2019-01-16 12:30:08
As dores intensas nas articulações são as características mais marcantes da Chikungunya, doença causada pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Atualmente, milhares de pessoas ainda sofrem com as duras consequências deixadas pela enfermidade, que, em alguns casos, gera dores crônicas que duram semanas, meses, anos ou toda a vida da pessoa. Mas, afinal, como são essas dores? Como é feito o tratamento? Existe alguma forma de evitar?
Para responder algumas dessas perguntas, conversamos com a reumatologista do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN-DF), Maira Rocha. Ela explica que a evolução da doença varia bastante de pessoa para pessoa. “Em algumas pessoas a dor pode desaparecer em poucas semanas. Mas, normalmente, essas dores costumam durar um período médio de 12 a 18 meses. Porém, não é uma regra, existem casos de pessoas com dores persistentes por 3 ou 4 anos, por exemplo”, disse.
Dores incapacitantes
Ricardo Dantas, 43 anos, é uma das pessoas que têm sofrido com as dores persistentes da Chikungunya nos últimos anos. No início do ano de 2016, ele, os pais, a irmã, a sobrinha e o cunhado foram infectados com a doença, no interior do Rio Grande do Norte. “Decidimos fazer uma visita aos meus pais na semana santa e em pouco tempo todo mundo estava doente. No começo foi bem difícil para todo mundo”, lembra.
De acordo com Dantas, os pais sempre tiveram cuidados com o controle do Aedes, mas que o mesmo cuidado não parecia acontecer na vizinhança. “Meus pais sempre tiveram todos os cuidados com o combate do mosquito em casa, mas, acredito que estava acontecendo algum tipo de surto na região e todo mundo pegou a doença. Com o tempo, todos se curaram e eu fui o único “sortudo” que continuou sentindo dores e já são quase três anos”, lamenta.
Conviver com a doença é um sofrimento constante. “Eu digo que acordo como um velhinho de 90 anos. Com o passar do tempo, essas dores costumam aliviar um pouco, mas no final da tarde me transformo em um velhinho novamente”, relata Dantas.
Apesar disso, ele conta que hoje se sente muito melhor, já que no início as dores eram incapacitantes. “Durante o primeiro ano da doença eu fiquei muito incapacitado. As dores eram muito fortes e eu tive que fazer um longo tratamento com corticoides. Antes da doença eu malhava, corria e era bem ativo. Em pouco tempo, eu não conseguia mais fazer exercícios físicos. Naquela época, eu não conseguia segurar nem uma xícara ou manter o smartphone na mão sem sentir muitas dores. Era uma situação horrível”, recorda.
Ricardo admite que pode não ter seguido o repouso como deveria, quando estava na fase aguda da chikungunya. “Em alguns momentos, você se sente bem e acha que está curado. Mas logo as dores voltam com mais força que antes. No começo, acredito que posso ter errado nisso, achava que era forte e que podia fazer tudo”, conta.
Cuidados iniciais são fundamentais
A reumatologista Maira Rocha explica que a fase inicial da doença é a mais complicada e a que requer mais cuidados. A atenção deve ser redobrada, principalmente, na fase aguda da chikungunya. “Existem estudos que mostram que uma das poucas coisas que podem evitar a evolução da doença para a fase crônica são os cuidados na fase aguda. É muito importante manter o repouso absoluto nesse momento e evitar a automedicação, que pode piorar o quadro do paciente”, esclarece.
Sobre as características das dores, a doutora Maira explica que se tratam sobretudo de dores poliarticulares. “Normalmente, são dores em várias articulações e bastante simétricas, ou seja, as dores costumam acontecer nas mesmas articulações nos dois lados do corpo “, diz.
No caso de Ricardo Dantas, com a evolução da doença, as dores também se concentram em uma parte específica do corpo. “No meu caso, as dores ficaram localizadas mais na parte superior do corpo, principalmente nas mãos, nos dedos, nos cotovelos e nos ombros. Por isso, no trabalho o impacto foi grande. Eu sou oficial de justiça e trabalhava na rua. Pela doença, fui remanejado para realizar trabalhos internos, mas não conseguia nem digitar por causa das fortes dores que eu sentia nos pulsos”, lembra.
Prevenção e tratamento
Não existe vacina ou tratamento específico para Chikungunya. Os sintomas são tratados com medicação para a febre (paracetamol) e as dores articulares (analgésicos). Na fase aguda, recomenda‐se repouso absoluto ao paciente, que deve beber líquidos em abundância. O tratamento é oferecido de forma integral e gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
A melhor forma de prevenção da doença é eliminar o mosquito Aedes aegypti, por isso é fundamental que as pessoas reforcem as medidas de eliminação dos criadouros de mosquitos nas suas casas e na vizinhança.