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Remédios para transplantados estão em falta em sete estados

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2017-11-17 12:00:08

 

Medicamentos são indispensáveis e evitam a rejeição ao órgão doado.
Ministério da Saúde diz que não foi alertado sobre a falta de remédios.

A Associação Brasileira de Transplantados lançou um alerta para a falta de pelo menos um dos três medicamentos principais contra rejeição de órgãos. Segundo a associação, o problema ocorre em sete estados.

A expressão de angústia de Dorca Lemes não é por acaso. Depois de descobrir uma doença nos rins, ela ficou quatro anos na fila esperando um doador.

O transplante foi há dois anos e meio. Desde então, tem que tomar diariamente dois remédios: o micofenolato e o tacrolimo. A ex-vendedora conta que, desde o começo do ano, os medicamentos começaram a faltar nas chamadas farmácias de alto custo.

É lá que as Secretarias estaduais de Saúde distribuem gratuitamente imunossupressores para quem precisa.

“Começou em janeiro. Começou a falta esporádica. Agora, nesses últimos quatro meses, a falta está constante. Não é mais esporádica. Você vai na farmácia de alto custo, e eles nunca têm. Ou um ou outro”, contou Dorca Lemes.

Da mesma forma que a ex-vendedora, outros 50 mil brasileiros são transplantados. Gente que passou anos na fila à espera de um órgão que, mesmo sendo compatível, faz com que o transplantado tenha que tomar, para o resto da vida, imunossupressores, medicamentos específicos para evitar que o organismo rejeite o órgão transplantado.

“Se eles pararem de tomar por um período de semanas, eles perdem o órgão transplantado. No caso do rim, volta para a diálise; no caso de coração, pulmão, fígado, eles morrem”, explica o nefrologista José Medina Pestana.

A Associação Brasileira de Transplantados fez, esta semana, um levantamento com pacientes de todo o país e descobriu que em sete estados há falta de pelo menos um dos três medicamentos principais contra rejeição, o micofenolato, o tacrolimo e o everolimo. Só no estado de São Paulo, vivem 40% dos transplantados.

Um produtor do JN entrou na fila de uma das farmácias de alto custo de São Paulo. A atendente disse que não havia o micofenolato no estoque. A funcionária pergunta para uma colega se há previsão de entrega.

Como são muito caros, há mais de 20 anos o Ministério da Saúde compra e distribui os medicamentos gratuitamente. Quem faz a entrega aos pacientes são as Secretarias estaduais da Saúde.

Questionado pelo Jornal Nacional, o ministério respondeu por e-mail que não há falta de micofenolato e tacrolimo nos estados e que, até esta semana, o ministério não foi oficialmente notificado pelas secretarias estaduais da falta dos medicamentos.

Mas o secretário-adjunto da Secretaria de Saúde de São Paulo, Eduardo Ribeiro Adriano, mostrou um dos alertas feitos ao ministério no dia 21 de setembro.

São Paulo tinha pedido 8,2 milhões de comprimidos do tacrolimo para o terceiro trimestre. Recebeu 3,5 milhões.

Para o quarto trimestre, a demanda era praticamente a mesma. Mas, até aquela data, nada tinha sido entregue.

“O ministério simplesmente afirma que há comprimidos no estoque do governo do estado de São Paulo. Eu poderia aqui claramente desafiar o Ministério da Saúde a comprovar essa informação, uma vez que a situação do estoque hoje é absolutamente crítica”, afirmou o secretário-adjunto.

O JN voltou a questionar o Ministério da Saúde, que repetiu a resposta, a de que nunca foi alertado pelos estados sobre a falta de medicamentos.

A Secretaria de Saúde de Minas Gerais confirmou que as entregas do tacrolimo têm sido feitas de forma parcelada, e que falta receber grande parte do pedido. Segundo a secretaria, o ministério não deu data para concluir o fornecimento

Para evitar o pior, dona Dorca pediu ajuda a um grupo de renais crônicos na internet e conseguiu micofenolato só para mais um mês.