Farmacêuticos relatam dificuldades causadas por prescrições médicas mal escritas e alertam para os riscos à segurança do tratamento.
Mesmo com a crescente informatização dos serviços de saúde, receitas médicas manuscritas ainda são comuns em todo o Brasil — e nem sempre legíveis. O problema, embora antigo, segue impactando o trabalho diário dos farmacêuticos, além de representar um risco real para a segurança dos pacientes.
“Recebemos diariamente prescrições que são verdadeiros enigmas. Temos que ligar para o médico, checar com o paciente, adiar a dispensação. Isso consome tempo e pode atrasar o início do tratamento”, relata Juliana Martins, farmacêutica de uma drogaria em Belo Horizonte (MG). Segundo ela, em alguns casos, a dúvida na interpretação da receita pode fazer com que o paciente vá embora sem o medicamento necessário.
A prática de escrever à mão, muitas vezes com pressa ou sem a devida preocupação com a legibilidade, também expõe os profissionais a riscos legais. “Se eu interpreto errado e entrego um medicamento diferente, quem responde sou eu. O farmacêutico tem a responsabilidade técnica sobre o que dispensa”, explica Marcelo Ribeiro, farmacêutico em Curitiba (PR). Ele afirma que já deixou de fornecer medicamentos porque não conseguiu entender a grafia do nome ou a posologia indicada.
Além do impacto direto na dispensação, há um efeito silencioso na confiança entre o paciente e o sistema de saúde. “O paciente chega com a receita e a expectativa de resolver o problema. Quando precisamos pedir que volte ao consultório para uma nova prescrição, há frustração, impaciência e, às vezes, desconfiança”, comenta Tatiane Silva, que atua em uma farmácia pública em Florianópolis (SC). Para ela, a digitalização das prescrições deveria ser obrigatória. “A receita digital reduz erros, é segura e acessível. Já passou da hora de ser uma norma em todo o país.”
O Conselho Federal de Farmácia (CFF) e entidades médicas recomendam que as prescrições sejam feitas de forma clara, com letra legível ou, preferencialmente, por meio eletrônico. A Resolução CFM nº 1.821/2007 estabelece que a receita médica deve conter, entre outros dados, o nome do medicamento, dosagem e modo de usar de forma compreensível.
Enquanto a digitalização não se torna realidade universal, os farmacêuticos seguem enfrentando, no balcão, o desafio diário de decifrar o que deveria ser um direito básico: uma prescrição clara e segura.