2017-08-29 13:00:08
Um novo estudo sugere que o uso de remédios anti-inflamatórios pode reduzir o risco de ataques cardíacos e derrames.
Segundo os autores do trabalho, trata-se do maior avanço no tratamento de doenças cardíacas desde o uso de estatinas para reduzir o colesterol.
O estudo foi encomendado pelo laboratório Novartis, que é fabricante da droga canaquinumabe, usada em testes com 10 mil pacientes cardíacos.
O uso da droga teria resultado em uma redução de 15% no risco de novos ataques cardíacos, mas há questões envolvendo custos, eficiência e efeitos colaterais – indivíduos que usaram o canaquinumabe tiveram maior risco de contrair infecções fatais, por exemplo.
No entanto, organizações como a British Heart Foundation (BHF), saudaram o estudo como algo “animador e aguardado, e que pode ajudar a salvar vidas”.
Artrite
Pacientes que sofreram ataques cardíacos frequentemente recebem estatinas e drogas para afinar o sangue como forma de tentar reduzir o risco de novos incidentes.
No estudo da Novartis, porém, 10 mil pacientes que tinham sofrido ataques foram tratados com o anti-inflamatório uma vez a cada três meses.
Indivíduos de até 40 países foram monitorados por até quatro anos, e os pesquisadores constataram reduções no risco de ataques e derrames “muito maiores” que em pacientes tratados apenas com estatinas.
No entanto, os pesquisadores, que apresentaram os resultados no fim de semana durante em um congresso de cardiologia na Espanha, também constataram uma “incidência significativamente mais alta” de infecções fatais entre os pacientes que usaram o canaquinumabe.
O remédio foi criado inicialmente para tratar pacientes com artrite reumática.
Inflamações e problemas cardíacos
Ataques cardíacos ocorrem quando o fluxo de sangue para o coração é interrompido.
Para alguns especialistas, há uma possível ligação com inflamações em certos vasos sanguíneos. Mas os autores do estudo da Novartis argumentam que este link jamais tinha sido comprovado em humanos.
“Pela primeira vez conseguimos mostrar que a redução de inflamações, independentemente do colesterol, reduz o risco cardiovascular. É um marco em uma longa jornada”, diz Paul Ridker, da escola de medicina de Harvard e principal autor do estudo.
Ridker diz que o experimento terá amplos desdobramentos no que chama de “terceira era da cardiologia preventiva”.
“Na primeira, reconhecemos a importância de uma dieta e de não fumar. Na segunda, vimos o incrível valor de drogas como as estatinas. Agora, estamos abrindo a porta para uma terceira”, afirma.
O médico diz ainda que os estudos mostraram a possibilidade de retardar o avanço de determinados tipos de câncer, mas que são necessárias mais pesquisas.
‘Barganha’
No entanto, o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Stanford, Robert Harrington, fez um alerta em um editorial publicado na revista especializada New England Journal of Medicine.
Para ele, os efeitos dos anti-inflamatórios podem ser “modestos”, e os benefícios clínicos do canaquinumabe “não justificam seu uso no dia a dia até que se saiba mais sobre eficácia e efeitos colaterais”.
Harrington também fez alusão ao preço do medicamento – um ano de tratamento com o canaquinumabe no Reino Unido, por exemplo, custa o equivalente a mais de R$ 160 mil anuais por paciente, centenas de vezes mais caro que o uso de estatinas.
Mas há quem defenda o anti-inflamatório como uma esperança para pacientes com risco de ataques cardíacos e para quem as estatinas não são suficientes.
“O estudo sugere que anti-inflamatórios podem ser combinados com estatinas no tratamento de sobreviventes de ataques cardíacos para reduzir os riscos de outros ataques”, disse Jeremy Pearson, diretor-médico da BHF.