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Sanofi busca comprador para a Medley em meio à forte competição no mercado de genéricos

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Movimento reforça estratégia de outras concorrentes, como EMS e Cimed, de diversificar para além dos genéricos

 

 

A indústria farmacêutica está a pleno vapor num processo de reequilíbrio de forças e de portfólio – que pode resultar em grandes negócios nos próximos meses. A iniciativa mais recente é da francesa Sanofi, que iniciou um processo de venda da Medley, sua subsidiária no Brasil especializada em genéricos. A empresa contratou um assessor financeiro para coordenar o processo. E, segundo fontes ouvidas pelo InvestNews, o valor inicial esperado pelos franceses estaria em torno de US$ 1,5 bilhão.

Faz algum tempo que o mercado farmacêutico está aquecido, com grandes players à procura de boas oportunidades de negócios. O caso mais conhecido ocorreu no fim de outubro. A EMS fez uma proposta não solicitada para tentar uma fusão com a Hypera, que poderia criar uma líder do setor com faturamento anual de R$ 16 bilhões, mas houve uma negativa à oferta inicial.

Outro exemplo é a Cimed, de João Adibe, que está em busca de um sócio disposto a pagar cerca de R$ 1 bilhão por uma fatia minoritária na empresa.

O que está por trás desse movimento é a necessidade das grandes empresas do segmento de genéricos diversificar o portfólio e incluir outros produtos, como os chamados OTCs – Over The Counter; ou seja, aqueles vendidos fora do balcão, que você compra nos corredores da farmácia (analgésicos, antitérmicos, vitaminas, antiácidos…).

Essa seria uma maneira de melhorar a receita. É que o mercado de genéricos é super competitivo, e isso força as farmacêuticas a vender com grandes descontos.

A exigência do governo é de que os genéricos custem ao menos 35% abaixo do valor do medicamento de referência, mas a concorrência entre os laboratórios leva os descontos a até 80%, segundo especialistas ouvidos pelo InvestNews. Com isso, a margem bruta do genérico costuma ser próxima a 30%. No caso de companhias endividadas, essa margem pode acabar consumida pelo pagamento de juros. Para se ter uma ideia, OTCs e produtos de higiene e beleza podem ter margens muito superiores, perto de 90%.

 

 

Reorganização na Medley

A Sanofi tinha comprado a Medley em 2009 – por R$ 1,5 bilhão, junto ao empresário Alexandre Negrão. A reorganização de agora, que envolve a potencial venda da subsidiária, é fruto de um movimento global.

Paul Hudson, CEO mundial da farmacêutica francesa, criou em meados de 2019 um braço para seus produtos OTCs, a Opella Healthcare – responsável no mundo pelas marcas
Dorflex e Allegra, por exemplo. Em outubro deste ano, a Sanofi vendeu uma participação relevante na Opella para o fundo de private equity Clayton Dubilier & Rice (CD&R), em um negócio que avaliou a empresa em € 16 bilhões e que deverá ser concluído em meados de 2025.

A Sanofi instalou a Opella no Brasil em 2021 e, desde 2023, promoveu a transferência de mais de R$ 1 bilhão do capital social da Medley para a Opella, em uma reorganização de ativos. Segundo documentos acessados pelo InvestNews, a primeira cisão ocorreu em abril de 2023, quando a Medley passou R$ 858,7 milhões para a Opella; em junho deste ano, uma nova transferência: de R$ 438,9 milhões. Atualmente, o capital social da Medley é de R$ 855,5 milhões, enquanto o da Opella Brasil já está em R$ 1,3 bilhão.

Procurada pelo InvestNews, a Sanofi afirmou que “não comenta especulações do mercado”. “A Medley, unidade de genéricos da Sanofi, continua totalmente comprometida com sua missão de democratizar o acesso à saúde dos brasileiros (…) e as operações seguem normalmente.”

Um dos principais atrativos do mercado de genéricos para a indústria é o baixo custo de pesquisa e desenvolvimento (o chamado P&D). E também em marketing promocional. As grandes farmacêuticas que desenvolvem e fabricam medicamentos de referência precisam investir muito na divulgação desses produtos nos consultórios médicos, o que envolve visitas a consultórios, distribuição de amostras grátis e outras estratégias que pesam no bolso.

Só que muita gente foi atraída para esse mercado, o que tornou a competição predatória.

Em entrevista ao InvestNews, o CEO da rede de farmácias Panvel, Julio Mottin Neto, relatou que a companhia realiza leilões para escolher seus fornecedores de genéricos. E, claro, vence o menor preço. Segundo o executivo, os genéricos respondem por 12% do faturamento das lojas da Panvel. E dentro da fatia da receita vinda de medicamentos, eles respondem por 20%.

 

 



Em um ambiente de negócios como o do Brasil, em que o custo de capital está cada vez mais alto, a atenção à melhora da margem de lucro das indústrias tem de ser uma prioridade. Só assim é possível fazer valer o dinheiro investido.

 

 

Sanchez e Adibe na rua

É para isso que está apontado o radar da EMS e da Cimed, dupla que tem forte presença nos genéricos, em suas movimentações recentes.

A Cimed quase fechou a compra da Jequiti, do Grupo Silvio Santos, por R$ 450 milhões, mas impasses na reta final da negociação emperraram a compra e a companhia de João Adibe voltou a analisar oportunidades.

Uma alternativa que está na rua, de acordo com profissionais do mercado, é a busca de um sócio que possa comprar uma fatia acima de 10% do Cimed. Essa operação poderia movimentar algo em torno de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões. E alguns fundos de investimento já avaliaram o negócio. Em outra frente, a Cimed está apostando em produtos de oral care – linha da qual o hidratante labial Carmed é o carro-chefe. Hoje, mesmo sendo uma das maiores vendedoras de genéricos do país, apenas 38% do faturamento da Cimed vem dos medicamentos.

Na mesma linha, a disposição da EMS, de Carlos Sanchez, para comprar a Hypera não acabou, segundo relato de fontes próximas às companhias. Essa seria uma negociação de “alta complexidade”, por causa do tamanho do portfólio das duas empresas. Mas também por causa da relação complicada de Sanchez com João Alves de Queiroz Filho (conhecido como Júnior). De todo modo, o fundador da Hypera teria definido um interlocutor para ouvir melhor as ideias do dono da EMS.

A proposta por trás da fusão, segundo o próprio Sanchez explicou, é a complementariedade de portfólio.

A Hypera, hoje uma das líderes do segmento com receita anual de R$ 7,9 bilhões, possui marcas fortes – Engov e Gelol –, mas enfrenta um momento de deterioração de seu balanço. Já a EMS é destaque na produção de genéricos e tem uma estrutura de capital suficientemente organizada para absorver a concorrente – uma forma de lidar com os desafios da transformação pela qual o mercado está passando.

 

 

Fonte: Invenstnews
Foto: Freepik