2018-02-23 11:30:08
Erros comuns na hora de tomar medicamentos podem comprometer o tratamento. Saiba o que evitar.
Esquecer-se de tomar o medicamento na hora indicada pelo médico, comprar comprimido de dose maior para parti-lo ao meio ou guardar os remédios no banheiro de casa são comportamentos comuns de boa parte dos pacientes. Embora rotineiras, essas atitudes merecem um cuidado especial, pois podem comprometer a eficácia das drogas, prejudicando o tratamento.
Aqui, reunimos as dúvidas mais comuns na hora de comprar, administrar e armazenar medicamentos e as esclarecemos junto a especialistas. Mas lembre-se: antes de tomar qualquer fármaco, peça orientações para um médico ou para o farmacêutico e nunca se automedique.
Quais medicamento dá para ter em casa?
Embora a automedicação seja fortemente reprovada pelos profissionais da saúde, medicamentos de venda livre podem compor uma farmacinha caseira. Leila Beltrame Moreira, coordenadora da Comissão de Medicamentos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, cita analgésicos, antitérmicos, antiácidos e dipirona – se a pessoa não for alérgica à substância – como itens que podem ser armazenados em casa.
– Esses medicamentos não vão curar um problema patológico, vão aliviar os sintomas. Mas se você tomou a dose indicada e não teve alívio, deve procurar um serviço de saúde – recomenda.
Vale lembrar que cautela é sempre a melhor orientação.
– São drogas relativamente seguras, com particularidades de paciente para paciente. Para uso esporádico, não tem problema – completa Leonardo Fernandez, chefe do Serviço de Emergência da Santa Casa de Porto Alegre.
Dá para abrir as cápsulas?
Não. A parte externa serve como uma proteção para a substância ativa. Se você tem dificuldade de ingerir esse tipo de medicamento, converse com médico para avaliar opções.
Dá para cortar medicamentos?
Não. Nenhum comprimido deve ser partido, principalmente se for revestido. Isso porque essa camada serve tanto para proteger do ambiente externo quanto para evitar a degradação da substância ativa. Além disso, esse tipo de manipulação altera a dosagem.
– Às vezes, as pessoas compram uma dosagem de 40mg, por exemplo, porque é mais em conta do que a de 20mg. Mas o barato pode sair caro, pois o medicamento não vai controlar a doença. Estudos já mostraram que, mesmo usando equipamentos de corte, há diferença na dosagem de cada metade. Antes de cortar, é importante consultar o médico – diz a farmacêutica Denise Milão.
Dividir os medicamentos de liberação prolongada – que liberam a substância ativa ao longo de um período maior – pode ser ainda mais arriscado, pois corre-se o risco de ingerir uma dose muito maior do que a correta.
A regra vale também para os medicamentos que já vêm com um vinco, pois eles sofrem perdas igualmente em função do esfarelamento.
Diferença entre comprimido, drágea e cápsula
Comprimidos são obtidos, como o próprio nome diz, por meio da compressão de um pó. Todo o ar presente entre as partículas é retirado, resultando em um produto sólido. A digestão do medicamento começa já no estômago. As versões sublinguais são elaboradas para se dissolver com a saliva, para que os princípios ativos sejam absorvidos pela mucosa bucal, passando diretamente para a corrente sanguínea, acelerando seu efeito.
Drágeas são comprimidos revestidos com açúcar ou algum polímero derivado da celulose. Essa cobertura serve para proteger a substância ativa do ar, da luz e da umidade, além de retardar a digestão do fármaco.
– Em algumas situações, o revestimento é necessário para que a liberação ocorra somente no intestino – explica a professora Denise Milão, do curso de Farmácia da Escola de Ciências da Saúde da PUCRS.
Já as cápsulas contêm o fármaco envolto em um revestimento de gelatina – a mesma que você come -, que pode ou não receber pigmentos. Essa “embalagem” serve para preservar o medicamento do ar, da umidade e da luz. Há no mercado das farmácias de manipulação cápsulas com revestimento de polímeros vegetais, opção para pessoas veganas – aquelas que não consomem nada de origem animal. Independentemente do revestimento, as cápsulas são digeridas no estômago.
Bebida alcoólica interfere nos medicamentos?
Fernandez afirma que o álcool pode interferir na ação dos medicamentos que, assim como as bebidas, são metabolizados no fígado. No caso dos antibióticos, é melhor esquecer os drinques.
