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Suplementos alimentares: como orientar o cliente na farmácia?

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O mercado brasileiro de vitaminas e suplementos alimentares vive um momento de forte expansão e consolidação.

 

Impulsionado pela crescente conscientização sobre saúde e bem-estar, pelo envelhecimento populacional e pela busca por qualidade de vida, esse segmento vem apresentando números expressivos e oportunidades relevantes para profissionais da área da saúde, em especial, para os farmacêuticos.

 

Mais do que simples produtos de apoio nutricional, as vitaminas e os suplementos representam uma categoria complexa, que exige orientação qualificada, atenção às regulamentações e uma abordagem centrada no paciente.

 

Neste cenário dinâmico, o farmacêutico assume um papel estratégico, atuando na avaliação da necessidade individual, na prevenção de interações medicamentosas, na orientação segura ao consumidor e no cumprimento das exigências legais.

 

O presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) e autor do livro Nutracêutica Clínica, Estética, Esportiva e Prescrição de Fitoterápicos 1ª Edição, Marcelo Polacow, detalha o tema com exclusividade para o Guia da Farmácia.

 

 

Mercado de vitaminas e suplementos cresce no País

Nos últimos anos, o mercado de vitaminas e suplementos no Brasil apresentou um crescimento expressivo, refletindo uma mudança significativa no comportamento do consumidor.

 

Dados recentes confirmam essa tendência. Uma pesquisa da InterPlayers revelou um crescimento de 43% nas vendas de vitaminas e suplementos entre janeiro e março de 2024, com um aumento anual de 38% no mesmo ano.

 

Outro estudo, da Grand View Research, estimou o tamanho do mercado em US$ 4,62 bilhões em 2024, com uma projeção de crescimento para US$ 7,91 bilhões até 2030, a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 9,5%.

 

Projeções otimistas

As projeções seguem otimistas: o mercado brasileiro deve alcançar US$ 4,62 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual robusta. Além disso, dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD) indicam que o consumo de suplementos aumentou 10% desde 2015, com 59% dos lares brasileiros utilizando esses produtos.

 

A pandemia de COVID-19 intensificou esse movimento, ao reforçar a importância da imunidade e acelerar a adoção de hábitos mais saudáveis. Paralelamente, inovações tecnológicas no varejo também contribuíram para a popularização e o fácil acesso a esses produtos, consolidando as farmácias e drogarias como canais estratégicos de venda.

 

 

Principais fatores de crescimento do mercado
  • Aumento da conscientização sobre saúde e bem-estar;
  • Envelhecimento da população e busca por saúde preventiva;
  • Popularização da prática de atividades físicas;
  • Apoio governamental e inovação em formatos de produtos;
  • Campanhas de saúde pública e influência da mídia;
  • Recomendações de profissionais de saúde.

 

Este crescimento expressivo do mercado de vitaminas e suplementos exige uma atenção especial do farmacêutico, que se torna um profissional de saúde de primeira linha para orientar os consumidores em meio a uma vasta gama de produtos e informações.

 

A complexidade dos produtos, a possibilidade de interações medicamentosas e a necessidade de uma avaliação individualizada tornam a atuação do farmacêutico indispensável para garantir o uso seguro e eficaz desses produtos.

 

Legislação e responsabilidades do farmacêutico

A comercialização e o uso de suplementos alimentares no Brasil são regulados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que estabelece normas específicas para garantir a segurança e a eficácia dos produtos.

 

A RDC 243/2018 define os requisitos sanitários aplicáveis aos suplementos, incluindo regras de composição, rotulagem e fiscalização.

 

Nem todos os suplementos exigem registro na ANVISA. Apenas aqueles que contêm enzimas ou probióticos precisam passar por esse processo, enquanto os demais devem ser notificados à vigilância sanitária.

 

Os produtos aprovados exibem um número de registro que pode ser verificado no portal da Agência, uma ferramenta essencial para assegurar a qualidade e a procedência dos suplementos.

 

Responsabilidades clínicas e éticas do farmacêutico

A atuação do farmacêutico no mercado de suplementos vai muito além da simples dispensação.

 

Trata-se de uma função clínica e estratégica que envolve avaliação individualizada, prevenção de riscos e promoção do uso racional dos produtos.

