Sincofarma SP

Uso de medicamentos na gestação

Compartilhe:

Facebook
LinkedIn
WhatsApp

“O medicamento, apesar de ser um produto farmacêutico com ações profilática, curativa e paliativa, pode gerar impactos negativos à saúde”

 

No universo farmacêutico, não cabe controvérsias para a máxima segundo a qual “qualquer medicamento pode causar efeitos indesejados”. Quando a usuária é uma gestante, a probabilidade de haver riscos graves para ela e para o feto é muito mais relevante, clinicamente. “O medicamento, apesar de ser um produto farmacêutico com ações profilática, curativa e paliativa, pode gerar impactos negativos à saúde”, alerta a Aline Assis, farmacêutica, pesquisadora em serviços clínicos farmacêuticos, segurança do paciente e saúde integral da mulher na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Aline Assis observa que há medicamentos que são rigorosamente contraindicados e devem ser evitados, durante a gestação, principalmente, por serem teratogênicos, como o metotrexato, isotretinoína, ácido valpróico, topiramato, tetraciclina e inibidores da enzima conversora de angiotensina.

Outros medicamentos são mais seguros para o uso, nesta fase da vida, e podem ser utilizados como alternativa terapêutica “nos casos em que um medicamento contraindicado seja a primeira escolha de tratamento”. Aline Assis lembra que, nesses casos, a decisão quanto ao uso deve estar baseada em fontes seguras de informação e protocolos clínicos.

MIPS

Mesmo os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) inspiram cuidados, durante a gestação, inclusive por causa do fácil acesso a eles nas farmácias, o que pode levar à automedicação insegura. “Os problemas que podem causar à saúde da gestante e do feto dependem do medicamento. Neste contexto, produtos que são bastante consumidos e apresentam restrições de segurança são os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), citou a farmacêutica a título de exemplo. “Geralmente, é indicado evitar o uso de AINEs, após 20 semanas de gestação, devido ao risco de oligoidrâmnio (baixo volume de líquido amniótico para a idade gestacional).

Em relação aos danos para o feto, apesar das limitações de informações pré-comercialização, a teratogenicidade é o mais estudado e que gera preocupações entre a comunidade científica. Aline Assis lembra que os efeitos teratogênicos geralmente ocorrem, no início da gestação, entre a segunda e a oitava semanas pós-concepção, causando alteração no desenvolvimento e formação de tecidos e órgãos fetais.

Os riscos de complicações no nascimento, a exemplo do baixo peso ao nascer, de morte neonatal, impacto no crescimento e desenvolvimento da criança são igualmente consequências relevantes que devem ser levadas em consideração no manejo da farmacoterapia da gestante, disse Aline. Os danos citados, muitas vezes, causam resultados negativos que podem ser confundidos com condições clínicas do próprio neonato ou com desfechos decorrentes de alguma intercorrência ou problema de saúde envolvendo a gestante.

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA 

– Perguntamos à Aline Assis como os farmacêuticos lidam com o uso de medicamentos por gestantes em situações de alto risco, com vistas a garantir a sua segurança e do feto?

RESPOSTA: A promoção do uso seguro de medicamentos tem sido amplamente debatida, com o intuito de reduzir em 50% os danos graves e evitáveis relacionados a medicamentos, melhorando a qualidade dos cuidados em saúde, em todo mundo.  Em 2017, foi lançado o 3º Desafio Global da Organização Mundial da Saúde (OMS), em que foram definidas três ações prioritárias. São elas: polifarmácia, transição do cuidado e situações de alto risco, e quatro domínios de trabalho: pacientes, medicamentos, profissionais da saúde e sistemas e práticas de medicação.

Para avaliar a farmacoterapia da gestante, é necessário que o farmacêutico tenha uma visão holística para a compreensão das necessidades farmacoterapêuticas da paciente, incluindo a sua segurança. A história prévia, a experiência com o uso de medicamentos, comorbidades, complicações da gestação são pontos importantes a serem questionados pelo profissional ao promover o cuidado a este grupo.

O farmacêutico, também, deve analisar os fatores relacionados ao uso seguro de medicamentos, sendo eles o fármaco, a gestante e o feto. Posto isto, as características farmacocinéticas dos fármacos, as alterações fisiológicas e anatômicas que ocorrem, durante a gestação e a fase de desenvolvimento fetal, são pontos primordiais que guiam o raciocínio clínico para a tomada de decisão da farmacoterapia da pessoa gestante.

 

 

Portanto, o farmacêutico pode promover a segurança da pessoa com útero e do feto, apoderando-se desta proposta feita pela OMS, através do desenvolvimento de práticas em segurança para reduzir danos causados por eventos adversos à saúde. Essa meta aliada à prática do arcabouço teórico dos serviços farmacêuticos destinados ao paciente, à família e à comunidade, preconizado pelo CFF, em 2016, potencializa ainda mais desenvolvimento do cuidado seguro e eficiente em cada etapa do processo de medicação, sendo eles a prescrição, distribuição, administração, monitoramento e utilização.

AUTOMEDICAÇÃO

Sobre a questão da automedicação por gestantes, Aline Assis explica: “É importante que os farmacêuticos estejam atentos à prática da automedicação desassistida na gestação. A procura de medicamentos, principalmente, aqueles que são isentos de prescrição, como abordado na pergunta anterior, é muito comum, principalmente, para o alívio imediato dos desconfortos da gravidez, no primeiro trimestre da gestação.

Dentre os medicamentos muito utilizados para o alívio de sintomas, estão os anti-inflamatórios não esteroidais, antiácidos e analgésicos”.  Segundo ela, grande parte das gestantes não possui informações adequadas sobre os possíveis riscos da utilização de medicamentos, além das obtidas nas consultas de pré-natal. 

 

Fonte: CFF
Foto: Freepik