A Doença de Alzheimer é, sem sombra de dúvidas, uma das doenças que mais têm chamado atenção dos pesquisadores nos últimos anos. Há uma espécie de clamor da sociedade no mundo todo, quando se trata do assunto Demência, mais especificamente o Alzheimer
Embora identificada pela primeira vez em 1906, a doença peculiar dos neurônios do córtex central, só teve um primeiro medicamento desenvolvido para tratá-la em meados dos anos 1990.
Na sequência, uma série de outros medicamentos foram desenvolvidos. Falo do Donepezil, Galantamina, Rivastigmina e Memantina, o arsenal disponível, capaz de tratar, melhorar a qualidade de vida e servir de mecanismo de atraso para o avanço da doença de Alzheimer. Pacientes quando diagnosticados de forma precoce ou ainda em fase inicial, pelo médico, tendem a apresentar resultados interessantes no uso dos medicamentos acima. Em fases avançadas, o sucesso terapêutico fica mais difícil de ser alcançado.
Atenção, somente o médico, preferencialmente, mas não exclusivamente, o geriatra ou o neurologista podem prescrever os medicamentos para o tratamento da doença de Alzheimer.
Entretanto, nenhum destes medicamentos que eu citei acima é capaz de curar, de paralisar totalmente o avanço da doença.
Por esta razão, nos últimos anos, principalmente de 2010 para cá inúmeros esforços têm sido empregados na busca da cura da doença de Alzheimer, tentando compreender primeiro as causas para depois estabelecer estratégias contra o avanço da doença.
Estive em julho de 2023 na Conferência Internacional de Alzheimer,onde pude ter acesso a muitas informações de grande importância que envolvem diagnóstico e tratamento da demência de Alzheimer. Como membro da Alzheimer Association, atuo diretamente na pesquisa da doença de Alzheimer e faço parte de grupos de pesquisa de vários países, com alguns dos cientistas mais renomados do mundo
Um dos fatos que chamou a atenção na Conferência de Alzheimer, em Amsterdam, foi a divulgação de resultados de uma substância chamada Donanemab, medicamento desenvolvido para tratar o Alzheimer. O Donanemab atua com a função de eliminar uma substância chamada beta amiloide, que em excesso no cérebro provoca a formação das placas senis, uma das causas da doença de Alzheimer. As placas senis, quando formadas “matam os neurônios”.
À primeira vista pode parecer uma boa notícia, mas infelizmente não é, pois embora o Donanemab tenha estes efeitos, clinicamente ele não consegue trazer resultados, isto é, não cura a doença, tampouco impede o avanço, ao menos é o que se pode observar com os resultados divulgados.
Digamos que os pacientes que receberam Donanemab durante a pesquisa tiveram o avanço da doença, ainda que lentamente. O medicamento conseguiu retardar o declínio cognitivo, mas isso é um pouco diferente do que afirmar que retardou a doença, propriamente dita.
Foram estudadas 1700 pessoas, com idade variando entre 65 e 85 anos, durante 18 meses e outra questão que preocupa muito a nós cientistas é o fato de que o Donanemab e outros medicamentos do tipo anticorpos monoclonais, trazem o risco de sangramento cerebral. Neste estudo do laboratório Lilly com o Donanemab, por exemplo, aconteceram 3 mortes devido a esta questão. Quase 25% dos pacientes testados apresentaram inchaço cerebral e cerca de 20% tiveram micro hemorragias, por isso precisamos ter muita atenção.
E finalizando, outra questão que nos deixou intrigados: 90% dos pacientes eram brancos, sendo assim não há como afirmar se haverá reprodução dos resultados em outras raças.
Os avanços têm acontecido na busca da cura ou melhores tratamentos para a doença de Alzheimer, mas temos de estar atentos ao que realmente pode ou não, ser considerado cura.
Agora em julho de 2024, estarei novamente, na Filadelfia, EUA, na Conferência Internacional de Alzheimer,onde certamente muitas novidades surgirāo.