Valor da compra é de R$ 629 mil, por intermédio de uma ata de preços. Prefeitura alega que não sabe da situação.
A Prefeitura de Sorocaba (SP) comprou medicamentos no valor de R$ 629 mil, em agosto de 2025, por intermédio de uma ata de preços, de uma empresa que o seu dono foi condenado por falsificar medicamentos usados no tratamento de câncer.
Alexandre Ciornavei Marques chegou a ser preso na operação Sanitatem, em conjunto com as polícias de Goiás e Piauí. Depois, quando já estava preso, foi alvo de outra ação da polícia do Rio Grande do Sul, chamada operação Sunitinibe. Os dois casos foram no ano de 2020 e um deles chegou a ser exibido no Fantástico.
A compra dos medicamentos pela Secretaria de Saúde de Sorocaba (SES) se deu por adesão a uma ata de preço do Consórcio Público Intermunicipal de Inovação e Desenvolvimento do Estado de São Paulo, o Cindesp, composto por municípios localizados na região noroeste do Estado de São Paulo, com sede em São José do Rio Preto.
A lista de medicamentos descrita é para tratamentos da asma, como broncodilatadores; hemorragias (fitomenadiona) e gastrite (omeprazol). Há ainda materiais como insumos de enfermagem (cateter, cânula e fraldas descartáveis).
Esta não é a única aquisição de Sorocaba com a empresa, sediada em Cotia, na Grande São Paulo. Em julho, a prefeitura já havia adquirido agulhas hipodérmicas, num total de 200 mil unidades, no valor de R$ 20 mil.
A empresa também venceu o lote 3 do pregão eletrônico 375/2022, de medicamentos para o tratamento do diabete, com valor da proposta de R$ 17 milhões. O contrato foi assinado em janeiro de 2024, tendo havido empenho de R$ 147 mil em fevereiro e a anulação do pagamento dos valores em outubro.
O saldo total de valor empenhado de todos os contratos chega a mais de R$ 700 mil.
Justificativa da ata
No termo de referência da ata, documento aprovado pela secretária de Saúde, Priscila Renata Feliciano, foi citado que a adesão a ata do Consórcio Cindesp ocorreu devido à vantajosidade e que seria a solução mais ágil no momento em que o município está sem contrato para estes produtos.
Condenações
Em agosto de 2023, no Rio Grande do Sul, Alexandre foi condenado, inicialmente, a cinco anos de prisão. Entretanto, a pena mudou para um ano e oito meses.
Com isso, ele recebeu a troca da pena de prisão em regime fechado por duas penas restritivas de direito, sendo a prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, pelo mesmo tempo da condenação.
No ano seguinte, em março de 2024, Alexandre foi condenado novamente, dessa vez, pela Justiça do Piauí. Pelo mesmo crime, ou seja, falsificação de documentos, ele foi condenado a dois anos e três meses de prisão.
Os casos denunciados pelo Ministério Público citam os casos de falsificação nas cidades de Goiânia (GO) – oito vezes -, Franca (SP) – três vezes -, Campo Grande (MS) – duas vezes- e Teresina (PI) – uma única vez.
MP e Câmara
O caso envolvendo a compra de medicamentos será investigado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo. A representação foi feita pelo vereador Raul Marcelo (Psol). O promotor Orlando Bastos Filho incluiu a investigação em outra já existente que apura a contratação de uma empresa para gestão de logística envolvendo medicamentos na rede municipal de saúde da cidade.
O vereador fez um novo pedido ao MP para ser juntada a situação da falta de medicamentos nas UBS de Sorocaba abordada nas reportagens da TV TEM e do g1.
Na Câmara de Sorocaba, um requerimento da vereadora Iara Bernardi (PT) também quer saber a indicação das fontes de recursos utilizadas para pagamento, a quantidade de empenhos emitidos e cancelados, e informações sobre eventuais procedimentos administrativos ou jurídicos instaurados pelo município em decorrência de irregularidades ou investigações sobre a empresa.
O que dizem prefeitura e empresa
A Prefeitura de Sorocaba disse que não tem ciência da situação. O g1 também procurou a empresa Impacta Med, da qual Alexandre é sócio, informando sobre a reportagem. A empresa não se manifestou até a publicação.
Morte em Goiás
Ozeas Camacho Silveira, de Goiás, morreu em 2019. O idoso era trabalhador rural e tratava um câncer no rim. A família contou que o tratamento estava dando certo até o final de 2017. Porém, no começo de 2018 o quadro de saúde dele piorou. Laudos apontaram que um dos medicamentos que ele estava tomando era falsificado.
Segundo a investigação, o grupo agia em nove estados. Em um dos casos, no lugar do medicamento, havia vitamina E. Os casos teriam ligações com Alexandre Ciornavei Marques, que era um dos sócios da empresa envolvida na investigação.
Crise de medicamentos em Sorocaba
A situação da distribuição de medicamentos na rede pública municipal de saúde de Sorocaba se transformou em uma crise nos últimos dias. Os problemas se agravaram após a secretária de saúde afirmar em audiência pública que a pasta não havia comprado remédio por um ano.
Em meio aos problemas, o g1 mostrou que a falta de medicamentos era generalizada e afetava 32 UBSs da cidade. De cada duas farmácias da rede, estavam com metade dos medicamentos zerados. Mais de 50 medicamentos estavam em falta.