incentiva a prática de exercícios e explica os benefícios da atividade física pós-prandial (após a refeição) no controle glicêmico de pacientes com diabetes tipo 2.
O assunto foi um dos temas discutidos por médicos no mês passado durante o Congresso Americano de Diabetes, nos Estados Unidos. A questão em debate era saber se um paciente com diabetes teria mais benefícios no controle da glicemia fazendo exercícios em jejum ou após se alimentar. A conclusão é que fazer alguma atividade física imediatamente após comer é uma excelente opção – daí veio a brincadeira de aproveitar e levar o pet para passear.
Geralmente, após uma refeição, os níveis de glicose no sangue aumentam. Por isso, ocorre uma elevação da produção de insulina para ajudar as células a utilizarem o açúcar como energia ou armazená-lo. No caso de pessoas com diabetes, o uso de medicamentos ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue. Evitar variações acentuadas nesses níveis é uma das dificuldades no gerenciamento da doença.
“As evidências mais robustas recomendam o exercício físico pós-prandial para pessoas com diabetes. Alguns estudos às vezes chegam a resultados diferentes por causa de seu desenho, do tipo de diabetes, da intensidade do exercício, da duração do treinamento, do uso ou não da insulina. São muitas variáveis, mas, em geral, as evidências demonstram que o controle glicêmico, a média da glicose no sangue e o perfil de lipídios melhoram com o exercício pós-prandial”, explicou Macedo.
O endocrinologista também ressalta que o tempo sedentário (aquele em que a pessoa fica sentada num sofá ou mesmo em frente às telas depois de comer) é outro fator de risco para diabetes, doenças cardiovasculares e obesidade. Portanto, realizar uma caminhada após se alimentar – mesmo que seja leve e por cerca de 15 a 30 minutos – é uma maneira saudável de reduzir esse tempo sedentário e diminuir os riscos associados a ficar sentado por muito tempo.
Leia também: Adultos com gordura no fígado têm 30% mais risco de desenvolver diabetes do tipo 2
Isso ocorre porque a caminhada leve, por exemplo, requer um envolvimento ativo dos músculos e utiliza o combustível dos alimentos no momento em que há uma maior circulação de glicose na corrente sanguínea. Dessa forma, quanto antes o diabético fizer o exercício, ou seja, logo após se alimentar, melhores serão os resultados para diminuir o pico de aumento da glicose pós-refeição.
“O paciente com diabetes que faz exercício e usa insulina para baixar a glicose tem mais risco de fazer episódios de hipoglicemia. Então, se ele fizer o exercício físico alimentado [quando a glicose aumenta no sangue], esse risco diminui consideravelmente. Esse é um argumento bem forte dos benefícios do exercício pós-prandial, além das outras evidências da literatura”, observa Macedo.
Os cientistas também discutiram os benefícios de o paciente com diabetes fazer “snacks de exercícios” (pequenas porções de exercícios) ao longo do dia. “Os estudos mostram que essa estratégia é muito importante para os pacientes diabéticos principalmente por interromper o longo tempo sedentário e dividir a atividade física em vários momentos, o que pode trazer benefícios no controle glicêmico”, disse Macedo.
E quem não tem diabetes?
A mensagem para pessoas sem diabetes é fazer o exercício físico regularmente, dentro da rotina, independente do horário (seja ele antes ou depois das refeições). Segundo Macedo, o exercício em jejum para quem não tem diabetes pode ser uma estratégia de adesão complementar ao processo de emagrecimento.
“Em geral, o individuo sem diabetes se predispõe a ficar em jejum e acaba não ingerindo alimentos muito calóricos. Mas, se ele reduzir calorias na dieta, isso vai ajudar na redução do valor calórico total independente do jejum ou não. O exercício físico acaba sendo uma atividade complementar dentro desse processo”, diz o médico.
Orientações para prática de exercícios
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as pessoas façam pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica de moderada intensidade por semana, o que equivale a 30 minutos, cinco vezes por semana, ou 50 minutos, três vezes por semana.
De acordo com Macedo, outra possibilidade preconizada em guidelines é realizar 75 minutos de exercícios de alta intensidade por semana, nos quais a pessoa não consegue nem falar nem cantar. Além disso, é recomendado que qualquer pessoa realize exercícios resistidos (de força, como musculação ou treinos usando o peso do próprio corpo ou elásticos) de duas a três vezes por semana.