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Energético faz mal ao coração?

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O risco cresce muito quando o energético é combinado com álcool, criando uma sobrecarga elétrica no coração.

 

Quem nunca abriu uma lata de energético para atravessar a madrugada, segurar a maratona de estudos ou esticar a festa? O “up” é real, mas o coração também sente. Estudos mostram que mesmo uma única lata pode alterar o funcionamento dos vasos sanguíneos, elevar a pressão arterial e modificar parâmetros do eletrocardiograma. O consumo excessivo está ligado a arritmias e, em situações extremas, até a eventos graves em pessoas sem doença cardíaca conhecida. A questão não é demonizar a bebida, mas entender quanto, quando e para quem pode ser perigosa.

 

As fórmulas variam, mas a maioria dos energéticos concentra doses altas de cafeína, muitas vezes equivalentes a três ou quatro xícaras de café por lata, além de taurina, guaraná e D-glucuronolactona. Esse coquetel estimula o sistema nervoso, provocando aceleração da frequência cardíaca e aumento da pressão. Estudos mostram que, após o consumo, há prolongamento do intervalo QTc, um parâmetro do eletrocardiograma que, quando alterado, facilita arritmias, e redução da eficiência do ventrículo esquerdo, inclusive em crianças e adolescentes sem doença aparente. Em outras palavras, mesmo corações saudáveis podem sentir o impacto imediato.

 

Há ainda os relatos de arritmias como fibrilação atrial, taquicardia ventricular e até fibrilação ventricular em pessoas jovens sem fatores de risco conhecidos. O risco cresce muito quando o energético é combinado com álcool, criando uma sobrecarga elétrica no coração e mascarando os sinais de fadiga. Também já foram descritos casos de espasmo coronariano, trombose, dissecção de artéria coronária e infarto agudo do miocárdio após consumo abusivo. Curiosamente, mesmo uma única lata já foi capaz de provocar disfunção endotelial mensurável em adultos jovens, ou seja, o revestimento interno dos vasos perde eficiência e a circulação sofre.

 

 

Os efeitos não se limitam ao coração. O consumo agudo pode aumentar a resistência à insulina, o que a longo prazo contribui para maior risco metabólico e cardiovascular. Além disso, a cafeína e os outros componentes podem interagir com medicamentos de uso comum, como alguns antidepressivos, antipsicóticos e descongestionantes, potencializando efeitos adversos. Por isso, indivíduos em tratamento devem ter ainda mais cautela.

 

Mas afinal, qual seria a quantidade segura? Para adultos saudáveis, considera-se aceitável até 500 ml por dia, cerca de 200 mg de cafeína por ocasião, sem ultrapassar 400 mg diários de todas as fontes. Acima disso, os riscos crescem, e volumes de um litro ou mais, em torno de 320 mg, já foram ligados a palpitações e alterações no eletrocardiograma. Crianças, gestantes, lactantes, pessoas com hipertensão, arritmias, cardiopatias ou histórico familiar de morte súbita devem evitar completamente essas bebidas.

 

O contexto de consumo também importa. Beber energéticos rapidamente, em grandes volumes, associado a noites de privação de sono, exercício físico intenso ou ingestão de álcool, potencializa os riscos. O corpo, que já está em situação de estresse, recebe um estímulo adicional que pode ultrapassar o limite. Em jovens, é ainda mais perigoso, porque a vulnerabilidade é maior e muitas vezes não há percepção dos sinais de alerta.

 

Isso não significa que o energético precise ser abolido. Para adultos saudáveis, doses moderadas e ocasionais costumam ser bem toleradas. O essencial é moderação: ler o rótulo, controlar a quantidade, beber devagar e manter hidratação. Se houver palpitações, dor no peito, tontura ou desmaio, é fundamental procurar atendimento médico.

 

Para quem deseja mais energia de maneira sustentável, as melhores alternativas continuam sendo as mais simples: sono regular, boa alimentação, hidratação e prática de exercícios. A cafeína em doses menores e fracionadas, como um café coado ou expresso, pode ajudar a manter o foco com menos riscos.

 

Fonte: O Globo
Foto: Reprodução