2022-01-24 14:46:46
A imagem acima ilustra com perfeição o atual cenário da digitalização nas farmácias independentes. A pandemia escancarou a relevância dos canais digitais como estratégias de venda, mas uma máscara parece impedir o acesso do pequeno varejo a essa oportunidade de negócio.
É o que apontaram os resultados da pesquisa Nível de Digitalização das Farmácias Independentes do Brasil, realizada pelo Instituto de Pesquisa AXXUS, startup do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp. O Panorama Farmacêutico teve acesso exclusivo ao levantamento, que envolveu 420 proprietários de farmácias em todos os estados e no Distrito Federal, com 95% de nível de confiança e 4% de margem de erro.
Hoje, as farmácias independentes representam 52.347 estabelecimentos, ou seja, 61,3% do universo de 85.433 farmácias ativas no território brasileiro. Segundo Rodnei Domingues, presidente do Instituto Axxus, já havia a expectativa da baixa digitalização nesses estabelecimentos. “Contudo, o resultado surpreendeu, mostrando que esse agrupamento tem muito a desenvolver para poder competir em iguais condições com os concorrentes. As regiões Norte e Nordeste foram as que apresentaram a situação mais crítica, inclusive por questão de endividamento”, relata.
Desconto é dado pelo atendente
Um dado que chamou a atenção em relação à pesquisa é que, em 99% das lojas, os descontos são definidos e concedidos aos clientes desses estabelecimentos pelos atendentes ou por um superior. Em apenas 1% dos casos, eles são parametrizados pelo sistema, bastante diferente do que ocorre na maioria das farmácias que pertencem às redes corporativas ou associativistas.
Outro destaque é que quase a totalidade das farmácias independentes que participaram da pesquisa não possuem programas de fidelidade (99,5%) e que 83% das lojas analisadas não realizam anúncios em mídias sociais.
Sem integração com distribuidoras
A pesquisa também abordou questões como os parâmetros para aferição de estoque. Nesse caso, se constatou que 86% das farmácias independentes ainda registram manualmente os produtos esgotados.
Além disso, em 95% dos PDVs, o sistema não está integrado com o distribuidor que os atende. “A falta de integração eletrônica com as distribuidoras culmina em uma compra mais baseada em relacionamento e argumentação do vendedor do que em aspectos técnicos”, ressalta Domingues.
Uma das práticas que prejudica as finanças desses estabelecimentos é que quase a totalidade (99%) das lojas não utiliza sistemas de cotação para auxiliar na decisão da melhor compra. Já 97% dos gestores afirmaram que o módulo financeiro não está integrado ao ERP. “Esse é o ponto mais crítico, pois inviabiliza qualquer análise mais profunda do desempenho da loja”.
Delivery próprio
Outro dado relevante é de que 92% das farmácias independentes não utilizam qualquer plataforma de marketplace. Por outro lado, com relação às modalidades de entrega (delivery), 92% afirmaram prestar esse serviço com entregador próprio. As captações de pedidos se dão prioritariamente por telefone (96%) ou WhatsApp (91%).
“O fato de o delivery não ser terceirizado é um ponto forte, com a entrega podendo ser até mais rápida do que os agrupamentos mais organizados, estimulado até pela pandemia. É isso que está dando uma sobrevida a essas lojas”, acredita Domingues.
Passado glorioso
Os resultados apurados pela pesquisa apontam a necessidade de evolução digital desses estabelecimentos, para que possam garantir a continuidade dos negócios. “Um dos motivos dessa realidade nas farmácias independentes é que muitas ainda se pautam pelo seu passado promissor, de loja de bairro, sem concorrência, e acham que essa realidade ainda vale para os negócios.
Outra causa, está relacionada a empresários mais recentes que não conhecem os meandros do ramo e tem também os acomodados, que não buscam a inovação e colocam o mau resultado da farmácia em uma questão circunstancial”, finaliza.