Uma equipe internacional de pesquisadores identificou uma nova e raríssima forma de diabetes que afeta exclusivamente recém-nascidos. A condição, associada ao gene TMEM167A, causa falhas nas células produtoras de insulina do pâncreas, levando a um quadro grave e precoce da doença.
Os cientistas descobriram que mutações nesse gene são capazes de desativar e até matar as células beta, responsáveis por liberar insulina no sangue. A pesquisa, publicada em 19 de outubro, revelou que essas células são totalmente dependentes da ação do TMEM167A para funcionar corretamente.
“A capacidade de gerar células produtoras de insulina a partir de células-tronco nos permitiu estudar o que há de disfuncional nas células beta de pacientes com formas raras, bem como com outros tipos de diabetes”, afirma Miriam Cnop, especialista em diabetes, da Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica). “Este é um modelo extraordinário para estudar mecanismos de doenças e testar tratamentos.”
Síndrome MEDS e o papel do gene TMEM167A
O estudo analisou o material genético de seis bebês diagnosticados com diabetes neonatal e microcefalia antes dos seis meses de idade. Cinco deles também apresentavam epilepsia, uma combinação de sintomas conhecida como síndrome MEDS (microcefalia, epilepsia e diabetes), considerada extremamente rara. Até hoje, apenas 11 casos foram documentados no mundo.
Antes desta descoberta, apenas dois genes eram associados à síndrome —IER3IP1 e YIPF5. O novo estudo mostra que o TMEM167A se junta agora a esse grupo, tornando-se a terceira causa genética identificada da MEDS.

Para que um bebê desenvolva a síndrome, ele precisa herdar duas cópias mutadas do gene, uma de cada pai. O TMEM167A, segundo os cientistas, está ativo tanto no pâncreas quanto no cérebro, o que explica por que os bebês afetados apresentam complicações nos dois órgãos.
Por trás do mecanismo e mira no futuro
Para compreender como a mutação do TMEM167A leva ao diabetes, os pesquisadores editaram células-tronco humanas, substituindo o gene normal pela variante encontrada em um bebê com MEDS. As células resultantes se desenvolveram aparentemente de forma normal, mas mostraram um defeito crucial: não conseguiram liberar insulina quando expostas à glicose.
Além disso, o estudo observou que o retículo endoplasmático, uma estrutura celular fundamental para o transporte de proteínas, apresentava falhas que acabavam levando à morte das células beta.
“Encontrar as alterações no DNA que causam diabetes em bebês nos oferece uma maneira única de encontrar os genes que desempenham papéis fundamentais na produção e secreção de insulina”, afirma Elisa de Franco, geneticista molecular da Universidade de Exeter (Inglaterra).
Segundo a pesquisadora, “a descoberta de alterações específicas no DNA que causam esse tipo raro de diabetes em seis crianças nos levou a esclarecer a função de um gene pouco conhecido, o TMEM167A, mostrando como ele desempenha um papel fundamental na secreção de insulina”.
O próximo passo, apontam os cientistas, é usar esse conhecimento para testar novas terapias que possam proteger ou restaurar a função das células beta — não apenas nesses raros casos de diabetes neonatal, mas também em formas mais comuns da doença.
Sintomas de diabetes em bebês
- Sede excessiva: o bebê mama com muita frequência e parece insaciável;
- Urina em excesso: fraldas muito molhadas e trocas constantes;
- Desidratação: pele seca, boca seca e choro sem lágrimas;
- Perda de peso: ou dificuldade para ganhar peso, mesmo se alimentando bem;
- Letargia ou sonolência excessiva: o bebê fica mais quieto e sem energia.
- Respiração acelerada;
- Vômitos e recusa alimentar;
- Infecções frequentes;
- Irritabilidade e choro inconsolável;
- Olhos fundos e sinais de fraqueza geral;
- Febre sem causa aparente (em alguns casos).





