2018-10-24 10:02:08
Em Congresso de Infectologia, Renato Kfouri falou sobre avanços no controle da doença no país. Organização Mundial de Saúde estabeleceu meta de eliminar doença no mundo até 2030.
A hepatite B mata cerca de 900 mil pessoas por ano mundialmente, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que estabeleceu para 2030 a meta de erradicar a doença no mundo.
Durante o 11º Congresso Paulista de Infectologia, Renato Kfouri, médico infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunização, disse ser possível alcançar a meta estabelecida, mas para isso o Brasil precisa vencer alguns desafios.
“É um vírus exclusivamente humano. Só tem reservatório do vírus em seres humanos assim como o sarampo, a pólio e a varíola, portanto, é uma doença erradicável”, disse na abertura de sua palestra sobre o tema.
A vacinação contra a hepatite B é um ponto crucial para o avanço no controle da doença.
Atualmente, o Brasil é um dos poucos países que realiza a vacinação universal da hepatite B para todas as idades e de forma gratuita. Porém, as taxas de vacinação de adultos e crianças estão abaixo da meta vacinal recomendada que é de 95% de cobertura.
Pentavalente é a vacina que imuniza contra hepatite B, difteria, tétano, coqueluche e infecções causadas por Haemophilus influenzae tipo b. Ela faz parte do calendário de vacinação infantil no Brasil. A vacinação da hepatite B é feita em três doses e o esquema precisa ser completo para ter o resultado da cobertura desejada.
Hepatite crônica e transmissão de mãe para filho
Além disso, Kfouri cita o tratamento de portadores de hepatite crônica e a transmissão vertical como outros obstáculos à erradicação a serem levados em consideração.
A transmissão vertical é quando a doença passa da mãe para feto no útero ou para o recém-nascido durante o parto. As principais vias de contágio são a gestação, o parto e a amamentação.
Já a hepatite crônica acontece quando a doença persiste no organismo por mais de seis meses e geralmente acontece quando a pessoa ainda criança tem uma versão aguda da doença. Por isso, a vacinação neonatal é importante para frear os casos crônicos da doença.
Atualmente, a detecção da hepatite B no Brasil é menor abaixo dos 20 anos de idade por causa da introdução à vacinação neonatal nas maternidades: “Então a gente não vê mais casos novos de hepatite B em crianças e adolescentes porque estamos vacinando, com taxas de coberturas elevadas, as crianças no berçário”.
“Isso vai refletir no futuro porque estamos criando uma geração de pais que não foram expostos (ao vírus). Transmissão vertical e horizontal vão cair naturalmente porque não veremos mais adolescentes e adultos infectados”, acredita Kfouri.
Para o infectologista, para falar da prevenção da hepatite B e da eliminação do portador crônico é preciso falar da prevenção da transmissão vertical. “As vacinas que temos hoje disponíveis contra a hepatite B são eficazes, inclusive contra alguns vírus mutantes que a gente vem reconhecendo agora. As drogas anti-virais usadas em gestantes com hepatite B de risco são promissoras para eliminação dessa transmissão vertical residual”, diz.
Kfouri considera a meta da OMS ambiciosa, mas possível. Para ele, o vírus da hepatite B continua sendo um importante problema de saúde pública mundial: “Eliminar o fato crônico é fator crucial neste processo e a gente precisa trabalhar hoje a falta de coberturas vacinais não só aqui no Brasil, que já temos uma história até melhor para contar do que em outros países, mas no mundo”.