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Varejo surpreende, mas reação mais forte depende de emprego

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2019-03-18 12:00:08

 

O varejo surpreendeu positivamente em janeiro, com alta de 0,4% no conceito restrito e de 1% no ampliado (que inclui automóveis e material de construção), acima das expectativas. O resultado favorável foi disseminado, com nove de dez atividades apresentando crescimento em relação a dezembro, na série com ajuste sazonal. Na comparação com janeiro de 2018, as vendas do varejo restrito cresceram 1,9%, e as do ampliado, 3,5%

Os números foram recebidos com alívio, após uma inesperada queda de 0,8% na produção industrial em janeiro. Adiante, economistas veem sinais mistos para o consumo das famílias, com desemprego elevado por um lado, mas inflação e juros favoráveis do outro. A expectativa geral é de uma gradual melhora dos fundamentos para o consumo, com aceleração das vendas no segundo semestre, condicionada, porém, à reforma da Previdência.

A maior influência para o resultado do mês, considerando o peso de cada atividade da pesquisa, veio do grupo chamado “outros artigos de uso pessoal e doméstico”, que cresceram 7,2% na passagem de dezembro para janeiro. São grandes lojas de departamento, que vendem desde produtos de cama, mesa e banho até aparelhos eletrônicos.

Para Isabella Nunes, gerente da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), as vendas dos grandes varejistas podem ter sido ajudadas por promoções e oferta de crediário, num mês que costuma ser ruim para o consumo, devido a despesas com IPVA, IPTU e material escolar. Outra contribuição positiva relevante veio das vendas de hiper e supermercados, segmento de maior peso na PMC, que cresceram 0,6% em janeiro.

Também avançaram no mês as vendas de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (8,2%); combustíveis e lubrificantes (0,5%); móveis e eletrodomésticos (0,4%); livros, jornais, revistas e papelaria (0,2%); e tecidos, vestuário e calçados (0,1%). A única queda foi no setor de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,5%). No varejo ampliado, veículos e motos, partes e peças (5,7%) e material de construção (0,1%) tiveram incrementos na margem.

Apesar do resultado positivo de janeiro, analistas receberam os dados com cautela. “É preciso fazer uma ressalva para esses números no curto prazo – novembro, dezembro e janeiro”, diz Flávio Serrano, economista sênior do Haitong. “Eles podem acabar nos traindo, uma vez que a mudança de padrão de comportamento do consumidor brasileiro com a Black Friday – uma parte das vendas de dezembro tem sido antecipada em novembro – pode ter introduzido alguns ruídos no ajuste sazonal do IBGE”.

Em novembro, as vendas do varejo restrito subiram 3,1% e caíram 2,1% em dezembro. O fraco desempenho no último mês do ano pode ter favorecido a comparação mensal em janeiro.

Já a 4E Consultoria destaca que, apesar do número positivo na margem, a retomada do consumo não tem ganhado vigor. “O resultado acumulado do comércio restrito em 12 meses até janeiro ficou em 2,2%, ante 2,3% no número fechado de 2018, enquanto que no conceito ampliado o crescimento arrefeceu para 4,7%, ante os 5,0% acumulados até dezembro de 2018”, escrevem os analistas da casa, em relatório.

O fraco desempenho do mercado de trabalho é considerado o principal entrave para um avanço mais forte do comércio no curto prazo. “As condições conjunturais são ambíguas à retomada do consumo, de um lado, a inflação situa-se sob controle, com juros mais baixos, favorecendo o processo de desalavancagem das famílias”, afirmam os economistas da Parallaxis. “De outro, o mercado de trabalho segue desaquecido, com recuperação de baixa qualidade, e as incertezas locais e internacionais restringem a capacidade de retomada da economia, podendo retardar o crescimento das vendas do varejo.”

Para Isabela Tavares, da Tendências Consultoria, as perspectivas devem ser mais positivas no segundo semestre, mas isso vai depender da reforma da Previdência. “O andamento positivo das reformas deve continuar favorecendo o otimismo dos agentes econômicos, tanto de consumidores, quanto de empresários, o que deve se refletir em maior número de vagas de trabalho, aumento da massa de renda, ampliação das concessões de crédito e manutenção da taxa de juros em nível reduzido”, afirma.

Em fevereiro, a analista acredita que as vendas do varejo podem ser beneficiadas pelo maior número de dias úteis, devido ao carnaval em março. Com base nos indicadores coincidentes disponíveis (licenciamento e vendas de veículos, sondagens do comércio e do consumidor e consultas ao SCPC), o Itaú projeta preliminarmente alta mensal de 0,3% do varejo restrito e de 0,2% do ampliado, com ajuste.