Os especialistas destacam a importância do teste para a saúde pública, considerando que os norovírus e rotavírus são os principais vírus causadores de diarreia aguda no Brasil
Desenvolvido com participação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o primeiro kit para diagnóstico molecular de rotavírus e norovírus do Brasil deve contribuir para vigilância dos patógenos e investigação de surtos de diarreia aguda. A inovação foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O teste do tipo quadriplex permite quatro investigações simultâneas, incluindo rotavírus, dois genogrupos de norovírus e um controle interno, que aumenta a confiabilidade dos resultados.
O kit foi desenvolvido pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) em parceria com os três laboratórios de referência para rotaviroses do país, a partir de demanda da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública do Ministério da Saúde (CGLAB/MS). O IOC/Fiocruz participou do desenvolvimento do teste através do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental, que atua como referência regional para rotaviroses junto ao Ministério da Saúde e à Organização Mundial da Saúde (OMS). Também participaram o laboratório de referência regional do Instituto Adolfo Lutz (IAL) e o laboratório de referência nacional do Instituto Evandro Chagas (IEC).
Os especialistas destacam a importância do teste para a saúde pública, considerando que os norovírus e rotavírus são os principais vírus causadores de diarreia aguda no Brasil e no mundo, com impacto principalmente na saúde de crianças menores de cinco anos e idosos, que são mais vulneráveis à doença.
“O kit vai permitir o diagnóstico mais rápido em casos de diarreia aguda. Isso é importante durante surtos, para adotar medidas de controle e, no contexto da vigilância, para detectar precocemente mudanças na transmissão desses vírus. Também contribui para monitorar a eficácia da vacinação para rotavírus, que reduziu significativamente as infecções no Brasil, protegendo as crianças de casos graves de diarreia por este agente”, afirma o coordenador do Laboratório de Referência Regional para Rotaviroses do IOC/Fiocruz, Tulio Fumian.
“O kit permite a padronização metodológica nos laboratórios do país, tornando os resultados mais comparáveis. Além disso, é produzido com 100% de insumos nacionais, o que fortalece o conhecimento e a detenção de tecnologia no Brasil”, destaca a coordenadora de diagnóstico in vitro do IBMP, Irina Riediger.
O diagnóstico molecular de rotavírus e norovírus é baseado na detecção do material genético dos patógenos em amostras de fezes. Atualmente, os três laboratórios de referência do país realizam esta detecção com metodologias próprias, chamadas de in house, utilizando insumos de diferentes fornecedores. O novo kit de diagnóstico padroniza a metodologia e reúne todos os insumos necessários para o exame, com reagentes nacionais produzidos pelo IBMP.
Os coordenadores dos laboratórios de referência forneceram assessoria científica para o desenvolvimento do kit que passou por duas rodadas de testes de validação, sendo a primeira no IBMP, que fabricou o produto, e a segunda nos laboratórios de referência. “Com a metodologia in house, são realizados três testes separados, um para rotavírus e dois para norovírus. Com o kit, os três testes são feitos de uma só vez e o controle interno indica se o procedimento de extração do RNA foi feito de forma correta. Isso agiliza bastante a realização dos exames e traz mais confiabilidade sobre os resultados gerados”, explica a coordenadora adjunta do Laboratório de Referência Regional para Rotaviroses do IOC/Fiocruz, Fernanda Burlandy.
O desenvolvimento do teste levou cerca de dois anos. Com a aprovação da Anvisa, o kit poderá ser comercializado. A adoção da tecnologia no Sistema Único de Saúde (SUS) depende de avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) e de decisão do Ministério da Saúde.
Segundo os especialistas, a realização do teste nos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) dos estados pode acelerar ainda mais os diagnósticos das infecções. “Hoje, todos os estados precisam mandar amostras para os laboratórios de referência para obter o diagnóstico molecular. Com o kit, poderemos capacitar os Lacens para realizar esse exame, oferecendo um diagnóstico mais rápido”, comenta Tulio.