CMED publicou o cálculo do fator Y do reajuste de preços de medicamentos no Brasil para o ciclo 2025-2026
Na última segunda-feira (17), a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) anunciou o Fator Y para o reajuste anual de preços de medicamentos de 2025, ficando em 0%. Isso uma vez que o saldo acumulado dos anos anteriores (-2,1%) compensou totalmente o aumento de câmbio e das tarifas de energia elétrica de 2024.
O fator Y ajusta os preços com base na variação de custos não capturada pelo índice oficial de inflação (IPCA), especificamente mudanças na taxa de câmbio e nas tarifas de eletricidade.
“Juntando todas as peças, estimamos que o reajuste de preços da CMED fique ligeiramente abaixo de 4% e, portanto, fique atrás do IPCA de 2025 (XP esperava em 6,1%). Além disso, observamos que o saldo acumulado deste ano foi pior do que a nossa estimativa (-0,7% versus -0,3%) e, portanto, é um deflator do Fator Y para o próximo ano”, avaliaram os analistas da XP em relatório.
Os analistas da XP aproveitaram a oportunidade para atualizar seus modelos, incorporando um ajuste CMED de 3,9% e, assim, reduziram o lucro líquido esperado para 2025 em toda a sua cobertura em cerca de 7%, em média.
O BTG Pactual aponta que os varejistas do setor farmacêutico sempre foram vistos como opções mais resilientes em período de maior aversão ao risco (que espera que continue nos próximos anos), com um CAGR (Taxa de Crescimento Anual Composta) de vendas de 13% desde 2000 e o envelhecimento contínuo da população brasileira.
Porém, mais recentemente, o fluxo de notícias sobre os preços para 2025 pesou sobre o desempenho das ações.
Para os analistas do banco, os preços mais baixos devem afetar diretamente a alavancagem operacional dos varejistas farmacêuticos e, ao mesmo tempo, prejudicar a dinâmica do capital de giro no curto prazo devido ao ajuste de estoque esperado.
O BTG ressalta que, desde 2015, há uma correlação de 0,8 entre a variação da margem bruta do segundo trimestre da RD Saúde (RADL3) e os aumentos de preços de medicamentos e uma correlação de 0,87 entre a variação da margem bruta do ano anterior e os aumentos de preços de medicamentos.
Os analistas mencionam que a RD, por exemplo, tem cerca de 70% de suas vendas sujeitas à regulação de preços (42% das vendas são medicamentos de marca e 12% são genéricos). “No entanto, destacamos como a redução dos descontos para os consumidores poderia oferecer uma forma de compensar o efeito dos preços máximos mais baixos para o consumidor (o desconto médio dos varejistas farmacêuticos para os consumidores é de cerca de 25%)”, avaliam.
O Itaú BBA reforça a visão de que o fator Y é negativo para as farmacêuticas, com reajuste de preços de medicamentos abaixo das expectativas e da inflação.
“Após a divulgação dos fatores X e Y, acreditamos que o reajuste de preços de medicamentos deste ano será em torno de 3,7% em média, abaixo da inflação dos últimos doze meses de fevereiro de 2025 (base para o cálculo do reajuste). Isso contrasta com os últimos dois anos, quando os reajustes foram praticamente em linha com a inflação”, avalia o BBA.
Tal cenário, para o BBA, pode prejudicar a capacidade das farmácias de entregar alavancagem operacional, particularmente no 2S25, pois espera que a inflação acelere ao longo do ano.
Também é importante lembrar que neste ano, além do reajuste anual de preços, outra medida que impacta os preços ocorrerá ao mesmo tempo: a Resolução CMED 2/2024 reduz os preços máximos de medicamentos para refletir uma redução na carga tributária que ocorreu anos atrás (ou seja, a exclusão do imposto ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins), o que pode levar a uma redução nos preços ao consumidor de até 2,59%, condicionada à carga tributária específica de cada produto.
O BTG ressalta que, embora o fluxo de notícias do setor signifique espaço limitado para alavancagem operacional no curto prazo e nenhuma pressa para comprar as ações, continua a ver a RD como uma opção mais resiliente a médio/longo prazo.
O Goldman Sachs, por sua vez, vê em seu universo de cobertura as empresas Hypera (HYPE3), Blau (BLAU3) e Viveo (VVEO3) como empresas com exposição direta a essa discussão.
“Embora à primeira vista a medida possa ser lida como um pouco negativa para a Hypera, notamos que A) cerca de 60% do portfólio da empresa não está sujeito a tais reajustes regulatórios, e B) para os cerca de 40% restantes, cerca de metade está na categoria de genéricos, na qual a empresa poderia compensar reajustes menores com uma mudança em sua estratégia de desconto em meio à alta competição neste segmento”, avaliam os analistas.
Por causa desse contexto, o Goldman acredita que o impacto potencial na linha superior da empresa em 2025 pode ser um tanto limitado neste momento, apesar da mensagem suave para a indústria. “Em nossa opinião, o tema principal para a Hypera nos próximos trimestres ainda será o ritmo de otimização do capital de giro”, apontam.