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Brasileiros não conseguem controlar diabetes e hipertensão mesmo quando tratados

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Estudo revela que apenas 12,7% dos pacientes conseguem controlar pressão arterial e glicemia; maioria convive com risco elevado de infarto, AVC e morte precoce.

 

Mesmo sob tratamento, a maioria dos brasileiros diagnosticados com hipertensão e diabetes tipo 2 não consegue manter essas doenças sob controle. Apenas 12,7% dos pacientes atingem simultaneamente as metas recomendadas para pressão arterial e glicemia, o que os coloca majoritariamente nas faixas de risco cardiovascular alto (23,9%) ou muito alto (76,1%). Os dados fazem parte do SNAPSHOT, estudo global com braço brasileiro, apresentado no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

 

A pesquisa analisou 394 adultos atendidos em 11 centros especializados, públicos e privados, distribuídos pelas cinco regiões do país. Com base em registros médicos e formulários preenchidos pelos profissionais de saúde, os resultados revelam um quadro preocupante: apenas 28,9% tinham a pressão sob controle e 39,1% mantinham níveis adequados de hemoglobina glicada, marcador do controle glicêmico no último mês. O principal objetivo do estudo foi traçar um retrato do perfil clínico desses pacientes e avaliar o cumprimento de metas de tratamento segundo diretrizes internacionais.

 

“O resultado não nos surpreende, mas constrange”, afirma Emilton Lima Junior, cardiologista e coordenador nacional do estudo, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele observa que as complicações típicas de ambas as doenças — como amputações, lesões oculares e insuficiência renal — continuam presentes no dia a dia da prática clínica.

 

Além disso, o Brasil segue um padrão global: resultados semelhantes foram encontrados em outras partes do mundo. Ainda assim, o cenário pode ser ainda mais grave fora da amostra, considerando que muitas pessoas nem sabem que têm essas condições. Estima-se que mais da metade dos hipertensos não recebeu diagnóstico, segundo a OMS.

 

Outro alerta do estudo é a sobreposição entre hipertensão e diabetes tipo 2. De acordo com Renata Lima, gerente médica da Servier, cerca de 30% dos hipertensos também são diabéticos, e cerca de 80% dos diabéticos convivem com a hipertensão. Esse quadro de “multimorbidade” aumenta exponencialmente o risco de eventos cardiovasculares graves. “A hipertensão isolada já é o principal fator de risco para morte cardiovascular. Quando combinada com o diabetes, esse risco dobra ou triplica”, explica Lima Junior.

 

 

O levantamento mostra ainda que 93% dos participantes tinham pelo menos uma outra comorbidade associada, como dislipidemia, doença arterial periférica ou histórico de infarto. A obesidade era prevalente: 85% dos avaliados apresentavam IMC médio de 30,2 kg/m².

 

Mesmo com ferramentas clínicas para estimar o risco, os médicos subestimaram a gravidade em quase metade dos casos: 15,6% dos pacientes foram classificados como de risco moderado, embora as diretrizes indiquem que todos estavam em situação de alto ou muito alto risco. “O tempo da prática médica não acompanha a velocidade das novas diretrizes, que mudam a cada dois anos, com metas mais rígidas”, observa Lima Junior.

 

Além disso, ele aponta outro fator relevante: a adesão ao tratamento. A maioria dos pacientes precisa tomar entre 4 e 15 comprimidos por dia, o que torna o seguimento difícil. “Quem se lembra de tomar tanta pílula?”, questiona. Muitas vezes, são necessárias múltiplas classes de medicamentos para controlar a pressão e a glicemia de forma eficaz.

 

Embora haja opções modernas como os comprimidos de dose fixa combinada, que reúnem dois ou mais princípios ativos e facilitam o tratamento, essas formulações ainda não são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo o Ministério da Saúde, a adoção de novas tecnologias depende de avaliação da Conitec, e não há propostas em análise para incluir esse tipo de medicação para hipertensão e diabetes.

 

O controle das doenças vai além dos remédios. “Não é só medicação”, reforça Renata Lima. Mudanças no estilo de vida, como alimentação saudável, atividade física regular, sono de qualidade e redução do estresse, são pilares essenciais para o sucesso terapêutico.

 

Ainda assim, o esforço compensa. Lima Junior destaca que manter a pressão sob controle em um paciente hipertenso aos 50 anos pode aumentar sua expectativa de vida em até 10%. “É como se, a cada dez dias com a pressão controlada, ele ganhasse um dia a mais de vida.”

 

Fonte: CFF
Foto: Reprodução