2018-10-15 11:15:08
A inércia terapêutica é um dos fatores que contribuem para o cenário preocupante; internações por diabetes e suas complicações somaram R$ 463 milhões em 2014.
Apesar de ser uma das doenças crônicas que mais acomete os brasileiros, existe uma certa discrepância com relação à prevenção e controle adequado do diabetes. A demora para que o paciente atinja o controle adequado da doença, mesmo após iniciar o tratamento, pode causar complicações que podem levar à morte. Atualmente, o Brasil possui cerca de 14 milhões de portadores de diabetes, sendo que a doença hoje é a terceira maior causa de mortes no País, e nos últimos seis anos, cresceu por volta de 12%.
A inércia terapêutica consiste na demora na intensificação do tratamento, como explica o Dr. Alexandre Hohl, endocrinologista e vice-presidente da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). “A inércia pode ser causada tanto pelo paciente quanto pelo profissional de saúde, que, por desconhecimento ou não cumprimento de protocolos que buscam o controle do diabetes, demora em intensificar o tratamento com outros medicamentos, o que é essencial para a prevenção de uma série de complicações associadas” destaca.
Ainda de acordo com o Dr. Alexandre Hohl, o baixo nível de preocupação com complicações da doença a longo prazo é uma realidade entre os brasileiros. “Estima-se que metade da população com diabetes não sabe que tem a doença. A ausência de sintomas nas fases iniciais torna o cenário ainda mais alarmante, ao levarmos em conta que, apesar de 7 em cada 10 portadores de diabetes afirmarem que seguem corretamente o tratamento, grande parte não possui a clareza de que o controle da doença inclui uma série de fatores que vão além da administração dos medicamentos” explica o especialista.
O Dr. Hohl também explica que o conhecimento e a educação do profissional de saúde são essenciais para conter o avanço das complicações relacionadas ao diabetes, que vão desde problemas cardiovasculares, como infarto e AVC, até insuficiência renal e risco de amputação, principalmente de membros inferiores. “A constante atualização do profissional de saúde é essencial para combater a inércia terapêutica. Temos observado que o tratamento do diabetes mudou consideravelmente na última década, com a chegada de terapias inovadoras e que possibilitam o controle da doença desde o momento do diagnóstico” explica o especialista.
O gargalo na detecção de novos casos também é uma das explicações para a demora na intensificação do tratamento, e o consequente controle da doença. Segundo um levantamento realizado pela Abril Inteligência com apoio da AstraZeneca e do endoDEBATE, menos da metade das pessoas com diabetes relatou ter passado por exames cardiológicos e/ou renais no último ano, e apenas 16% tiveram os pés examinados, dado que vai ao encontro dos impactos socioeconômicos da doença aos sistemas de saúde no Brasil.
Segundo dados do Ministério da Saúde, as internações devido ao diabetes e condições relacionadas custaram R$ 463 milhões ao SUS em 2014, representando 4,3% dos custos totais de hospitalizações no SUS naquele ano. Mas, de 2014 para cá, pouca coisa mudou: de acordo com dados do levantamento da Abril Inteligência, os próprios pacientes com diabetes relacionam a doença muito mais com as suas complicações, como cegueira e amputações, do que a uma maior probabilidade de óbito.
Para a Diretora Médica da AstraZeneca Brasil, Maria Augusta Bernardini, o investimento em prevenção e em conscientização é essencial para combater esse cenário. “A qualidade de vida do paciente diabético está diretamente relacionada com os hábitos cultivados no dia a dia. O controle do peso, prática de atividade física, escolha por alimentos saudáveis e controle glicêmico são os grandes pilares no tratamento da doença. Negligenciar um desses tópicos é determinante para a má evolução do diabetes”.
Ainda segundo Maria Augusta, é necessária uma reflexão de toda a sociedade. Quem convive com a doença, sofre de modo recorrente com as sequelas renais, oculares e cardíacas e em alguns casos, amputações. Para o Dr. Alexandre Hohl, o cenário do diabetes no país necessita de uma resolução urgente, que vai além da educação médica. “O investimento em um sistema que englobe assistência continuada em todas as fases da doença, e em profissionais de saúde que tratem o diabetes em toda a sua complexidade, conscientizando e empoderando os pacientes e médicos sobre a importância do tratamento individualizado é primordial para frearmos a epidemia do diabetes e suas complicações” finaliza o especialista.