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HIV/Aids: estudo inédito sobre resistência ao Dolutegravir é publicado por farmacêutico

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Pesquisa incluiu pacientes virgens de tratamento que iniciaram a terapia antirretroviral (TARV) no Brasil entre 2017 e 2019

 

 

O farmacêutico Igor Francisco Chagas realizou um estudo de vida real inédito no Brasil, publicado em periódico internacional, sobre a resistência ao Dolutegravir (DTG), inibidor de integrase de segunda geração utilizado para o tratamento de pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA). A pesquisa de dissertação do mestrado foi defendida no Programa de Pós-graduação em Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Intitulada “Fatores associados às mutações de resistência à integrase em indivíduos iniciando a terapia antirretroviral contendo dolutegravir: coorte retrospectiva, Brasil 2017-2019”, a pesquisa analisou dados secundários de três bases nacionais do Ministério da Saúde voltadas para o cuidado de PVHA: Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom), Sistema de Informação para Rede de Genotipagem (Sisgeno) e o Sistema de Controle de Exames Laboratoriais de CD4+/CD8+ e Carga Viral do HIV (Siscel), cedidos ao Grupo de Estudos Avançados em Farmacoepidemiologia de Doenças Infecciosas (GEADIC).

 

 

 

 

O estudo focou em pacientes virgens de tratamento que iniciaram a terapia antirretroviral (TARV) no Brasil entre 2017 e 2019. Inicialmente, foram identificados 202.607 indivíduos no Siclom. Quase 167.500 deles iniciaram esquemas contendo Tenofovir, Lamivudina e Dolutegravir (TDF/3TC+DTG). Destes, 1.050 (0,63%) tinham registro de realização de genotipagem no Sisgeno, dos quais 430 fizeram o exame após 12 semanas do início da terapia – critério adotado para inclusão na análise de resistência.

“No nosso estudo, identificamos 30 (7,0%) indivíduos com resistência ao DTG, de acordo com o registro no Sisgeno. As mutações maiores N155H (n=9), E138K (n=7) e R263K (n=5) foram as mais prevalentes entre homens, brancos e aqueles com contagem de HIV-VL > 100.000 cópias/mL, que mudaram para regimes alternativos ou apresentaram mutações de resistência a outras classes de ARV. Apesar do surgimento de resistência, o DTG é um medicamento altamente eficaz no tratamento do HIV, com mais de 90% dos pacientes alcançando supressão viral sustentada se aderirem ao tratamento”, destaca o pesquisador Igor Chagas.

O estudo demonstra que a utilização do DTG em esquemas de primeira linha não induz resistência aos inibidores de integrase em larga escala, dada a baixa proporção de resistência encontrada. Os resultados confirmaram a alta capacidade do DTG de impedir o desenvolvimento de mutações — conhecida como barreira genética elevada —, ou seja, é difícil o vírus criar resistência ao medicamento.

O especialista ressalta que o esquema TDF/3TC+DTG é a primeira linha de tratamento para HIV/aids no Brasil, representando 94,4% das primeiras dispensações aos pacientes. “Então, o impacto para a vida desses pacientes é enorme. Os resultados fornecem contribuições valiosas para as PVHA, especialmente para aquelas cujo tratamento é baseado em DTG, ao caracterizar o perfil farmacoepidemiológico dessas resistências. Além disso, os achados podem orientar profissionais de saúde no fortalecimento do uso do DTG e subsidiar políticas públicas de saúde no Brasil e globalmente”, explica o farmacêutico.

No entanto, Igor Chagas destaca que é essencial que a vigilância farmacoepidemiológica do DTG seja contínua. “Um ponto de atenção importante é a adequada orientação das PVHA que utilizaram o antirretroviral Raltegravir (RAL), já que a maioria dos indivíduos com mutações relevantes no gene da integrase havia utilizado RAL. Essa substituição do DTG pelo RAL era uma prática anteriormente adotada durante a gestação e em casos de coinfecção HIV-tuberculose, mas que não é mais recomendada pelos protocolos atuais. Além da correta orientação quanto à adesão ao tratamento. Em casos de falha virológica, a intervenção deve ser imediata. Essas ações são essenciais para maximizar o DTG na resposta global ao HIV”, pontua. Clique aqui e leia o estudo na íntegra!

 


 

Números

  • Em 2023, entre 36,1 milhões e 44,6 milhões de pessoas viviam com HIV em todo o mundo, incluindo cerca de 1,5 milhão de crianças menores de 15 anos.
  • No mesmo ano, foram registradas entre 1 milhão e 1,7 milhão de novas infecções por HIV, e estima-se que 630 mil pessoas tenham perdido a vida em decorrência de doenças relacionadas à aids (Unaids, 2023).
  • No Brasil, foram contabilizados 1,1 milhão de casos desde 1980, com média anual de 36 mil novos casos nos últimos cinco anos.
  • Desde o início da epidemia, foram registrados 392.981 óbitos por aids.
  • Em 2023, a taxa de detecção de aids foi de 17,8 casos por 100 mil habitantes, com maior incidência entre indivíduos de 25 a 34 anos. A principal via de transmissão permanece sendo a sexual (75,3%) em pessoas com 13 anos ou mais.
  • Entre 2007 e junho de 2024, foram notificados 541.759 casos de HIV, com predominância de 70,7% no sexo masculino.

 


 

Resistência em Perspectiva Global

De acordo com o último Relatório de Resistência aos Medicamentos para o HIV (HIVDR) da Organização Mundial da Saúde (OMS), a proporção de resistência ao DTG varia de 3,9% a 19,6% entre indivíduos com viremia detectável em uso de TARV com DTG. Estudos longitudinais e coortes observacionais, como o realizado por Igor Francisco Chagas no Brasil, são essenciais para ampliar o entendimento dos fatores de risco e padrões de resistência aos ARVs em nível global.

 

 

 

Fonte: CFF
Foto: CFF