Relatório destaca a relação entre consumo de bebidas alcoólicas e câncer, defendendo medidas urgentes para conscientização na Europa
Um documento recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em fevereiro de 2025, enfatizou a necessidade urgente de incluir mensagens claras e obrigatórias em embalagens de bebidas alcoólicas em toda a Europa. O objetivo é alertar a população sobre os riscos à saúde associados ao consumo desses produtos, especialmente sua relação com o desenvolvimento de câncer.
De acordo com a análise, a União Europeia registrou, em 2019, um consumo médio de álcool por pessoa duas vezes superior à média global, posicionando a região como a líder mundial nesse indicador. Estima-se que, anualmente, cerca de 800 mil óbitos no continente estejam vinculados direta ou indiretamente ao álcool. Em 2020, aproximadamente 112 mil novos diagnósticos de câncer e mais de 50 mil mortes pela doença foram atribuídos ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Entre os tipos mais comuns, destacaram-se os cânceres colorretal e de mama, que representaram a maior parcela dos casos.
Apesar de décadas de evidências científicas confirmando a conexão entre álcool e câncer, pesquisas citadas no relatório apontam uma alarmante falta de esclarecimento público. Uma pesquisa realizada em 14 nações europeias revelou que apenas 15% dos participantes reconheciam a associação entre álcool e câncer de mama, enquanto 39% tinham conhecimento do vínculo com tumores no cólon.
Em entrevista ao Medscape, o Dr. David Hammond, especialista em saúde pública da Universidade de Waterloo (Canadá) e consultor técnico da OMS, criticou a normalização cultural do álcool em comparação a outras substâncias, como o tabaco. Ele ressaltou que campanhas publicitárias e estratégias de marketing da indústria de bebidas frequentemente omitem ou minimizam os riscos, reproduzindo táticas semelhantes às já utilizadas pela indústria tabagista no passado. “Há uma narrativa que precisa ser desconstruída: o álcool não é um produto inofensivo. Sua relação com doenças graves exige transparência e regulamentação rigorosa”, afirmou Hammond.
A OMS defende que a implementação de alertas visíveis nos rótulos, aliada a políticas públicas educativas, pode reduzir a desinformação e incentivar escolhas mais conscientes entre os consumidores.