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A corrida acelerada por uma vacina contra o coronavírus

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2020-04-28 11:00:02

 

Ao mesmo tempo que buscam uma terapia adequada para aqueles que já contraíram a Covid-19, os cientistas tentam chegar a uma fórmula capaz de preveni-la.

 

O surto começou na China. O patógeno responsável pela doença veio da grande família viral denominada coronavírus (CoV). Em poucos meses, dezenas de países somaram milhares de infectados, com mortes se sucedendo. Criou-se, então, uma demanda global por uma vacina. O quadro lhe soou familiar? Seguramente. Mas eis o dado desconcertante: não, as palavras acima não dizem respeito à atual pandemia que varre o planeta. A referência é ao que ocorreu em 2002 a partir da província de Guangdong, onde surgiu a Sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave). Ela contaminou 8 000 pessoas e matou cerca de 800. No entanto, como foi controlada, os esforços para a produção de uma vacina cessaram. Em 2012 aconteceria algo semelhante com o Mers-CoV, causador da síndrome respiratória do Oriente Médio. Diante de tais antecedentes, é incontornável perguntar: haverá vacina contra o novo coronavírus, o Sars-CoV-2? Se sim, quando afinal?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem atualmente setenta vacinas em desenvolvimento contra a Covid-19. Contudo, poucas estão sendo testadas em humanos. Há duas nos Estados Unidos, uma na Alemanha e outra feita pela empresa CanSino Biologics, de Hong Kong, junto com o Instituto de Biotecnologia de Pequim. No Reino Unido, a Universidade de Oxford planeja testar uma nova vacina em 500 pessoas já no mês de maio. Os pesquisadores ingleses são os que têm a previsão mais otimista entre seus pares mundo afora: eles imaginam que a vacina contra o novo coronavírus estará aprovada já no próximo mês de setembro. Os demais cientistas falam em fins de 2021, pelo menos.

O entusiasmo dos ingleses tem uma explicação: o ritmo acelerado das pesquisas. Um dos protótipos americanos, por exemplo, pulou o teste em cobaias, uma das etapas que, em ocasiões normais, seria indispensável (veja o quadro abaixo). Os órgãos reguladores costumam exigir provas de que um imunizante é seguro quando aplicado em animais de laboratório antes de liberar o teste em humanos. A justificativa para a ausência dessa fase no caso americano é que a vacina não se vale de um “vírus enfraquecido”, como o usual, e sim de um fragmento de seu material genético. A ideia, ainda não comprovada, é que isso basta para convocar uma resposta imunológica robusta do organismo — e sem tanto risco.

Outra etapa que poderá ser rifada se encontra exatamente em uma das fases de testes em humanos. O protocolo de segurança de vacinas exige que, antes de sua liberação, haja a inoculação em grande número de indivíduos durante um período extenso — no mínimo um ano. Entretanto, já se acredita nos meios científicos que a vacina ficará disponível tão logo seja provado que não provoca grandes efeitos colaterais em pessoas dos grupos de risco, eliminando-se a testagem em massa. Com isso, ganha-se uma redução de ao menos seis meses no processo. “O atalho regulatório é muito atípico e reflete a urgência de desenvolver vacinas para conter a Covid-19”, diz o imunologista gaúcho Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do Incor, responsável por uma das pesquisas em tal frente em andamento no Brasil.