2018-11-08 10:04:08
Coordenadora do CRF realizou pesquisa com 20 pessoas surdas no primeiro semestre de 2017.
A coordenadora da comissão de ações para a comunidade no Conselho Regional de Farmácia em São Paulo, Abia Cristina Felippe, realizou um trabalho de pesquisa com 20 pessoas surdas, a qual foi constatada a real dificuldade que os deficientes passam ao serem atendidos durante o tratamento medicamentoso. “Eu fiz parte de uma ação social ano passado em frente a um instituto que é específico para deficientes auditivos, o Instituto Seli. E mediante essa ação social, eu conheci alguns pacientes surdos. Assim como, por ter sido estudante desse instituto, eu também atendi alguns pacientes lá, e conheci alguns alunos e professores. Então, dentro dessa pesquisa, eu peguei um número de pessoas para chegar a uma conclusão específica”. Ela afirma que os entrevistados são de São Paulo, da região do Tatuapé, onde se concentra a maior parte dos deficientes auditivos na região central da cidade.
Quando perguntada sobre o que a motivou a fazer sua pesquisa, Abia conta que foram experiências pessoais de sua infância que a estimularam. “Eu tenho alguns amigos de infância surdos, que tinham diferenças nos medicamentos que tomávamos quando crianças, e um deles ficou mal por causa de um medicamento. Então, quando cresci, eu resolvi na faculdade fazer o meu tcc referente a isso. Fiz a pesquisa para o meu tcc, e depois para fazer o trabalho de iniciação científica”.
Abia constatou na pesquisa que de 20 entrevistados, 18 já haviam ingerido algum medicamento errado, ou nem sequer tomado, por receio de não saber como ingerir, o que denota o fato de que, atualmente, os deficientes auditivos passam pelas mesmas dificuldades em relação a medicação. “Tenho contato com as pessoas que fiz a pesquisa e outros surdos, e não teve diferenças, o que a gente espera é que melhore agora”.
No mês de outubro, o Conselho Federal de Farmácia reuniu em Brasília profissionais empenhados nas causas inclusivas do atendimento farmacêutico, “exatamente para motivar os farmacêuticos a melhorar o atendimento a qualquer tipo de deficiente, não necessariamente só os pacientes com deficiência auditiva”, completa Abia. Ela nos fala que enxerga um retorno positivo a partir dos projetos criados em prol do atendimento inclusivo. “Analisamos e estamos criando alguns trabalhos, através do Conselho Federal de Farmácia. Inclusive, já divulgaram que foi criada uma resolução. A partir do momento que for publicada, o farmacêutico terá uma base do que haverá para melhoria”, comunica a farmacêutica. Por saber falar em libras, Abia atende surdos na farmácia onde trabalha, com uma assistência farmacêutica individualizada. Ela acredita que essa iniciativa acarretaria uma melhoria para farmacêuticos e pacientes. “Não é uma especialidade, mas é um campo a mais para o farmacêutico. Se você é um farmacêutico que se capacitou para atender uma pessoa com algum tipo de deficiência, você trará novos clientes para sua farmácia e vai melhorar a saúde de muita gente”, conclui.
“Se nós que não temos nenhuma deficiência tomamos medicação errada, imagina o deficiente. É algo que devemos parar e refletir. Às vezes, na correria, tomamos a medicação errada, às vezes uma receita não está muito legível ou o próprio profissional da saúde pode dispensar. Mas o que ajuda ele a não dispensar? É o diálogo. Porque mesmo que a receita não esteja legível, você dialogando saberá para que o médico indicou aquele medicamento. Então, se tivermos mais comunicação, com certeza vamos melhorar a qualidade de vida de muita gente. E inclusão! Incluir o farmacêutico a sentir na pele a dificuldade deles e incluir eles no nosso mundo”, finaliza Abia.
Por Maíra Bergamo