2021-09-22 11:44:26
Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), um dos momentos mais críticos, e que exige total integração da equipe multidisciplinar, é a ocorrência de parada cardiorrespiratória (PCR) no paciente.
Dentro da equipe, o farmacêutico tem um importante papel, pois sua correta e precisa atuação contribui para que haja maiores e melhores chances de reverter o quadro.
O farmacêutico na UTI é responsável por garantir a segurança medicamentosa e clínica do paciente. Logo, sua atuação é extremamente importante diante da polifarmácia terapêutica. Além disso, na PCR diversos medicamentos necessitam de muita atenção, por isso, compete ao farmacêutico ter um olhar crítico para não permitir erros de medicação e expor o paciente a riscos.
Em aula da pós-graduação em Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva do ICTQ, o professor Leonardo Daniel destaca a dinâmica característica da UTI, que é uma área em que as coisas acontecem em velocidade muito rápida.
Nesse setor, ele ressalta o perfil do farmacêutico ao atender pacientes com PCR: “Precisamos entender como acontece a parada, o que é feito, quais são as medidas, os medicamentos, como podemos visualizar uma parada, as ações e todo o protocolo que envolve uma parada cardiorrespiratória”.
Em seguida, ele lembra que a parada cardiorrespiratória é um momento em que todos os profissionais precisam estar interligados, falando a mesma língua, agindo do mesmo modo, para, assim, garantir uma assistência com êxito ao paciente.
Diante de tantas responsabilidades, como deve ser a atuação do farmacêutico para atender aos pacientes com PCR nas UTIs?
Antes de tudo, o professor explica que ela deve ser pautada na prevenção e na vigilância ativa, pois o farmacêutico é o principal responsável por garantir o controle dos medicamentos vasoativos na UTI.
Prevenção farmacêutica
Na aula, o professor Daniel destaca o papel preventivo do farmacêutico para ajudar a equipe multidisciplinar a prestar rápido atendimento aos pacientes com PCR.
Ele explica que na UTI existe o chamado ‘carro de emergência de parada’, onde ficam todos os medicamentos voltados ao atendimento de PCR, e compete ao farmacêutico ter controle desse carro e garantir que os fármacos estarão disponíveis nas suas quantidades ideais para atendimento ao paciente.
“O farmacêutico precisa garantir que não vai faltar nenhum medicamento, precisa ter um controle farmacêutico, pois se na hora de uma parada eles abrem o carrinho e não tem o que eles precisam, a culpa vai para a farmácia. E tem que ir mesmo, pois é função da farmácia fazer o controle desse carro de emergência”, ressaltou Daniel.
Vigilância ativa do paciente
Já na vigilância ativa, Daniel explica que é preciso verificar alguns sinais que demandam atenção ao paciente e podem indicar uma possível PCR.
Nesse caso, o professor exemplifica: casos de rebaixamento agudo do nível de consciência e alterações neurológicas agudas, alterações importantes nos sinais vitais (como frequência respiratória maior que 30 ou menor que 8), saturação de oxigênio abaixo de 90, aumento ou queda (> 100 ou <50 bpm) da frequência cardíaca (FC), aumento ou queda da pressão arterial sistólica (PAS) ou quando o tempo de enchimento capilar (EC) é maior que 3 segundos. “Essas são características sobre as quais temos de ficar bem atentos”, explicou.
Segurança do paciente
Outro importante ponto que o professor destaca é que compete à farmácia atender à meta 3 da segurança do paciente, que é voltada a melhorar a segurança na prescrição, no uso e na administração de medicamentos.
“A farmácia precisa ter controle, fazer com que o medicamento seja seguro e, principalmente, nos medicamentos vasoativos. Então precisa ter muito cuidado para não ter dispensação errada, trocar medicamentos, pois eles podem gerar um prejuízo muito grande”.
Logo, quando se trata da PCR, é extremamente indispensável que todos os medicamentos vasoativos estejam seguros e disponíveis para o atendimento rápido e correto do paciente, para assim, dar a ele o melhor medicamento, no momento mais propício e saber como usá-lo também.
Queijo suíço: segurança do paciente
Na UTI há o chamado queijo suíço. São barreiras nas quais mais de uma pessoa consiga verificar o processo e analisar qualquer detalhe que requer atenção na assistência ao paciente. Dessa forma, se uma primeira pessoa não viu um erro, a segunda ou terceira consiga observar e interromper o processo.
Nesse queijo suíço a atuação do farmacêutico também é essencial para verificar se há alguma situação que coloque em risco a vida do paciente.
“A intenção é que mais de uma pessoa veja o ciclo para o erro não passar despercebido, pois se uma mesma pessoa faz o processo de começo, meio e fim, e eu não peguei o erro lá no começo, a chance de identificar ele no fim é mínima, por isso que chamamos de queijo suíço, pois são várias barreiras para identificar o risco ao paciente.
Medicamentos de alto risco
Outra importante atuação do farmacêutico na UTI em atendimento da PCR é o controle de medicamentos de alto risco, pois compete a esse profissional fazer a correta identificação deles.
Esses fármacos devem ter embalagens diferenciadas, preferencialmente, com etiquetas vermelhas. Além disso devem conter uma identificação que não seja fácil de ser removida. É importante que os medicamentos com grafia ou sons parecidos tenham diferenciação entre si para que não haja confusão no uso.
E por fim, deve-se sempre fazer a dupla checagem desses medicamentos, tanto no momento da dispensação, como na administração deles.
Medicamentos vasoativos
Entre os medicamentos de alto risco há os vasoativos voltados para os casos de PCR, que apresentam efeitos vasculares, tanto pulmonares, como cardíacos e tem efeito rápido em pequenas doses, conforme o professor explica:
“Os medicamentos vasoativos atuam sempre pequenas doses e com resposta dose dependente de maneira rápida e curta. Quando eu faço um miligrama de adrenalina, ela vai ter efeito rápido, pois se o paciente está parado e a medicação vai ter efeito daqui a 15 minutos, esse paciente já foi a óbito”.