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Uso prolongado de melatonina pode causar insuficiência cardíaca e morte

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O uso indiscriminado da melatonina, o “hormônio do sono” vendido no Brasil como suplemento alimentar, pode levar à insuficiência cardíaca e até a morte. A conclusão é de um estudo feito pela Associação Americana para o Coração (American Heart Association) e divulgado hoje.

 

O que aconteceu

No estudo, adultos com insônia que usavam melatonina por mais de um ano tiveram 90% mais riscos de serem diagnosticados com insuficiência cardíaca do que aqueles que não tomavam o remédio. Comparativamente, 4,6% dos usuários de melatonina viram seus corações falharem nos últimos cinco anos, enquanto este número era de apenas 2,7% entre aqueles que não tomavam o hormônio. Números similares (82% de risco aumentado) foram obtidos entre aqueles com duas ou mais receitas em 90 dias —o hormônio só está disponível sob prescrição médica no Reino Unido.

 

Participantes tomando melatonina tinham 3,5 vezes mais riscos de serem hospitalizados por falência do coração do que aqueles que não faziam uso do hormônio. Ou seja, 19% dos usuários foram internados nos últimos cinco anos analisados pelo estudo, enquanto apenas 6,6% daqueles que não tomavam o suplemento tinham ido parar no hospital.

 

Suplementos de melatonina podem não ser tão inofensivos quanto é comumente presumido. Se nosso estudo for confirmado, isso pode afetar como médicos aconselham seus pacientes a respeito de seu auxílio para dormir. [Os suplementos] eram tidos como uma opção segura e natural para ajudar a dormir melhor, então é impressionante ver aumentos tão consistentes e significantes em quadros de saúde graves, mesmo após levar em consideração outros fatores de risco.


Ekenedilichukwu Nnadi, autor principal do estudo e residente-chefe de medicina preventiva do SUNY Downstate/Kings County Primary Care, em Nova York.

 

 

Além disso, os pacientes no grupo da melatonina tiveram um risco quase duas vezes maior de morrer de qualquer causa do que aqueles no grupo dos não usuários. 7,8% dos adeptos do hormônio morreram em cinco anos, enquanto 4,3% dos participantes do grupo que não usava a substância acabaram morrendo.

 

Como estudo foi feito

Pesquisadores revisaram os históricos médicos dos últimos cinco anos de mais de 130 mil adultos com insônia. Os dados pertenciam à base internacional TrixNetX, criada em 2013, que reúne informações de pacientes do mundo inteiro em tempo real. A média de idade dos insones estudados era de 55,7 anos de idade, sendo que 61,4% deles eram mulheres.

 

65,4 mil participantes já tinham recebido receita de melatonina e tomavam o hormônio há mais de um ano. Eles tiveram seus históricos médicos comparados com os outros insones que nunca tomaram melatonina. Os pesquisadores ainda verificaram se os usuários de melatonina possuíam duas receitas para o hormônio com, pelo menos, 90 dias de separação, o que poderia dar mais segurança à informação de que havia um uso prolongado da substância.

 

Pesquisadores ainda levaram em consideração outras informações. Foram analisados também dados demográficos, condições de saúde e outras medicações a que os pacientes tivessem sido submetidos. Entre os fatores analisados estavam idade, sexo, raça/etnia, doenças cardíacas ou do sistema nervoso, medicações tomadas para o coração ou doenças do sistema nervoso, pressão arterial e índice de massa corporal.

 

Homens que tomavam melatonina só foram comparados com outros homens que não tomavam; hipertensos que usavam o suplemento só foram comparados com hipertensos que não usavam. Além disso, aqueles que já tinham doenças do sistema nervoso e tomavam melatonina também só foram comparados com aqueles que tinham histórico semelhante no outro grupo —daqueles que não tomavam o suplemento— e assim por diante.

 

Foram excluídos do estudo aqueles pacientes que já tinham histórico de insuficiência cardíaca ou tomavam outros remédios para dormir, como benzodiazepínicos. Estes grupos já estariam em risco naturalmente e não informariam a respeito do potencial risco associado ao uso de melatonina.

 

Mais estudos são necessários

Cientistas destacam que o estudo não prova que existe uma relação de causa e efeito entre o uso de melatonina e problemas do coração ou morte. A pesquisa apenas demonstra uma associação, ou seja, que há maior mortalidade e insuficiência cardíaca entre seus usuários. O próprio Nnadi, autor principal do estudo, reconhece em comunicado que insônia grave, depressão e ansiedade são quadros comuns em que pacientes podem tanto abusar da melatonina quanto ter um risco de saúde cardiovascular aumentado, por exemplo.

 

Resultados ainda são preliminares, ou seja, não foram submetidos para avaliação de outros cientistas da área não envolvidos com a pesquisa; uma etapa posterior. Em comunicado à imprensa, a organização reconheceu que são necessários mais estudos para determinar exatamente qual é a ação da melatonina sobre o sistema cardiovascular e quais os riscos para os pacientes.

 

A melatonina é um hormônio naturalmente produzido na glândula pineal, no cérebro, e que ajuda a regular o ciclo do sono. Os níveis de melatonina aumentam durante a noite —quando não há luz— e diminuem na presença da luz solar diurna. Por isso, versões sintéticas são frequentemente usadas para tratar insônia e jet lag. Em muitos países, como no Brasil e nos EUA, não é necessária receita médica para comprar a substância, pois é considerada um suplemento.

 

Fonte: Viva Bem Uol
Foto: Reprodução