De vírus amazônico a epidemia em expansão: Espírito Santo lidera número de casos, e disseminação da doença já atinge quase todo o país, desafiando cientistas e autoridades de saúde.
A febre oropouche deixou de ser uma doença isolada da Região Amazônica para se tornar um problema de saúde pública nacional. Em 2025, o Brasil já soma mais de 11 mil casos confirmados da infecção viral transmitida pelo mosquito-pólvora, com registros em 18 estados e no Distrito Federal. O Espírito Santo, distante quase 3 mil quilômetros do epicentro original da doença, tornou-se o estado com mais notificações, contabilizando 6.318 ocorrências. Especialistas investigam as causas dessa rápida dispersão enquanto gestores públicos correm para conter a circulação do vírus, que encontra solo fértil em populações sem imunidade prévia e ambientes com forte atividade agrícola.

A expansão da oropouche acende um alerta duplo: além da ameaça sanitária, há um sinal claro das consequências ambientais e climáticas extremas, como as provocadas por El Niño. Estudos apontam que 60% da disseminação do vírus tem relação direta com alterações no padrão de temperatura e chuvas. A nova linhagem viral que circula pelo Brasil surgiu no Amazonas e se espalhou por áreas de recente desmatamento no Norte, antes de alcançar outras regiões. O mosquito transmissor, presente em todo o país, se prolifera em ambientes úmidos e com matéria orgânica em decomposição, comuns nas zonas rurais e periurbanas, especialmente em plantações como bananais e cafezais — cenário comum em cidades do Espírito Santo, Ceará e outros estados afetados.
Diante da escalada dos casos e dos riscos associados à infecção — que pode causar microcefalia e óbito fetal —, o Ministério da Saúde intensificou o monitoramento e atua em parceria com instituições como a Fiocruz e a Embrapa na busca por soluções de controle do vetor. Enquanto isso, estados como o Espírito Santo e o Ceará promovem treinamentos para profissionais de saúde e agentes comunitários, a fim de melhorar a capacidade de diagnóstico e resposta. O desafio, porém, vai além do combate ao mosquito: exige uma articulação urgente entre vigilância epidemiológica, gestão ambiental e ações preventivas voltadas às populações mais vulneráveis.