“O problema é o abuso, pois o álcool aumenta a eliminação dos antibióticos. É precisomanter no sangue uma determinada concentração do medicamento em um intervalo de tempo, e o álcool acelera essa eliminação. Caindo essa concentração, diminui a eficácia”, exemplifica a médica Leila Moreira.
A combinação pode potencializar os efeitos de alguns medicamentos.
“É o que acontece com certos antialérgicos e ansiolíticos, por exemplo”, diz a presidente do Conselho Regional de Farmácia do RS, Silvana Furquim.
Antibiótico diminui o efeito dos anticoncepcionais?
Conforme a médica Leila Moreira, algumas substâncias alteram as bactérias do intestino que são importantes para o efeito desejado dos anticoncepcionais.
“Mulheres em idade fértil devem cuidar esses casos”, avisa a médica.
Ampicilina e amoxicilina são algumas das drogas que podem causar alterações.
Há combinações de drogas que devemos evitar?
Quem toma muitas drogas deve pedir auxílio para o médico na hora de administrar as doses. Segundo médico Leonardo Fernandez, medicamentos para diabetes, colesterol e hipertensão geralmente toleram-se entre si. Mesmo assim, é preciso conversar com o médico antes de tomar. O que merece cuidado especial é a combinação de sulfato ferroso com antiácido ou antibióticos com antiácidos, alerta Leila. Se for o caso, dê um intervalo de duas horas entre um e outro.
Fernandez alerta para os riscos da chamada polifarmácia em idosos, que é a grande lista de medicamentos prescritos.
“Eles acabam tendo muitos médicos e cada um dá seu medicamento. Não é incomum o idoso estar usando 18 drogas, e muitas vezes nem lembra. A interação é um risco pois eles têm as funções renal, pulmonar, cardíaca e hepática menor – destaca Fernandez, acrescentando que a solução para diminuir essa realidade seria ter um médico para gerenciar toda a saúde do paciente.
É melhor tomar o medicamento em jejum ou com as refeições?
Essa orientação deve ser dada pelo médico e pode ser reforçada pelo farmacêutico na hora da compra, pois varia de acordo com a substância.
– Algumas medicações têm a absorção prejudicada pelos alimentos, e outras podem causar irritação gástrica se tomadas em jejum – observa o médico Leonardo Fernandez.
Sulfato ferroso e antibióticos, por exemplo, funcionam melhor quando ingeridos com a barriga cheia. Se a recomendação for tomar a droga em jejum, deve-se dar um intervalo de uma hora entre o medicamento e a refeição ou duas horas após se alimentar.
Só posso tomar com água?
Depende da droga. A maioria pode ser ingerida com água ou leite.
“Na dúvida, tome com água”, sugere a médica Leila Moreira.
Vale perguntar ao médico ou ao farmacêutico, pois, em alguns casos, o leite pode fazer com que o medicamento não seja absorvido adequadamente.
Existe horário recomendado?
Via de regra, não há melhor horário para ingerir medicamentos. O importante é manter a regularidade – especialmente na ingestão antibióticos, que deve respeitar o intervalo de tempo estipulado pelo médico, sob pena de perder a eficácia caso haja atrasos. Há alguns tipos específicos de drogas para colesterol e úlcera que funcionam melhor à noite.
Em caso de esquecimento, o que fazer?
Volta-se a tomar a substância assim que lembrar. Mas nunca dobre a dose.
Como descartar medicamentos?
Nunca jogue medicamentos em desuso ou vencidos no lixo comum, na pia ou no vaso sanitário, pois eles são resíduos químicos poluentes do meio ambiente. As farmácias disponibilizam coletores específicos para isso.
“Os estabelecimentos que não têm coletores recebem esses medicamentos e encaminham para o descarte adequado. Converse com o seu farmacêutico e verifique a melhor alternativa”, recomenda Silvana Furquim.
Onde guardar medicamentos?
Deve-se mantê-los longe do calor, da umidade e da luz, ou seja, jamais deixe no carro ou no banheiro. Denise orienta que eles sejam guardados dentro de suas respectivas caixas com a bula. Outro ponto importante é retirá-los do invólucro de alumínio somente na hora da ingestão.
Quem faz uso de muitas substâncias e costuma utilizar embalagens fracionadas com todas juntas deve ficar atento à higiene do suporte.
“O ideal é que se organize esses medicamentos para, no máximo, uma semana. Quando se retira o medicamento do invólucro, ele perde estabilidade. O prazo de validade escrito na caixinha diz respeito àquela embalagem. Ao modificá-la, modifica-se também o medicamento “, alerta Denise Milão, professora de Farmácia da PUCRS.