Decisão busca enfraquecer a economia de outros países e levar produção de medicamentos para dentro dos Estados Unidos
O presidente norte-americano Donald Trump informou na última terça-feira (8) que seu governo implementará em breve uma tarifa significativa sobre medicamentos importados. Trump fez a declaração em uma festa de gala para arrecadação de fundos em um evento no Comitê Nacional Republicano do Congresso.
O presidente americano disse que os Estados Unidos são o grande mercado mundial e acredita que a tarifação gerará mais capacidade para a indústria farmacêutica interna. A medida visa incentivar os grandes laboratórios a transferirem suas fábricas para os Estados Unidos, deixando de produzir remédios em outros países, como a China.
Implicações da nova tarifa
Os impostos de importação para medicamentos são uma preocupação dos líderes biofarmacêuticos, que temem que mais de 100 bilhões de dólares em investimentos saiam da União Europeia (UE).
Cerca de 16,5 bilhões de euros (18 bilhões de dólares) em investimentos podem estar em risco na Europa, segundo a Federação Europeia de Indústrias e Associações Farmacêuticas (EFPIA). Uma pesquisa recente realizada entre as 18 grandes e médias empresas fabricantes de medicamentos naquele continente confirmam esses números.
Em fevereiro passado, Trump teria mencionado uma tarifa de 25% sobre as importações de medicamentos, em uma reunião fechada na Casa Branca com executivos da indústria, mas o setor tem feito um lobby com o presidente americano para que essa taxação seja implementada aos poucos.
A EFPIA alertou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que a pesquisa, desenvolvimento e fabricação de medicamentos correm o risco de serem transferidos para os EUA caso mudanças políticas ágeis e extremas não ocorram.
Impacto no mercado de ações
As ações dos laboratórios mundiais despencaram depois do anúncio do presidente Donald Trump. A tarifa é considerada uma ameaça para a cadeia de suprimentos farmacêuticos em todo o mundo.
As ações dos maiores laboratórios americanos, como Amgen, AbbVie, Pfizer, Merck e Eli Lilly sofreram queda de 3% a 6%. Na Europa, uma cesta de ações do setor de saúde caiu 5%, atingindo o menor índice desde outubro de 2022, liderando as perdas entre os índices setoriais na região, que foi de 3,3%.
Análise do cenário
Analistas e empresas têm levantado preocupações sobre a dificuldade de estabelecer a produção de remédios nos Estados Unidos.
Segundo Evan Seigerman, analista de Mercados de Capital do Banco de Montreal, no Canadá, o setor é fortemente contra a taxação de qualquer medicamento. A nova tarifa provavelmente terá muito pouco efeito sobre a mudança das fábricas de outros países para os EUA.
Seigerman acrescenta uma preocupação a respeito das demissões recentes na agência reguladora do Departamento de Saúde dos EUA, a Food and Drug Administration (FDA). A preocupação aumentou após o anúncio das tarifas farmacêuticas.
A princípio, as importações de medicamentos estavam isentas do primeiro conjunto de tarifas recíprocas que Trump ordenou na semana passada. Contudo, a administração de seu governo havia dado indícios de que novas taxas sobreviriam sobre o setor posteriormente.
Dada a complexidade da cadeia de suprimentos na produção de medicamentos, o analista não espera que a indústria faça grandes mudanças. Na pior das hipóteses, as taxas durarão até o fim da administração atual do governo Trump e podem ter seu fim ainda mais cedo com um simples ato do Congresso.