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Chega ao Brasil, o Donanemab, medicamento para tratar o Alzheimer!

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Crônica do professor Dr.Gustavo Alves esclarece sobre o novo medicamento que chegou aos brasileiros para o tratamento do Alzheimer.

 

 

Em julho de 2024, estive na Conferência mundial de Alzheimer, na Filadelfia, e uma das grandes notícias, sem dúvida alguma, foi o lançamento, nos Estados Unidos, de um medicamento considerado promissor no tratamento da Doença de Alzheimer, o Donanemab. Me lembro de ter participado de várias discussões a respeito dessa droga e de outras, também em estudo.

A novidade, é que poucos meses depois, exatamente neste dia 22 de abril, o Donanemab chegou ao Brasil trazendo a mesma esperança e otimismo quanto à progressão desta demência irreversível.

 

Vamos lá, algumas notícias boas e outras ruins.

A doença de Alzheimer continua não tendo cura, e pode, muitas vezes, ter sua progressão prorrogada por medicamentos já existentes. A doença avança, mas digamos de uma forma um pouco mais lenta.

  • O Donanemab é uma nova tecnologia, atua na fase inicial e pode trazer melhor qualidade de vida durante um determinado tempo, que pode variar de paciente para paciente.
  • O Donanemab é uma droga classificada como “modificadora de doença”, isto é, um medicamento que ataca o processo fisiopatológico, mas não trata os sintomas. Ele faz parte de uma nova classe de fármacos conhecidos como anticorpos monoclonais! Atualmente existem outros monoclonais para tratamento do câncer, por exemplo.
  • O Donanemab tem seu uso restrito a pacientes com diagnóstico de Alzheimer confirmado por meio de biomarcadores, os quais precisam ser identificados por métodos que apenas alguns centros de diagnóstico no Brasil realizam. Falamos, por exemplo, do PET-CT (tomografia por emissão de prótons e tomografia computadorizada) com marcador de beta amiloide. Não é um exame simples e somente médicos especializados conseguem interpretá-lo.
  • O Donanemab será indicado em pacientes com uma característica marcante quanto a um gene chamado APOE épsilon-4, sendo assim se requer a identificação deste para o início do uso.
  • Pessoas com duas cópias deste gene não podem usar Donanemab por risco aumentado de efeitos adversos. Pessoas com uma cópia(heterozigotas) ou sem nenhuma cópia de APOE épsilon-4 podem usar, pois terão menor chance de ter esses efeitos prejudiciais
  • Os planos de saúde não incluem a pesquisa destes biomarcadores em suas coberturas e os exames são muito caros.
  • Os planos de saúde não incluem o fornecimento de Donanemab, tratando-se de um medicamento muito caro e que embora tenha sido aprovado ainda vai demorar algumas semanas para estar disponível no Brasil.
  • O Donanemab funciona do ponto de vista terapêutico, apenas em estágios iniciais da doença, com um possível retardo do declínio cognitivo leve de até 7 meses, conforme os estudos já realizados. Ele se liga às placas de beta amiloide, ajudando a removê-las por meio de um processo de fagocitose.
  • Os efeitos do Donanemab quanto à redução do avanço da doença foram observados em cerca de 30% dos pacientes com doença de Alzheimer nas condições acima citadas.
  • Donanemab só será usado em pacientes com sintomas de Alzheimer, mesmo que tenham beta amiloide positiva!
  • Os médicos, mesmo os especializados, precisarão se preparar para que possam aprender a prescrever este medicamento.
  • Os efeitos benéficos do Donanemab foram confirmados por meio de um estudo chamado TRAILBLAZER. durante 18 meses de tratamento. Mas atenção, isso não significa que o tratamento deve durar 18 meses.

 

 

 

Leia também: Novo remédio para tratar Alzheimer em estágio inicial é aprovado pela Anvisa

 

 

  • Esse estudo mostrou um importante efeito adverso chamado ARIA, uma espécie de inchaço e sangramento cerebral associada ao uso do medicamento.
  • Pessoas que tiveram AVC não podem usar o Donanemab, mesmo que tenham diagnóstico de Alzheimer.
  • Pessoas que usam anticoagulantes também não podem usar o Donanemab.
  • Por ser uma droga modificadora de doença, o Donanemab representa um importante avanço quanto comparado aos tratamentos atualmente disponíveis, embora já existam drogas semelhantes a ele fora do Brasil, como o Lecanemab, por exemplo.

 

 

 

 

Lembre-se, o Donanemab representa um avanço, mas não cura, e nem todas as pessoas com Alzheimer terão indicação para utilizá-lo.

Este medicamento só deve ser usado após minuciosa avaliação médica!

 

Gustavo Alves Andrade dos Santos

Farmacêutico, Doutor em Biotecnologia

Professor na Faculdade de Medicina São Leopoldo MANDIC de Araras

Coordenador do grupo técnico de Farmácia Hospitalar do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo.

Twitter: @gustavofarmacia

Instagram: @gusfarma   Email: gusfarma@hotmail.com

 

 

 

Fonte: Gustavo Alves
Foto: Reprodução