 

Entre suas principais responsabilidades, destacam-se:

  • Avaliar a necessidade real do paciente: considerando histórico de saúde, estilo de vida e hábitos alimentares;
  • Orientar sobre o uso correto: incluindo posologia, forma de administração e possíveis efeitos adversos.
  • Prevenir interações medicamentosas: analisando medicamentos e suplementos em uso para evitar efeitos indesejados.
  • Garantir a qualidade dos produtos: verificando registros e procedência junto à ANVISA.
  • Educar o paciente: promovendo o autocuidado responsável e desmistificando informações equivocadas.
  • Registrar e acompanhar o tratamento: monitorando adesão, eficácia e segurança ao longo do tempo.

 

O farmacêutico também precisa equilibrar objetivos comerciais com sua responsabilidade ética, sempre priorizando a saúde e a segurança do paciente em detrimento de metas de venda.

 

Avaliação do paciente e protocolos de cuidado

A indicação de suplementos deve ser pautada por uma avaliação individualizada e criteriosa. A anamnese farmacêutica é uma ferramenta fundamental nesse processo, permitindo coletar dados sobre histórico de saúde, uso de medicamentos, hábitos de vida e queixas principais.

 

Outro protocolo amplamente utilizado é o método SOAP (Subjetivo, Objetivo, Avaliação e Plano), que organiza as informações do paciente e orienta o raciocínio clínico.

 

Essa abordagem garante um plano de cuidado mais preciso, que pode incluir a indicação de suplementos, o encaminhamento a outros profissionais de saúde ou o agendamento de acompanhamentos.

 

Interações medicamentosas e cuidados especiais

A segurança do paciente é prioridade no uso de suplementos alimentares, e a prevenção de interações medicamentosas é uma parte essencial dessa prática.

 

Essas interações podem alterar a absorção, o metabolismo ou a eficácia dos medicamentos. Exemplos comuns incluem:

  • Cálcio, que pode reduzir a absorção de antibióticos.
  • Erva de São João, que interfere no metabolismo de antidepressivos e contraceptivos.
  • Ginkgo biloba, que potencializa o efeito de anticoagulantes e aumenta o risco de sangramentos.

 

Grupos populacionais específicos, como gestantes, idosos, crianças e pacientes com doenças crônicas, exigem atenção redobrada.

 

A suplementação deve considerar necessidades nutricionais, restrições e riscos associados a condições como diabetes e hipertensão.

 

No Brasil, há um foco crescente no uso de suplementos voltados à saúde cardiovascular e ao gerenciamento de doenças crônicas, com destaque para nutrientes como ômega-3 e vitaminas B e D. A hidratação adequada e a personalização da suplementação também são aspectos importantes no cuidado a grupos vulneráveis.

 

Educação do paciente e acompanhamento contínuo

A educação do paciente é um dos pilares da atuação farmacêutica. Um paciente bem-informado utiliza suplementos de forma mais segura e eficaz.

 

Para isso, o farmacêutico pode:

  • Utilizar linguagem acessível ao explicar as orientações;
  • Fornecer materiais informativos e indicar fontes confiáveis;
  • Estimular o diálogo e esclarecer dúvidas;
  • Reforçar a importância de ler o rótulo e seguir as recomendações de uso.

 

Além disso, o acompanhamento contínuo do paciente permite monitorar resultados, ajustar terapias e identificar efeitos adversos precocemente, garantindo a eficácia e a segurança do tratamento.

 

Conclusão

O crescimento exponencial do mercado de vitaminas e suplementos no Brasil representa uma oportunidade significativa para a atuação farmacêutica, mas também impõe desafios complexos.

 

Em um cenário marcado por uma ampla variedade de produtos, informações diversas e riscos associados ao uso inadequado, o farmacêutico se destaca como um profissional essencial para garantir segurança, eficácia e uso racional desses produtos.

 

Ao atuar com ética, conhecimento científico e foco no cuidado individualizado, o farmacêutico fortalece sua relevância no sistema de saúde, promove o bem-estar da população e consolida seu papel estratégico em um dos segmentos que mais crescem no varejo farmacêutico brasileiro.

 

Fonte: Guia da Farmácia
Foto: Reprodução