Nos Estados Unidos, o medicamento já foi adotado por médicos e pacientes. No Brasil, o pedido foi submetido à Anvisa e está em avaliação.
O Fantástico deste domingo (22) falou sobre um novo medicamento que promete aliviar, em poucos dias, os sintomas da depressão pós-parto. Nos Estados Unidos, ele já foi adotado por médicos e pacientes. No Brasil, o pedido foi submetido à Anvisa e está em avaliação.
A casa da publicitária Shari Eisenberg é cheia de vida. Mãe solo de Mia, de seis anos, e Sadie, de quase um ano, ela divide a rotina entre brincadeiras, risadas e cuidados com as filhas. Com o apoio dos avós e de uma babá, Shari consegue administrar a rotina da família. Mas nem sempre foi assim.
Após o nascimento da primeira filha, Shari enfrentou um período difícil.
“Comecei a sentir uma tristeza absoluta. Alguém vinha falar comigo, eu começava a chorar. Minhas amigas começaram a perceber que não estava normal e disseram pra eu procurar ajuda. Em cinco minutos na sessão de terapia, não conseguia parar de chorar, e a psiquiatra disse: ‘acho que você está com depressão pós-parto’”, conta.
Na época, ela foi aconselhada a tomar antidepressivos e remédio para ansiedade, além de fazer terapia. Sem tempo para as sessões, seguiu apenas com os medicamentos, que demoraram a fazer efeito e causaram efeitos colaterais. Foram cinco anos até que ela se sentisse pronta para ter outro filho.
Durante a segunda gravidez, Shari se preparou. Procurou um médico antes mesmo do parto. E veio o alívio: o médico disse que havia um novo medicamento no mercado, o primeiro específico para depressão pós parto. Ela comprou e aguardou o nascimento da bebê. Quando a bebê tinha um mês e ela sentiu os primeiros sintomas de uma nova depressão.
“Uma noite, as duas começaram a chorar ao mesmo tempo. Me senti sobrecarregada, fora de controle. Gritei no banheiro e percebi que tinha chegado ao meu limite”, relembra.
Na noite seguinte, tomou o primeiro comprimido do novo remédio. O efeito foi praticamente imediato.
“Em dois dias, já me sentia diferente. Ao fim dos 14 dias de tratamento, me sentia como a ‘antiga’ eu. Estava feliz, curtindo as crianças, a maternidade.”
A inovação no tratamento
A psiquiatria Júlia Riddle explica que, até a descoberta do novo remédio, o tratamento era feito com antidepressivos comuns, que demoram a fazer efeito. A urgência das mães com recém-nascidos exigia uma solução mais rápida. Foi assim que surgiu a zuranolona, o primeiro comprimido específico para depressão pós-parto.
“Os médicos usaram dois grupos: um de mulheres com histórico de depressão pós-parto e outro de mulheres sem esse histórico. Aí, elevaram o nível de progesterona e estrogênio nas pacientes pra imitar o que acontece durante a gravidez. E depois retiraram de forma abrupta. As mulheres com histórico de depressão pós-parto voltaram a sentir os sintomas, as que não tinham, não apresentaram sintomas”, explica a médica.
O medicamento atua diretamente no sistema GABA, responsável por regular o humor e o sono. A queda brusca de hormônios após o parto reduz a atividade desse sistema, o que pode desencadear a depressão. A zuranolona ajuda a restaurar esse equilíbrio.
Testes clínicos realizados na Universidade da Carolina do Norte mostraram resultados promissores: 85% das pacientes apresentaram melhora significativa em poucos dias. O tratamento dura apenas duas semanas, com efeitos que se estendem por pelo menos um mês e meio.
A zuranolona foi aprovada pela FDA, agência reguladora dos Estados Unidos, em agosto de 2023, e passou a ser mais adotada em 2024.
Disponibilidade e expectativa no Brasil
No Brasil, a expectativa é que a Anvisa aprove o medicamento até 2027. O preço ainda não foi divulgado, mas nos EUA o tratamento custa cerca de R$ 88 mil.
“Consegui amar minha bebê como ela merecia. Hoje, me sinto como se realmente pudesse caminhar na praia e aproveitar esses momentos”, diz Shari, emocionada.
Sintomas depressão pós-parto
É comum que mães se sintam tristes, sobrecarregadas e perdidas nas primeiras semanas após o parto — o chamado “baby blues”. Para diferenciar essa tristeza de uma depressão, é preciso dar atenção aos sintomas.
“Os sintomas incluem se sentir triste, desconectada, sem conseguir sentir amor pelo bebê, um sintoma muito comum é checar toda hora se o bebê está bem e respirando, irritabilidade, agitação, dificuldade de concentração e, em casos severos, a pessoa pode até pensar em suicídio e até em machucar o bebê”, relata