2022-04-22 14:54:38
Medicamentos envasados no Brasil dependem de matéria-prima e até de embalagem importadas. É no custo dos remédios em falta que está a explicação para o problema.
Foto: Desidrat
Hospitais brasileiros estão enfrentando a falta de alguns medicamentos.
São medicamentos vitais para o funcionamento de um hospital: dipirona, para febre e dor; ocitocina, usada para induzir o parto; neostigmina, para pacientes que tomam anestesia geral e imunoglobulina humana, utilizada para fortalecer o sistema imunológico.
Em São Paulo, estão em falta na versão injetável, de ação rápida. E para substituir fica mais caro, como conta o diretor de um hospital que fica em Suzano, na Região Metropolitana.
“A gente está tendo que comprar medicamento mais caro, o que dificulta também a realização de cirurgias, inviabiliza até algumas cirurgias para alguns convênios, até cirurgia particular, porque encarece muito o custo cirúrgico”, explica Marcelo Carlos Godofredo, diretor do Hospital Saint Nicholas.
É justamente no custo dos remédios em falta que está a explicação para o problema. São bem mais baratos porque, segundo a indústria farmacêutica, o preço está defasado. Os medicamentos envasados no Brasil dependem de matéria-prima e até de embalagem importadas.
Os laboratórios dizem que os valores desses insumos subiram muito nos últimos anos e já não compensa mais produzir alguns remédios que os hospitais administram porque o preço de venda é controlado.
O sindicato da indústria diz que a fabricação foi reduzida por causa do preço tabelado, que segundo ele, não cobre os custos da produção, e disse que o abastecimento desses remédios nas farmácias está garantido.
“Para a população em geral não há o risco de desabastecimento de farmácia. Quando nós falamos em dipirona, a dipirona vendida no varejo não está faltando, essa tem em profusão, porque são produtos que têm os seus preços livres”, diz Nelson Mussolini, presidente-executivo do Sindusfarma.
O sindicato dos hospitais afirma que a guerra na Ucrânia também atrapalhou a logística de entregas dos insumos importados.
“A maior parte desses produtos químicos que são utilizados para a produção dos agentes farmacológicos no nosso país são feitos em países exatamente localizados ou nessa região onde a gente está tendo conflito, ou próxima dela, mas também na Índia, na China, que de alguma forma estão todos afetados pelo conflito”, explica Francisco Balestrin, presidente do SindHosp.
O preço é controlado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, ligada a vários ministérios e à Anvisa. Em nota, a Anvisa diz que a regulação de preços é para garantir o acesso da população aos medicamentos, mas registra que medicamentos essenciais estão deixando de ser comercializados no país, resultando em desabastecimento e colocando em risco a manutenção de tratamentos e a segurança dos pacientes. E diz ser urgente discutir o aprimoramento do atual modelo da regulação, buscando promover o equilíbrio entre os lucros e os preços acessíveis para a sociedade.
O Ministério da Saúde disse que trabalha com a Anvisa para verificar as causas e articular ações de emergência para resolver a situação.